domingo, 12 de dezembro de 2010

Um desperdício abençoado


Se cortar é a palavra de ordem, dou um exemplo de possível desperdício: o Palácio de São Clemente, em Botafogo, residência do cônsul de Portugal no Rio de Janeiro. Nem consulado é, esse fica no Centro, e nem, claro, é embaixada, já foi mas a capital foi para Brasília há muito. Um palácio em zona nobre da cidade, na Rua de São Clemente, onde outrora os barões do café construíam os palacetes, sob o Corcovado. Palácio de 5800 m2, com palmeiras imperiais antes de chegar às colunas de pedra de lioz, cantaria, ferro forjado, painéis de azulejos pintados à mão, fonte de cerâmica no pátio interior, para residência de mero cônsul (ainda que com a desculpa de um ou outro espectáculo de flautista a tocar Heitor Villa-Lobos)?... Dois magníficos portões depois era a embaixada inglesa, também com palmeiras imperiais e colunatas, que foi despachada num negócio (cinco milhões de dólares, há 35 anos!) por o Rio ter deixado de ser capital - hoje é o Palácio da Cidade, da prefeitura carioca. Se cortar é a palavra de ordem, por que não mandar o cônsul para um hotel e empandeirar, por milhões, o Palácio de São Clemente? Eu digo: porque a economia, nem hoje, em crise, é tudo. O Palácio de São Clemente é montra da excelência de Portugal, fica no Rio, que é filho de portugueses e isso tem absolutamente de ser glorificado. Guardem-no e gastem-se nele os flautistas e fadistas que forem necessários.
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 11-12-2010 

Palácio São Clemente, foto: Rodolfo Valverde (?)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-