Polêmica nos EUA
Especialistas desaconselham o
único exame de despiste do PSA. Dizem que, como não apura se o tumor é maligno,
há quem faça tratamentos dolorosos para nada
Nuno Castro
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Human prostate specific antigen (PSA/KLK3) with bound substrate from complex with antibody (PDB id: 2ZCK) |
Rudolph Giuliani, ex-mayor de Nova Iorque, está contra o
Estado federal americano. Neste caso, contra as conclusões de um estudo
governamental que desaconselha o único teste de despistagem do cancro da
próstata. O político, que sobreviveu à doença, não acredita que o fim do PSA,
um exame ao sangue que diz ter-lhe salvo a vida, seja a solução. "As
evidências demonstram que o teste não salva vidas", afirmou ao The New York Times Virgina Moyer,
presidente da task force que conduziu o estudo. A recomendação desta
especialista, divulgada agora pela CNN, foi clara: não façam o teste.
Como já acontecera quando a
mesma task force desaconselhou
mamografias em mulheres com menos de 50 anos, a mensagem foi mal recebida. Além
das críticas, chegaram aos jornais vários relatos de doentes com cancro na
próstata. David Berman, de Nova Iorque, escreveu uma carta ao The New York Times: "Tive poucas
sequelas do tratamento e, se não fosse o PSA, não sei qual seria o meu
destino." O porta-voz da Fundação do Cancro na Próstata, Dan Zenka, também
diz que aquela análise lhe salvou a vida.
Thomas Kirk, de uma associação
de apoio aos sobreviventes de cancro na próstata, lembra que não há
alternativa: "É o melhor teste que temos." Até porque sem o exame os
"doentes só saberão que têm cancro tarde de mais", afirma o
urologista Mark Habber.
O grupo liderado por Virgina
Moyer contrapõe números: é verdade que, em 2010, 32 mil americanos morreram com
cancro na próstata e 217 mil novos casos foram diagnosticados, mas apenas 3%
pode morrer da doença. "O PSA identifica as células cancerígenas, mas não
consegue dizer se o cancro é benigno ou se vai matar", explica Richard J.
Ablin, investigador que, em 1970, descobriu a PSA (Prostate-Specific Antigen, enzima produzida pela próstata
e cujos níveis são medidos neste teste). A task
force diz que o exame conduz a uma série de tratamentos dolorosos, que
podem ser desnecessários e deixar sequelas.
Todos os anos, 30 milhões de
americanos fazem o teste PSA. Entre 1986 e 2005, um milhão de homens foram
operados e fizeram terapia depois do teste. Cerca de cinco mil morreram, metade
passou a encontrar sangue no sémen e 200 a 300 mil a sofrer de impotência ou de
incontinência.
Outros números alimentam a
polémica. É que os testes PSA custam mais de 2 mil milhões de euros por ano, um
valor suportado em grande parte pelo Medicare, programa de seguros financiado
pelo Governo americano, e há quem veja uma motivação económica nas conclusões
da task force.
Título e Texto: Nuno Castro,
revista Sábado, nº 391, 27-10 a 02-11-2011
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