Futuro dos aposentados depende
de decisão do Supremo
Danielle Nogueira
O ex-comissário de bordo José
Manuel da Rocha da Costa tem 67 anos, dos quais 32 trabalhados na Varig. Ao
longo de todo esse tempo, alimentou o sonho de que teria um futuro tranquilo,
ao lado da mulher, Maria Irene, de 58 anos, também comissária e parceira de voo
na companhia aérea. Quando se aposentou, em 2002, os planos do casal eram
curtir o tempo livre viajando e ver o filho cursar uma faculdade. Tudo seguia
como planejado até 2006, quando foi decretada a intervenção judicial do Aerus,
fundo de pensão dos ex-funcionários da Varig e da Transbrasil.
![]() |
Foto: Laura Marques/O Globo, 02-07-2013 |
Desde então, as aposentadorias
de Costa e da esposa começaram a minguar. Hoje, ele recebe R$ 600 por mês,
quando deveria receber cerca de R$ 8 mil. Maria Irene ganha ainda menos: R$ 300
mensais, nem um décimo dos cerca de R$ 5 mil que deveria receber. Considerando
o INSS e a aposentadoria privada de ambos, a renda familiar é de R$ 4.400, dos
quais quase R$ 2 mil são consumidos com plano de saúde. O casal já se desfez do
apartamento de três quartos que tinha em Niterói e se mudou para um menor, de
dois quartos, na mesma cidade. O único filho, Adriano, de 21 anos, mora com
eles e paga sua faculdade.
Cansado de tanto esperar por
uma solução para o impasse do Aerus, Costa decidiu tomar uma decisão radical.
Desde 16h de segunda-feira, faz greve de fome no Santos Dumont. Toma banho com toalhas umedecidas na água
da torneira do aeroporto e bebe apenas água trazida por amigos. Com um
depoimento que tem circulado na internet, sensibilizou colegas, que têm se
revezado para fazer companhia a ele. A aparência cansada revela sua primeira
noite mal dormida em pleno saguão do aeroporto, de onde promete não arredar até
que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue os recursos de duas ações capazes
de mudar a situação dos aposentados do Aerus.
— Há seis meses, o ministro
Joaquim Barbosa está com o pedido de tutela antecipada para que a União assuma
o pagamento das aposentadorias. Em maio, uma outra ação (em que é pedido que a
União indenize a massa falida da Varig por causa do congelamento de tarifas
imposto entre 1985 e 1992) teve parecer favorável da ministra Cármen Lúcia, mas
o ministro pediu vistas do processo. Assim ninguém aguenta. Minha vida vai
parar onde?
Na sede do Aerus, 13 acampados
Segundo o Aerus, a indenização
devida pela União no caso da defasagem tarifária seria de cerca de R$ 7
bilhões, em valores atualizados. O interventor do fundo, José Pereira, diz que
está tentando uma audiência com o STF para hoje, numa tentativa de que as ações
sejam incluídas na pauta após o recesso do Judiciário. A pior situação é a dos
8.170 participantes do plano 1 da Varig, que só têm recursos para poucos meses.
Na sede do Aerus, no Centro do
Rio, 13 aposentados também estão acampados desde quinta-feira pela mesma razão
que Costa resolveu fazer a greve de fome. Dormem espalhados em colchonetes
pelos corredores e passam o tempo fazendo palavra cruzada. Entre eles está
Silvio Araújo, de 76 anos, ex-comandante da Transbrasil. Como recebe do fundo
apenas um terço do que deveria, passa o mês fazendo contas para conseguir pagar
o plano de saúde da família — sua mulher não trabalha e a filha é residente em
medicina — e os seis remédios que tem de tomar diariamente. Araújo é hipertenso
e diabético.
— Estou disposto a ficar aqui
indefinidamente — disse.
O grupo é liderado pelos
diretores do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Zoroastro Ferreira, de 82 anos,
ex-comandante da Varig, e Marcelo Bona. Eles dizem que o grupo só deixará o
local quando um representante do governo for enviado até lá para discutir o
futuro do Aerus.
Título e Texto: Danielle Nogueira, O Globo online, 02-07-2013
Relacionados:
"Nada é mais doloroso do que a dor da injustiça!"
O que acontece no caso Aerus, retrata muito bem a falta de respeito da união com o cidadão brasileiro.. Até mesmo aquele que deveria zelar para que a justiça fosse feita, cruza os braços!
ResponderExcluirMeu pai morreu doente e se sentindo humilhado, por se ver obrigado a se desfazer de tudo o que levou anos de trabalho pra construir, pra poder continuar sobrevivendo...
Daniella Berwanger
Meu ex marido paga pensão alimenticia para os meus 2 filhos pelo Aerus no valor de R$ 230,00. Como tudo nesse país é vergonhoso,porque dar atenção aos aposentados de uma empresa aérea que praticamente não aparece mais.
ResponderExcluirLamentável que tantas pessoas que depositaram não só seu dinheiro mas todo um sonho de uma aposentadoria tranquila, tenha que passar por tamanha humilhação....
Kcastro.