Um profundo conhecedor do espírito russo, o escritor do século XIX Fyodor Dostoevsky, escreveu um dia que "enquanto um homem é livre, ele não ambiciona nada mais do que encontrar alguém para venerar". Este aparente paradoxo está claramente solucionado hoje na Rússia. Vladimir Putin, o seu partido e o seu Presidente, Dmitri Medvedev, hegemonizam a vida pública do país.
Falando em directo na televisão, Putin defendeu ontem que o ex-magnata Mikhail Khodorkovsky deve continuar preso e que a oposição liberal não é patriótica. Ele, no Governo, e Medvedev, na Presidência, velam para que tudo esteja em ordem num país onde apenas quatro partidos (a Rússia Unida, dois considerados próximos do Kremlin e os comunistas) estão representados no Parlamento, e onde ambos controlam, também, as alavancas do poder económico e mediático.
Após o caos e a incerteza da época de Boris Ieltsin, a Rússia recuperou a estabilidade interna e o sentido de influência internacional. E foi Putin a recuperar esta dimensão do orgulho nacional. Mas, como foi evidenciado pelas perguntas a que não respondeu ontem, aqueles objectivos foram conseguidos à custa do Estado de direito, da liberdade política e do aumento da corrupção. A continuada crise nestes aspectos da vida pública acabará por ter, ainda que a longo prazo, reflexos na estabilidade interna da Rússia e na sua projecção no plano mundial.
Regressando a Dostoevsky, os dirigentes russos não devem esquecer que aquilo que "é varrido da superfície da terra", ficará "abrigado sob a terra". Pronto a ressurgir.
Editorial, Diário de Notícias, 17-12-2010
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