sábado, 5 de novembro de 2011

Vai fazer o teste da próstata?

Polêmica nos EUA
Especialistas desaconselham o único exame de despiste do PSA. Dizem que, como não apura se o tumor é maligno, há quem faça tratamentos dolorosos para nada
Nuno Castro
Human prostate specific antigen (PSA/KLK3) with bound substrate
from complex with antibody (PDB id: 2ZCK)
Rudolph Giuliani, ex-mayor de Nova Iorque, está contra o Estado federal americano. Neste caso, contra as conclusões de um estudo governamental que desaconselha o único teste de despistagem do cancro da próstata. O político, que sobreviveu à doença, não acredita que o fim do PSA, um exame ao sangue que diz ter-lhe salvo a vida, seja a solução. "As evidências demonstram que o teste não salva vidas", afirmou ao The New York Times Virgina Moyer, presidente da task force que conduziu o estudo. A recomendação desta especialista, divulgada agora pela CNN, foi clara: não façam o teste.
Como já acontecera quando a mesma task force desaconselhou mamografias em mulheres com menos de 50 anos, a mensagem foi mal recebida. Além das críticas, chegaram aos jornais vários relatos de doentes com cancro na próstata. David Berman, de Nova Iorque, escreveu uma carta ao The New York Times: "Tive poucas sequelas do tratamento e, se não fosse o PSA, não sei qual seria o meu destino." O porta-voz da Fundação do Cancro na Próstata, Dan Zenka, também diz que aquela análise lhe salvou a vida.
Thomas Kirk, de uma associação de apoio aos sobreviventes de cancro na próstata, lembra que não há alternativa: "É o melhor teste que temos." Até porque sem o exame os "doentes só saberão que têm cancro tarde de mais", afirma o urologista Mark Habber.
O grupo liderado por Virgina Moyer contrapõe números: é verdade que, em 2010, 32 mil americanos morreram com cancro na próstata e 217 mil novos casos foram diagnosticados, mas apenas 3% pode morrer da doença. "O PSA identifica as células cancerígenas, mas não consegue dizer se o cancro é benigno ou se vai matar", explica Richard J. Ablin, investigador que, em 1970, descobriu a PSA (Prostate-Specific Antigen, enzima produzida pela próstata e cujos níveis são medidos neste teste). A task force diz que o exame conduz a uma série de tratamentos dolorosos, que podem ser desnecessários e deixar sequelas.
Todos os anos, 30 milhões de americanos fazem o teste PSA. Entre 1986 e 2005, um milhão de homens foram operados e fizeram terapia depois do teste. Cerca de cinco mil morreram, metade passou a encontrar sangue no sémen e 200 a 300 mil a sofrer de impotência ou de incontinência.
Outros números alimentam a polémica. É que os testes PSA custam mais de 2 mil milhões de euros por ano, um valor suportado em grande parte pelo Medicare, programa de seguros financiado pelo Governo americano, e há quem veja uma motivação económica nas conclusões da task force.
Título e Texto: Nuno Castro, revista Sábado, nº 391, 27-10 a 02-11-2011

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