José Manuel Fernandes
Macron tem muitas virtudes, mas não tem nem
o programa reformista nem a base de apoio necessária para ser o salvador da
França - e da Europa. É bom baixarmos as expectativas para não termos
desilusões
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Inri Cristo |
Só se houver um cataclismo
Emmanuel Macron não será o próximo Presidente da França. E só se houver um
milagre é que a sua eleição resolverá os problemas da França e reverterá a
ascensão sustentada da revolta populista.
Segui com atenção o debate
Macron/Le Pen e, ao contrário da maioria, saí de lá menos entusiasmado com o
candidato centrista do que estava antes. É verdade: ele resistiu bem aos
ataques furiosos da candidata da Frente Nacional. É verdade: ele foi o único a
apresentar lampejos de um programa político, mesmo no ambiente quase inaudível
daquele combate de boxe e troca de insultos. É verdade: ele não abdicou de
defender a integração europeia e o comércio internacional nem cedeu à
facilidade de prometer a reversão das suas reformas. Tudo isso é verdade – mas
também é verdade que não me escaparam os tiques próprios da arrogância da elite
parisiense, esse clube de insiders que vive num mundo à parte de que fazem
parte políticos, altos funcionários, chefes de empresa e, claro está, muitos
jornalistas. Esse clube que olha de alto para o resto da França e – também –
para o resto do mundo.
Mas não serão estes defeitos
de Macron o seu principal problema – o seu principal problema é que ele é, em
parte, uma mentira e, ao mesmo tempo, a França que sai destas eleições é um
país ainda mais dividido, confuso e difícil de governar.
A parte de mentira de Macron é
que ele não é tão outsider como se apresenta. Nem está tão distante de Hollande
como passa a vida a repetir (há mesmo quem defenda que era o “candidato
secreto” do atual Presidente). Tal como é parte da sua mentira a relativa
ambiguidade do seu programa eleitoral. Promete, por exemplo, a consolidação
orçamental (indispensável no segundo país da União Europeia onde o Estado
consome a maior fatia de toda a riqueza nacional, 57% em 2015) mas não explica
como a alcançará, ao contrário do que fazia, por exemplo, François Fillon.
Garante serem necessárias reformas para tornar a economia francesa mais
competitiva, mas também não as concretiza devidamente, falemos da segurança
social (num país onde a idade da reforma está ainda nos 62 anos) ou das leis
laborais (não retomou o seu projeto de acabar com a lei das 35 horas).
É verdade que Emmanuel Macron
é (ou parece ser) mais liberal do que a maioria dos políticos franceses de
esquerda ou de direita, e isso será sempre um bom começo. Mas também é verdade
que Macron defende (ou pelo menos defendeu em entrevistas a órgãos de
informação estrangeiros) ainda mais integração europeia e mais “governo
europeu”, o que nas atuais circunstâncias significa apoiar medidas iliberais de
transferência de poderes para entidades supranacionais não submetidas a um
verdadeiro escrutínio democrático.
Mas há mais, e esse mais
tornou-se ainda mais evidente nos últimos dias, já depois do debate: Macron
começa a ser visto por muita gente, em França mas sobretudo fora dela, como o
messias que vai salvar não só o seu país da senhora Le Pen, e de vez, como o
Velho Continente do populismo. Não creio sinceramente que o homem que vi
naquele tenso debate esteja à altura dessa quimera. Mais depressa antecipo uma
desilusão como a que tantos sentiram com François Hollande quando este
abandonou todas as suas promessas de campanha. Ou um choque, como tantos
viveram quando perceberam a distância entre o voluntarismo político de Sarkozy
e o seu oportunismo errático.
E depois há a França. Macron
não vai ser eleito por aquilo que representa, mas porque a maioria dos
franceses continua a não querer uma Le Pen no Palácio do Eliseu. Macron nem
sequer será eleito pelo tipo de “frente republicana” que em 2002 levou aos ombros
Jacques Chirac no seu confronto com Le Pen pai. Esse sobressalto não aconteceu,
nem acontecerá até domingo. No debate Macron fez tudo para colar a filha ao
pai, para tentar convencer os franceses que nada separa a Frente Nacional do
passado da forma que Marine hoje dirige, mas esse esforço foi dos menos
conseguidos. E percebe-se porquê: Marine fala hoje para muito mais franceses do
que falava o seu pai. Quem ainda não percebeu isso deve ler a reportagem de
João Almeida Dias para compreender porque foi nela que votou a maioria dos
operários franceses (43% logo na primeira volta).
