quarta-feira, 3 de maio de 2017

Breaking News: incendiários reformados dizem que, sem fumo, se respira melhor em Portugal

Sérgio Barreto Costa

A conversão de São Paulo, Caravaggio, 1600
Um dos maiores motivos de orgulho dos apoiantes do governo das esquerdas é a acalmia generalizada da sociedade portuguesa desde a tomada de posse de António Costa. E essa satisfação é curiosa na medida em que a principal ocupação de muitas dessas pessoas num passado próximo era precisamente a de agitar de modo generalizado a sociedade portuguesa!

Estamos por isso a falar de guerrilheiros que apreciam e elogiam a paz, mesmo quando essa paz é a simples consequência de terem dado por terminadas as suas próprias atividades de guerrilha. Apesar de parecer estranho, e até, à primeira vista, revelador de alguma desfaçatez, devemos ter uma certa condescendência na análise. Estes cidadãos, afinal de contas, sacrificaram-se pessoalmente de cada vez que, com os seus berros, fomentaram a berraria dos outros. São como aqueles pais, que depois de assentarem duas valentes palmadas no rabo do miúdo, lhe dizem com voz angustiada “doeu-me mais a mim do que a ti”.

Não sei os motivos que despertaram nos ex-agitadores esta súbita paixão pelo sossego, mas, tal como qualquer comentador ou articulista que se preze, não vai ser a ignorância que me vai impedir de discorrer largamente pelo tema. Uma das hipóteses é estarmos na presença de uma conversão: a caminho de Damasco, os combatentes da esquerda progressista viram uma luz, caíram dos cavalos, e ouviram uma voz divina que lhes pediu para baixarem o volume. É verdade que não consta que o perseguidor de cristãos Saulo, depois de se transformar no cristão Paulo, tenha começado a gabar-se da “descrispação” que trouxe ao Médio Oriente. No entanto, esta é uma explicação possível e sugere-se, à cautela, o registo da palavra pocialista.

Também se pode dar o caso de todo este silêncio ser uma mera consequência da falta de razões para protestar. Ainda na semana passada foi divulgado pela imprensa que vários concelhos do país vão deixar de ter ambulâncias do INEM durante a noite, um claro sinal de que o investimento público no Estado Social tem sido de tal amplitude que o Governo já consegue garantir que nenhum dos habitantes daquelas áreas geográficas irá ficar doente entre a meia-noite e as oito da manhã. Mais umas semanas de reforços orçamentais e a medida poderá ser alargada a todo país; mais uns meses e as ambulâncias deixarão igualmente de ser necessárias durante o dia. E nessa altura, sem as incomodativas sirenes, a tranquilidade da pátria será ainda mais profunda. 
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias, 3-5-2017

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