quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fala o autor da petição "Chico, devolve o jabuti"

Fala, e muito bem!, o autor da petição. Vale a pena ler
Há muitas diferenças entre mim e “eles” — e não descarto, por decoro retórico, que “eles” possam ser melhores em alguma coisa. Em uma, com certeza, não são! Tenho leitores mais inteligentes. Anderson Santana, que fez a petição “Chico, devolve o jabuti”, depredada pelos petralhas fãs do sambista, manda-me a mensagem que segue, em português escorreito e impecável bom humor. Leiam. Volto em seguida.

Caro Reinaldo,
Isto não é um comentário, mas uma mensagem dirigida a você.
Realmente, criei a petição com um espírito de galhofa, ‘meio que’ para ressaltar o ridículo da coisa, com uma dose de humor. Já em várias oportunidades postei comentários ressaltando que o objetivo era mais marcar uma posição, promover uma discussão sobre a politização do processo de escolha, que nada mais é do que um exemplo entre tantos no mundo de hoje, especialmente no mundo das artes e/ou celebridades. Qualquer crônica hoje, seja literária, musical, de cinema, enfim, qualquer uma, padece da Síndrome do Faustão, programa em que todos os entrevistados são “o melhor do mundo, grande sujeito, exemplo de bom caráter, querido entre os colegas do meio etc”. Lá nunca se entrevista alguém com qualidades e defeitos, com dúvidas ou inseguranças, isto é, nenhum ser humano normal. Apenas gênios incontroversos, expoentes de sua arte, mesmo quando estreantes. O Edney Silvestre, que parece dar lições de cavalheirismo, mas se reconhece como estreante, lá seria comparado a um Cervantes, no mínimo. Mas estou divagando.

O fato é que você entendeu perfeitamente o espírito da coisa e assinou a petição, imbuído desse espírito. Mas fiquei chocado, quase estarrecido, com a fúria desencadeada pela petição. Me sinto mal ao ler as barbaridades que a petralhada escreve por lá, dirigidas a você, quando o alvo deveria ser a minha pessoa. Li até uma acusação de que eu não existo e seria apenas um pseudônimo seu. Mas já era de se esperar, afinal eles são o que são, e isso não é novidade para ninguém. Lamento apenas por ter, involuntariamente, causado um aumento no número de impropérios dirigidos à sua pessoa.
Infelizmente, o site não dá qualquer tipo de controle ao autor da petição sobre as “assinaturas” e seu conteúdo nem faz autenticação da veracidade do email utilizado, exceto se o próprio signatário assim o desejar. Não é como um blog, em que o autor pode exercer a moderação. Uma vez postada a petição, não tenho mais nenhuma interferência sobre o seu destino. Até já enviei uma consulta ao suporte, indagando se é possível (e como fazer) para dá-la como encerrada, ou coisa do gênero, mas ainda não obtive resposta.
Mais uma vez me apologizo com você, he, he, por eles estarem indulgindo tanto nos xingamentos…
Um abraço,
Anderson


Comento
Caro Anderson,
eu nunca fiz uma petição e pensava que o autor tivesse algum controle sobre o processo. O fato, meu caro, é que você criou um pequeno terremoto no mundo das “Artes & Celebridades”. Engraçado, não? Nessa área, vivíamos, ou vivemos, numa espécie de “totalitarismo buarquiano”: o sistema tenta caçar os recalcitrantes porque só sabe conviver com a unanimidade.
Quanto às agressões, fique frio. Como diria Padre Vieira, “pelo costume, quase não sente…” É da natureza da turma “indulgir” na lama… Fazem coisa muito pior. O fato é que a petição, com bem mais de 10 mil assinaturas honestas, teve um efeito devastador para “eles”, ainda que o seu objetivo, e o meu, fosse chamar a atenção para o ridículo da coisa.
Você ajudou a mudar o prêmio literário mais importante do país — ou selou a desmoralização, que já estava em curso. Não só isso: evidenciou o coronelismo intelectual vigente na área que, curiosamente, ainda pertence ao entulho autoritário, é herdeiro, pelo avesso, da ditadura. Premia-se o charme da “resistência” — a essa altura, eles já não lembram resistência a quê…
Um abraço do
Reinaldo Azevedo

O cantor, compositor e escritor Chico Buarque, que recebeu o prêmio Jabuti de melhor ficção do ano pelo livro "Leite Derramado". Foto: Karime Xavier/Folhapress

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