Luciano Ayan

Foi só a partir dos ataques
contundentes (e focados, o que é mais importante) de Aécio que o PT começou a
perder capacidade e tempo tendo que se defender, ao mesmo tempo em que gastava
esforços para desconstruir Marina. Caso Aécio tivesse escolhido a opção de
“bater nas duas” (alegada por pessoas que diziam que o mesmo nível de munição
deveria ser lançado contra ambas) até o fim, o resultado seria bem pior para o
tucano.
Alias, nem mesmo o PT, o
melhor partido em termos de guerra política, usou a opção de “bater nos dois”,
pois focou a maior parte dos ataques em seu inimigo mais perigoso, ou seja,
Marina. Se o PT é o melhor partido em termos de guerra política (e um dos
piores em termos de propostas políticas), isso já nos deveria sugerir a
existência de um motivo para que eles focassem principalmente em Marina, certo?
A verdade é que o esforço de
desconstrução de um adversário não é algo que se faça assim como decidir passar
em quatro lojas do shopping ao invés de três. Quer dizer, não é algo que se
faça sem que exista um trade-off.
Esse termo é usado
principalmente no ambiente corporativo, por que quando dizemos que de um time
de 20 pessoas, elas estarão divididas igualmente em 2 projetos temos uma linha
de base para avaliar o estado atual de nossas escolhas. Mas se escolhemos
atender a um terceiro projeto com a mesma quantidade de pessoas, então teremos
que fazer um trade-off. Talvez um projeto tenha que receber menor
prioridade. Ou ao menos um não será entregue na data.
Tanto na guerra formal como na
guerra política, sabemos que o esforço humano, assim como o tempo disponível
para se fazer algo, é um fator limitado. A partir do momento em que alguém
reparte seu tempo entre duas ações, existe um trade-off, com
consequências. Essa é mais uma das realidades da guerra política da qual não
podemos fugir.
Se sairmos do raciocínio mais
descompromissado (que costuma ignorar fatores como capacidade disponível,
esforço gasto e tempo utilizado) e partirmos para o raciocínio organizacional,
que é o mesmo utilizado para qualquer esforço de guerra (e assim deveria ser a
guerra política), fica mais fácil entender que “bater nas duas igualmente”
significou o seguinte, durante boa parte do mês de setembro: “não bater em
Dilma tanto quanto seria possível”.
É só estudarmos o histórico
das pesquisas para observar que durante um bom período de tempo, Marina Silva
caia, enquanto Dilma apenas aumentou, com Aécio permanecendo praticamente
estagnado. Foi esse o período onde ele “bateu nas duas”. (Aliás, em 24/9 havia
um levantamento mostrando que Aécio estava batendo mais em Marina do que Dilma)
Ultimamente, talvez inspirado
pelas ideias lúcidas de FHC (que sempre sugeriu centralização de fogo em
Dilma), Aécio deve ter pensado: “É preciso mudar algo”. A mudança ocorreu a
partir da última semana de setembro, o que se refletiu em sua vitória do debate da Record em 28/09, e uma vitória por goleada no debate da Globo em 02/10.
Inclusive neste último, Aécio
chegou a ser sutil em seus ataques à Marina (já tendo abandonado a malfadada
estratégia de “bater nas duas”), e ainda tomou algumas patadas. Marina provavelmente
estava traumatizada com a desconstrução que o PT fazia contra ela e pela mania
de Aécio se unir às críticas do partido (em um momento bizarro da fase focada
em “bater nas duas”, o PT chegou a usar uma ideia do mineiro em sua campanha).
A partir daí, o eleitor passou
a compreender Aécio finalmente como a alternativa para derrotar o PT. Melhor
ainda, o tucano deixou de irritar os eleitores de Marina (e esse sentimento o
prejudicou durante algum tempo), focando naquilo que o grande eleitorado anti-petista
quer: tirar Dilma e seus saqueadores do estado de lá.
Como diria o antigo ditado:
antes tarde do que nunca. A partir de agora, só vai “bater nas duas” quem
estiver fora de seu juízo perfeito.
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