O cerco e circo montados contra a
candidatura de André Ventura às presidenciais de 2021 obrigam-me a uma resposta
fundamentada, pública e em nada ambígua.
Gabriel Mithá Ribeiro
Votarei André Ventura por
razões morais.
A moral constitui o primado da
ação e não vive em cima do muro. Ou decidimos estar de um lado ou do outro. Do
lado certo ou do lado errado; do justo ou do injusto; do bem ou do mal; da
autorresponsabilidade ou da vitimização. Sem tal preocupação, as escolhas
políticas perdem a essência do seu sentido. Se a transição dos valores morais
do abstrato para a vida prática implica interpretações subjetivas, até
contraditórias sobre um mesmo objeto, muito evidente na política, ninguém de
direita ou de esquerda dispensa o primado moral.
Acontece que, no campo da
direita no ativo em Portugal (para excluir Pedro Passos Coelho), André Ventura [foto] é o único que não se equilibra em cima do muro. A haver ambiguidades, as mesmas
jamais se situam a nível moral, apenas num nível (muito) inferior, o das
práticas políticas. Portanto, André Ventura parte em vantagem no seu campo
político. Só quando não acreditamos nos valores morais que nos guiam é que
temos dúvidas sobre a virtude das nossas escolhas e, nesse caso, policiamo-nos
a nós mesmos para sermos moderados ou ponderados.
Daí passarmos a exigir, à
cabeça, nunca sermos da direita (o campo moral), mas no máximo
da direita-moderada ou do centro-direita (o
campo das práticas). Fazendo uma inferência, hoje os portugueses não
podem admitir ser moralmente portugueses, no máximo admite-se que
sejam politicamente portugueses-moderados ou centro-portugueses.
Trata-se de uma subversão patológica de certas identidades coletivas.
Para clarificar, a inteligência,
a beleza, a santidade ou a saúde nunca
devem ser ambições sociais moderadas pelo seu valor intrínseco. Imagine o
contrário de tudo isso. É a definição substantiva com que uma pessoa moralmente
de direita rotula todas as pessoas de esquerda, e vice-versa. Então, por que
razões não serei radicalmente de direita?! Por que razões a direita se recusa a
fazer à esquerda aquilo que a esquerda, há muito, já fez à
direita?
Aprenda-se com Olavo de
Carvalho. De resto, para elucidar, escudar-se no racismo para
qualquer demarcação em relação a André Ventura é uma atitude alimentada pelo
ativismo idiota, o dos que transportam um cadáver do passado para o presente, e
pelos idiotas passivos, os que toleram a trapaça.
O primeiro-ministro e a
ministra da Justiça portugueses, aos quais sobrava e bastava o que fazem há
décadas e meia década, respetivamente, já foram corridos? O Marega já regressou
milionário ao seu paraíso africano? E, claro, os ciganos constituem, sem
dúvida, uma comunidade exemplar!
Votarei André Ventura
contra a espiral do silêncio.
A tradição leninista inaugurou
e legou a estratégia de atacar o adversário direitista por
todos os meios e mais alguns, recorrendo sem hesitações à manipulação e à
mentira para reverter para o próprio adversário as culpas da violência que o
atinge. É desse modo que a esquerda explora a dignidade dos demais concidadãos
ultrapassando todos os limites, uma vez que o fundo moral judaico-cristão dos
últimos se encarrega de retirar aos próprios a vontade de lutar pelo que
acreditam e, inclusive, a vontade de argumentar em sua própria defesa, mesmo
quando absolutamente conscientes da maldade perversa definidora de qualquer sujeito
de esquerda.
Resta ao sujeito moral da
tradição judaico-cristã submeter-se à espiral do silêncio, uma vez
que mantém a esperança da redenção no dia em que se juntar ao Criador. Acontece
que a democracia existe para a vida terrena. Olavo de Carvalho, sempre ele,
explica essa tortura auto infligida que escandalosamente entregou o domínio das
sociedades à esquerda.
Em Portugal, o CDS-PP e, muito
em especial, o PSD de Rui Rio cumprem o guião à risca. O poder nas suas mãos
serve de exímio silenciador de sensibilidades morais de metade dos portugueses,
atitude que faz dessa direita não-combativa a coveira da democracia, a alma
gémea da esquerda hegemónica.
