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Criação: Gon |
Não é o PR preocupado com a
Constituição que fala: é o criador do 'monstro'
Filipe Luís
A divisão entre portugueses
está na berlinda. Os políticos e dirigentes da sociedade civil, que tanto fazem
por dividir a sociedade entre exploradores e oprimidos, trabalhadores e
patrões, esquerdistas e reacionários, madeirenses e continentais, benfiquistas
e o resto do mundo, puxam agora do seu saco de lágrimas de crocodilo para
baterem no peito contra a tentativa governamental de "dividir os
portugueses" entre funcionários públicos e empregados do setor privado. E
tudo porque os próximos orçamentos de Estado cortam os subsídios de Natal e de
férias aos primeiros - sabendo-se, de antemão, que acabará por sobrar para os
segundos...
Cavaco Silva insurgiu-se
contra a quebra do princípio de equidade fiscal a que a Constituição obriga.
Mas não é o Presidente preocupado com as regras constitucionais que fala: é o
criador do "monstro", o mentor da progressão nas carreiras e o autor
dos célebres "direitos adquiridos". Para já, Cavaco cataloga de
"fiscal" uma medida que, tecnicamente, não é apresentada como tal.
Mas dando isso de barato... Vejamos onde está a iniquidade.
A esmagadora maioria, senão a
totalidade, dos 800 mil desempregados tem origem no setor privado e não no
setor público. As empresas privadas falidas fecham. Mas as do Estado mantêm-se
abertas, agravando o défice e a dívida, enquanto os seus trabalhadores
continuam a receber 14 meses, a tempo e horas. Por falar nisso: o setor privado
está crivado de salários em atraso. No setor público, há uns meses, houve uma
tempestade por causa de um atraso de um dia(!) no pagamento de vencimentos da
responsabilidade do Ministério da Defesa. O regime de reformas é muito mais
favorável na administração púbica, na idade e no salário, e os funcionários
dispõem de uma ADSE inexistente nos privados.O setor privado está há três anos
a efetuar muitos dos reajustamentos que só recentemente o setor público vem fazendo:
baixa de salários, negociação com perdas de regalias (folgas pagas por trabalho
em feriados, horas extraordinárias, etc.). Um doce, portanto, a quem provar que
existe equidade entre público e privado. Um doce algarvio, neste caso, para
Cavaco Silva.
A inevitável perda de
subsídios (que aí vem, sob a chantagem dos alternativos despedimentos...) vai
sacrificar muito mais os já indefesos trabalhadores do setor privado. Que,
diga-se de passagem, na prática, nem sequer podem fazer greve. Nem nisto há equidade
com o setor público...
2 Sem demagogia, as pensões
vitalícias para os antigos detentores de cargos políticos obedecem a um
princípio justo: trata-se de os compensar pela, hipoteticamente irrecuperável,
interrupção das carreiras privadas, durante o período em que serviram a causa pública.
Ora, a realidade é que, na quase totalidade dos casos, os ex-políticos
conseguiram, na atividade privada, depois de terem deixado os cargos,
colocações bem melhores e mais bem pagas do que anteriormente. Ou seja, o
motivo inicial da atribuição da pensão foi completamente pervertido. Apesar
disso, continuaram a auferir desse benefício, que o erário público suportou
alegremente. Em Portugal, o exercício da atividade política é uma catapulta
para altos voos na privada. Em vez de receberem uma pensão, estes cidadãos
deviam pagar um imposto.
Título e Texto: Filipe Luís,
revista Visão, nº 973, 27-10 a 02-11-2011
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