Sobretudo Marine Le Pen faz
hoje o discurso que Hollande fez há cinco anos e em que Mélenchon (e Hamon)
apostaram na primeira volta. Num país onde não se pode entrar numa livraria sem
tropeçar em montanhas de livros a criticar a mundialização e o ultra
liberalismo, em que é também essa a linguagem dominante em boa parte dos órgãos
de informação e a muleta dos políticos em apuros, Marine passa mais depressa
por “socialista” do que o ex-governante socialista. E mesmo que não chegue –
felizmente – para ser eleita, é com essa linguagem que os franceses mais
depressa se identificam.
Macron terá assim dois
problemas potencialmente irresolúveis pela frente. O primeiro é eleger uma maioria
nas eleições parlamentares de Junho, cumprindo a tradição da V República em que
o Presidente governa com o apoio de um parlamento da mesma cor política (os
períodos de coabitação foram sempre curtos e turbulentos). Tendo como único
apoio um movimento, o seu Em Marche!, o futuro Presidente terá muito mais
dificuldade do que os seus antecessores a fazer eleger a maioria de que
necessita, devendo ser obrigado a acordos parlamentares.
O segundo grande problema de
Macron é romper com os hábitos de um país que não sabe fazer reformas, só sabe
fazer revoluções. É bom não esquecer, por exemplo, que o último grande esforço
para reformar o Estado e a segurança social foi em 1995 – há mais de 20 anos –
e que, apesar de promovido por um Presidente recém-eleito (Jacques Chirac) e
uma maioria que lhe era fiel (a dos republicanos, faleceu na rua, derrubado por
manifestações e greves sem fim. Tal como é essencial não esquecer que, na
primeira volta destas eleições, quase metade dos franceses votou em candidatos
que se manifestaram contra o euro ou mesmo contra a União Europeia.
A campanha de Macron, a forma
como decorreu o debate, a percepção de que será eleito “por defeito” e sem
suscitar qualquer entusiasmo à maioria dos franceses (bem sei que muitas vezes
por más razões), não permitem antever, de forma realista, que este tenha
mandato para promover as profundas reformas de que a França necessita. Sem elas
a França será cada vez mais “o homem doente da Europa”, como de resto já notou
Rui Ramos.
Às vezes vejo comparar a
ascensão de Emmanuel Macron, com a sua juventude e a sua aparente frescura, à
ascensão de outros políticos jovens e fotogénicos, como John F. Kennedy ou
Barack Obama. Tomam isso como um cumprimento, eu tomo como um aviso: nenhum dos
dois esteve à altura das expectativas que criou. Pior: ambos não o conseguiram
mesmo tendo um nível de adesão popular que Macron não tem.
É verdade: conseguiu fazer
frente, no debate de quarta-feira, a uma intratável Marine Le Pen. Mas ninguém
que tenha visto o debate pode dizer que ele fez sonhar ou que foi o rosto da
esperança. Por isso, realisticamente, prefiro baixar as minhas expectativas –
não creio que saia das eleições de domingo o novo messias que já vejo por aí
anunciado. Mas já me darei por satisfeito por, mais uma vez, “o centro ter
aguentado”.
PORQUE TODO OS "COMENTARISTAS" POLÍTICOS DA ESQUERDALHA MALDITA QUEREM SABER O "PROGRAMA POLÍTICO DE UM CANDIDATO.
ResponderExcluirPhoda-se o programa ou agenda política do candidato, suas alianças ou indicações ministeriais.
Um candidato deve ter PROGRAMAS ECONÔMICOS E SOCIAIS O RESTO É COMPLEMENTAR.
DIANTE DISSO MARINE LE PEN TEM UM PROGRAMA ANTIGLOBALIZANTE E ISSO BASTA COMO MELHOR CANDIDATA.
MACRON, O DEGENERADO CAPITALISTA CASADO COM UMA VOVÓ COM 24 ANOS MAIS VELHA DO QUE ELE!!!UM BOM MERDEIRO MASTURBADOR!
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