Maria João Marques
Cada vez mais desconfio do contrário. Que o Islão
é uma religião amante da violência e dos maus tratos aos mais fracos, enquanto
a maioria dos muçulmanos é, essa sim, gente pacífica.
Comecemos pelo mantra politicamente correto. O
Islão é uma religião de paz e amor, que inspira a amizade, a entreajuda, a
clemência, a generosidade e mais umas quinhentas coisas cheias de flores e
querubins imaginários à sua volta. E depois há umas pessoas ruins, só por
triste acaso muçulmanas, que se entregam às mais variadas formas de violência,
num arco abrangente que vai de cotoveladas no nariz da amantíssima mulher até
ataques terroristas que ceifam civis, passando por escravizar sexualmente
mulheres ditas infiéis e decapitar voluntários de organizações humanitárias.
É assim, não é? Não é. Cada vez mais desconfio do
contrário. Que o Islão é uma religião amante da violência e dos maus tratos aos
mais fracos (desde logo, os não muçulmanos indefesos no meio de muçulmanos),
enquanto a maioria dos muçulmanos é, essa sim e sobretudo quando não
religiosamente atiçada, gente pacífica que não retira grande prazer de matar
desconhecidos ou violentar terceiros. (A natureza humana tem contas a prestar
de atos muito questionáveis, mas apesar de tudo a psicopatia não é um mal
generalizado.)
Nós é que no Ocidente, de tão histéricos que
ficamos com a necessidade de não merecermos os epítetos de racistas ou
intolerantes, teimamos em fingir que as religiões são todas moralmente
equivalentes. Peguemos na índia, por exemplo, onde há religiões para todos os
palatos. Temos os jainas – que não podem sequer ser agricultores para não
matarem os germes da terra – e temos os sikh – que são com frequência
guerreiros e propensos a pegar em armas para se defenderem do que veem como
ataques à sua religião. (Lembram-se de Indira Gandhi?) Só um tolo pode
pretender que os sikhs são tão pacíficos e respeitadores de todas as formas de
vida como os jainas.
Mas na iluminada Europa nada disso interessa. Os
casamentos com crianças sancionados pelo Islão não têm nada a ver com o facto
de Maomé se ter entregue a essa boa prática. O Corão recomenda decapitar infiéis e o ISIS é-lhe
obediente, mas que tem isso a ver com a religião muçulmana? Os clérigos
muçulmanos com frequência incitam à violência e ao ódio contra os ocidentais,
aplaudem ataques terroristas, usam as mesquitas e as madraças para
radicalizarem jovens e os tornarem em terroristas wannabe? Ora fica evidente
que qualquer religioso muçulmano só prega o afeto universal por toda a espécie
humana, animal e vegetal.
E foi certamente também por este azar
estranhamente reincidente de o Islão (paz e amor, etc., não esquecer nunca) ter
religiosos dados à violência que, quando surgiram as notícias das cotoveladas que o xeique Davir Munir terá dado à sua
mulher, logo vi pelo twitter lembretes de que a violência doméstica não escolhe
religião. E é verdade, não escolhe. Mas também é verdade que o prestimoso Islão
aprova que um marido dê um corretivo à esposa endiabrada se esta for
desobediente e o marido já a tiver avisado da sua má conduta por duas vezes
(que magnânimos).
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David Munir (à dir.) e Nazira
estão casados desde janeiro de 2014. Vivem na Mesquita de Lisboa, onde ocorreu
a agressão. Foto: DR/Correio da Manhã
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Trago este caso de David Munir – que passa por
moderado islâmico (e o drama é que deve ser mesmo moderado) – e as reações que
fui apanhando porque é o costume por cá quando se trata de amarrotar e rasgar
em pedacinhos os direitos humanos das mulheres das comunidades muçulmanas que
residem na Europa. (Que é um daqueles assuntos que me põem sempre em modo
sikh.)
Os jornais praticamente não noticiaram que a
mulher do mais conhecido religioso muçulmano do país chegou às urgências do
hospital com o rosto todo ensanguentado e queixando-se do marido. Já o xeique
afirmou que a mulher é bipolar (vá lá, não foi contra uma porta nem escorregou
numas escadas) e disse tratar-se de uma questão pessoal. Ora não é.
Independentemente do que diga o Islão, a violência doméstica é um crime público
em Portugal, não assunto conjugal.
Mas estas curiosas características das comunidades
islâmicas residentes na Europa são com frequência vistas assim, coisas de gente
estranha e exótica a quem não podemos pedir que se porte como os civilizados
europeus. E se os exóticos transgridem, em vez de serem punidos criminalmente
(como os outros cidadãos e residentes), deixamo-los sossegados, que não se
espera mais de tal gente do que barbárie. Sobretudo, não vale a pena estender a
proteção das leis dos países europeus a estas criaturas do deserto, é melhor
entenderem-se entre si como lá nas grutas ou nas tendas dos seus países de
origem.
Por isso há uns anos tivemos uma juíza alemã que recusou um divórcio a uma mulher
muçulmana, também vítima de violência doméstica, apesar de a lei alemã o
permitir. Para esta lunática germânica, o que devia reger a vida daquele casal
habitante da Alemanha era o Corão e não as leis alemãs.
Londres está transformado num centro europeu de mutilação genital feminina e nunca houve qualquer acusação e prisão pela
prática desse crime contra mulheres e meninas. O anterior Arcebispo da
Cantuária – com a perturbante falta de compaixão que não raras vezes os
religiosos, os católicos incluídos, exibem – propôs que a sharia regesse as
comunidades islâmicas britânicas. As mulheres, evidentemente, seriam as vítimas
diletas de tão oportuna ideia.
Para mim, estes defensores destes guetos da idade
das trevas onde as mulheres muçulmanas viveriam aprisionadas (no meio da
Europa) são opositores ativos dos direitos humanos e da liberdade das mulheres
(todas). Preparemo-nos. Eu já estou à procura da nova Emmeline Pankhurst.
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