segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Notas sobre um desastre eleitoral da direita

Alexandre Mota

Começo por definir em termos latos aquilo que entendo por direita para efeitos deste texto. É de direita todo o cidadão que entende que o motor da economia é a iniciativa privada. Por sua vez, é de esquerda todo o cidadão que entende que cabe ao estado (à política) mandar na economia. Nestes termos, o PSD, o CDS, a IL e o Chega são de direita. Ora, estes partidos vão ser representados por 86 ou 87 deputados.

Não são basicamente os mesmos resultados de há quatro anos, conforme disse Rui Rio; nem sequer é rigoroso comparar com as autárquicas onde lhe dá jeito a comparação, isto é, em concelhos como Lisboa e Porto onde fenómenos distintos afundaram o PSD nas últimas eleições. Em suma, a direita perde, embora se salve do desastre que seria ficar com menos de 1/3 dos deputados na AR.

Dentro da direita as coisas mudaram.

O PSD mantém-se claramente como partido liderante, mas não há dúvidas que repetiu grosso modo os maus resultados de Ferreira Leite (2009) e Santana (2005). Há quem diga que o reforço de liderança da direita por parte do PSD prova que é ao centro que a coisa se resolve. Não contesto que o eleitorado do centro é fundamental para ganhar uma eleição, mas isso não quer dizer que o partido não reafirme os valores de direita que estão na sua matriz e que, sobretudo, são partilhados pela esmagadora maioria do seu eleitorado atual e potencial. Este equívoco estratégico, que persiste em Rui Rio, transformá-lo-á apenas num “PS com dê” e não num partido federador do centro e da direita.

O CDS afundou, prejudicado pelo voto útil em Rui Rio e pela emergência de novos partidos como a IL e Chega. Cristas demitiu-se, obviamente.

A IL teve um desempenho fantástico. Uma análise mais fina por concelho e freguesia permite ver votações muito interessantes para um estreante e promissoras para o futuro eleitoral. Para já, parece-me ser um partido fundamentalmente urbano, em contraste com o Chega que me parece ser sociologicamente suburbano.

Ao contrário de Lisboa, no Porto a IL foi prejudicada pelo prestígio de Rio (o PSD ganhou no concelho do Porto – e até me pareceu que Rio está a comentar isso e não o total nacional), facto que também afundou o CDS (elegeu só um deputado) e não permitiu eleger o grande responsável por este resultado, o Carlos Guimarães Pinto.

Por último, queria deixar uma saudação especial à Madame Marques, que fez parte do espontâneo movimento liberal dos blogues e redes sociais que pavimentou o caminho para o surgimento de um partido como a IL, mas que, devido a problemas de saúde mental, não pode saborear devidamente esta vitória. Ficam aqui (e ficam bem) um grande beijinho e desejos de melhoras.
Título e Texto: Alexandre Mota, Blasfémias, 7-10-2019

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