No topo da pirâmide da tortura
leninista da espiral do silêncio está o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa. A vida vivida não é determinada pelas
intenções dos grandes protagonistas políticos, antes pelas
consequências efetivas das suas ações que, muitas vezes, são paradoxais em
relação às mais nobres intenções.
André Ventura é novidade por
ter iniciado o combate à espiral do silêncio. Muito mais do que
política, essa é uma questão social da maior relevância. Quem representa tal
papel merece votos de confiança depositados nas urnas, selos do contrato
social.
Votarei André Ventura pelo
civismo inteligente e responsável.
Numa sociedade sã, ter-se-iam
discutido com frontalidade as razões morais e intelectuais de Portugal não se
conseguir libertar da condição de um dos países mais pobres da Europa, situação
evidente há pelo menos duas décadas. Para que tal tivesse sido ou venha a ser
possível, as discussões institucionais e públicas não deveriam partir de meros
artigos de imprensa, debates nas rádios e televisões, postagens na internet, do
disse-que-disse efémero.
Para ser sólido e sustentável
no tempo, o civismo deve partir e centrar-se em livros cujos autores assumam
posições cívicas e políticas sustentadas, a forma de clarificar e tornar
férteis os debates institucionais e públicos.
Sem a abertura do espaço
mediático à centralidade do livro, as sociedades limitam-se a abortos
intelectuais terceiro-mundistas. Por sucessivas experiências próprias entre
2003 e 2019, esse é o retrato do que se chama civismo em
Portugal. O ódio preconceituoso ao livro cujo autor e conteúdo caiam fora da
cartilha mental autorizada, justamente o livro que instiga o debate público
qualificado, transformou toda a formidável porcaria intelectual produzida pela
esquerda numa espécie de catecismo bíblico do regime. Da esquerda à direita
todos lhe são subservientes.
Praticamente ninguém se atreve
a criticar obras medíocres de José Saramago, Eduardo Lourenço ou José Gil,
entre tantos outros, incluindo músicos ou artistas que monopolizam a sensibilidade
social do calibre de Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, Virgílio
Castelo, Pedro Abrunhosa e até um que quase desconheço, um tal Dino D’Santiago,
que virou luminosidade intelectual ritmada.
Exemplos de cabeças que
dominam o panorama nacional através da exímia arte do discurso cuja qualidade é
diretamente proporcional à ausência de contatos minimamente razoáveis com a
complexidade da vida vivida. São, por isso, cabeças instigadoras da pior
patologia mental socialmente transmissível, a que cruza, por um lado, a
incapacidade de lidar com ideias contraditórias ambas válidas mesmo que de sentidos
diferentes (por exemplo, os direitos serem consequências diretas do cumprimento
de deveres) com, por outro lado, um défice crónico agravado da parte da memória
social que não lhes agrada ou, em sentido contrário, da hiperbolização da parte
que lhes agrada. De forma subtil ou ostensiva, bela ou chã de Saramago a
D’Santiago tudo se resume a isto: Reis-maus-I-República-boa-Salazar-mau-25-de-Abril-bom-Ventura-mau-Vem-aí-o-fim-do-mundo.
Em rigor, são cabeças
histéricas porque pensam e ensinam a pensar apenas no plano dos desejos e nunca
a partir do que, de facto, existiu ou existe, do domínio do possível. A tais
cabeças se devem sociedades imbecilizadas e, por isso, pobres. André Ventura,
como qualquer agente renovador, deveria ter sido o ponto de chegada de um
amplo, intenso, frontal e prolongado debate intelectual e cívico livre. Mas nem
na iminência da mudança política as elites portuguesas se predispõem a admitir
que a sociedade possa pensar em liberdade, um bocadito que
seja.
São elites bem-pensantes que
espelham o falhanço de toda uma geração incapaz de gerar, em quatro décadas, um
único intelectual, muito menos um único sábio com capacidade para instigar, na
opinião pública portuguesa, uma tradição mínima de civismo intelectual. Para
agravar a desgraça, nos meios universitários a situação é bem pior.
