sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Passos Coelho, a figura da década

João Gonçalves

Por cá, isto começou e terminou com o PS a pastorear-nos em duas condições políticas distintas.

Em 2010, Sócrates reinava com menos 500 mil votos dos obtidos aquando da maioria absoluta de 2005. O seu governo minoritário, tal como o absoluto a partir de determinada altura, não revelou capacidade política para lidar com a crise financeira e económica internacional. E não apenas foi rebocado por ela como, internamente, colocou o país encostado à parede com a espada enfiada na garganta.

Para evitar a bancarrota, na primavera de 2011, já em gestão depois de ter pedido a demissão, o Governo de Sócrates pediu auxílio externo, que se traduziu num "plano de assistência económica e financeira" (PAEF) garantido pela UE, pelo BCE e pelo FMI.

Perdidas as eleições antecipadas desse ano, o PAEF acabou por ser aplicado pelo Governo de coligação PSD-CDS, o qual, erradamente, não obrigou o PS, no Parlamento, a vincular-se ao seu cumprimento independentemente do programa do Governo.

Este "interregno" entre meados de 2011 e Novembro de 2015, na prática, de salvação nacional, permitiu astutamente ao PS fazer tábua-rasa das suas próprias calamidades e aparecer a seguir como o novo "pai" das Esquerdas unidas, constituindo pela primeira vez um Governo ao arrepio do resultado eleitoral, que cumpriu uma legislatura inteira apoiado nas Esquerdas parlamentares, a extrema e a comunista.

Constituiu, sem dúvida, o facto político da década, sem que, todavia, isso se tivesse traduzido na glorificação eleitoral maioritária do seu principal obreiro, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro.

Nada, porém, teria sido possível - Centeno e a sua "obra" de reposições, recuperações, cativações e excedentes - se, com uma enorme dignidade política e uma austeridade temerária, mas indispensável, o PAEF, causado pelo mesmo PS de que falo, não tivesse sido finalizado no prazo acordado. E se os indicadores económicos e financeiros não estivessem a dar os primeiros sinais de incremento positivo desde 2014, incluindo o investimento público.

À segunda, o PS herdou nesta década um país diferente, para melhor, e uma sociedade mais segura e afirmativa para o melhor e para o pior. Porque no "interregno" sem PS, Portugal foi tratado como um país adulto, confrontado com as suas responsabilidades, deveres e direitos, e não como um permanente jardim-escola de flores e de facilidades ilimitadas. Tal basta-me para definir, como se fosse preciso, a única figura nacional, com autoridade política, desta década acabada: Pedro Passos Coelho.


Bom 2020.
Título e Texto: João Gonçalves, Jurista, Jornal de Notícias, 30-12-2019

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