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A "Tomada da
Bastilha", no centro se vê a prisão de Jourdan de René de Bernard, marquês
de Laundry (1740-1789).
Quadro de Houël,Jean-Pierre-Louis-Laurent (1735-1813)
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Nuno Rogeiro
Tem-se falado, nalguns meios
selectos de Lisboa a Atenas, de uma saída da crise: a revolução. A revolução
assistida por magmas de civis, e a revolução conduzida por majores, ou, mais
picarescamente, generais.
Faz isto ainda sentido? Uma
primeira nota diz-nos que uma verdadeira revolução em Portugal se faria contra
todos os que, desde a última, construíram o Estado, o regime político e o
sistema de governo. Contra o "capitalismo", que lucrou pecaminosamente,
mas também contra o "socialismo" e o "comunismo", cujos
delírios, desastres e falhanços nos levaram, em linha recta, às mãos extremosas
dos banqueiros.
Um "levantamento
popular" colocaria na fila para o cadafalso (em sentido figurado,
espera-se) o CDS e o MFA, o PCP e o PSD, o PS e os restos da Junta de Salvação
Nacional, o Conselho da Revolução e muitos Conselhos de Administração.
Os que julgam agitar as
massas, pedindo revolta contra o "terrorismo do Estado", são
selectivos na indignação. Condenam as "mentiras" do actual PM, mas
silenciam as fábulas felizes que foram sendo servidas ao povo, nas últimas
décadas. Escandalizam-se com os cortes de subsídio dos funcionários, mas nunca
expuseram o caso dos que, desde 1974, são aposentados, reformados, subvencionados
ou beneficiários da política.
Os "revolucionários"
parciais que por aí se vêem precisam de explicar quando é que se indignaram com
o pagamento de reformas vitalícias a (todos) os ex-políticos. E deviam explicar
se pertencem ou pertenceram às mesmas categorias de subvencionados. E mais
precisavam de explicar se pertencem ou pertenceram a organizações que
sobrevivem com dotações do Estado.
A ruptura não é brincadeira.
Sá Carneiro disse um dia, respondendo às tiradas de um pretoriano de gabinete,
que não tinha medo das revoluções feitas com secretárias. Ou à secretária.
É evidente que, além de
exilados, clandestinos e de resistentes, muitas revoluções foram feitas por
f(r)acções, descontentes ou agravadas, do antigo pessoal dirigente. Veja-se o
caso de forças armadas e de polícia, amotinadas, que passam de instrumentos
repressivos dos regimes para instrumentos repressivos contra os mesmos. Mas
trata-se de transição. Se as revoltas não são meros enredos palacianos, ou
danças de cadeiras, os equilibristas acabam sempre por ser desmascarados.
Por outro lado, é certo que os
relógios andam para trás. Os que acham que não há revoluções nem golpes de
Estado possíveis, num clube de cavalheiros como a União Europeia, esquecem-se
que, olhando só para os países do Sul (Portugal, Itália, Espanha e Grécia),
eles já foram repúblicas ou monarquias parlamentares, e tornaram-se depois
ditaduras militares, ou regimes de partido único.
Para que o relógio volte
atrás, claro, é preciso um conjunto de circunstâncias. A crise social e a
miséria económica são duas delas.
Por outras palavras: a revolta
é real, a revolução não é improvável e o golpe de Estado não é impossível.
Mas a mudança que aí vier não
é a que alguns pensam. E sobretudo não será o que alguns desejam.
Título e Texto: Nuno Rogeiro,
revista Sábado, nº 392, 03 a 09-11-2011
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