Votarei André Ventura
contra a sociedade da mentira institucionalizada.
Cinismo é palavra
mansa. É mesmo mentira. É contra esta que André Ventura veio
municiar sensibilidades sociais até agora manietadas. Quem pegar nos manuais de
história do ensino básico e secundário – poderia ser de outra disciplina – não
necessita de grande esforço para detectar o que, na verdade, têm significado a
massificação da formação moral, cívica ou intelectual imposta pelo Estado.
No ensino do colonialismo (termo
a banir de qualquer conversa decente), matéria transversal à história e
identidade portuguesas, a seletividade na relação com a verdade – quero dizer,
a mentira – tem passado por forçar sucessivas gerações de alunos a ignorarem o
legado construtivo da colonização europeia, utilizando-os como cobaias na
fixação obsessiva apenas no que foi violento ou injusto.
A sala de aula é a fábrica
mental do desvio funcional depressivo da memória coletiva.
Como não existe descontinuidade entre indivíduo e coletivo, experimente o
leitor viver obcecado apenas com as desgraças e misérias da sua vida pretérita
e, depois, é contar os dias até começar a consumir antidepressivos, virar
alcoólico, toxicodependente, violento, miserável, prostituto mental (ou mais do
que isso), o pior que imagina. Claro, se não for rapidamente tratado.
Os donos atuais da memória
institucional impõem o mesmo na versão coletiva massificada, e sem qualquer
travão terapêutico há décadas. Veja-se ainda como os manuais escolares omitem o
genocídio comunista de Holodomor, na Ucrânia, ou o genocídio maoista chinês, um
antes e outro após o justo ensino aprofundado do nazismo, porém aqueles foram
bem mais mortíferos comparativamente ao último e em tempos de paz. Genocídio do
próprio povo indefeso em tempos de paz foi a moda inaugurada pelos regimes do
século XX com direito a proteção intelectual nas salas de aula, ao contrário
do horroroso Ocidente.
Experimente o leitor um outro
exercício: um governo que mais reduziu, ao longo da história, o
analfabetismo do seu povo, é bom ou mau? Um governo que pegou num
país em bancarrota e pô-lo a crescer economicamente como nunca desde que
existem estatísticas econômicas, é bom ou mau? Um governo que pegou
em territórios que eram pouco menos que matos e transformou-os nos territórios
mais prósperos das respetivas regiões, é bom ou mau? Tudo isso também
foi o salazarismo (1928-1968). Omiti-lo é mentir sobre o óbvio, e nada
justifica distinguir o ensino desse período da história do ensino do tempo do
Marquês de Pombal (1750-1777).
Se é vergonha ter sido
salazarista jamais será pelas razões referidas, antes pela repressão e
violência políticas. Porém, vergonha bem maior é ter sido comunista quando a
história fornece argumentos morais inequívocos para interditar o comunismo.
Sabe-se tudo isso há décadas e nada de sério se discutiu publicamente, nada de
substantivo se corrigiu enquanto se (de)formava a geração mais qualificada de
sempre. Uma classe política responsável por isso não tem de ser renovada?
Votarei André Ventura
porque civismo e coragem podem ser sinônimos.
A frontalidade de quem se
assume de direita, indispensável à saúde das democracias e corajosa quando
solitária, deixa sempre a esquerda aflita. A cada dia, nem a fidelíssima
comunicação social consegue continuar a disfarçar o impacto de André Ventura.
Será possível romper com a tirania mental mantendo as formalidades, hábitos,
vocabulário, leis e normas dos tiranos?
Arriscar ao nível da
linguagem, dos comportamentos ou das práticas no quadro moral em que se
acredita constitui a única possibilidade de regate da dignidade. André Ventura
representa justamente isso. Na avaliação da sua atuação, e por norma na
avaliação da vida, trocar o acessório pelo essencial é a arte dos idiotas.
Caro leitor, se comprovar com
contra-argumentos que estou errado, estarei disposto a rever a minha posição
sobre as eleições presidenciais de 2021.
Título e Texto: Gabriel
Mithá Ribeiro, Observador,
24-5-2020, 0h07
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O professor, com este excelente artigo, arregimentou, certamente, uns tantos eleitores para André Ventura.
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