Ricardo Costa
Como resumir os últimos
meses de Alexis Tsipras? Não é tarefa fácil, depois de tanta volta e
reviravolta, de ter chegado de rompante com um discurso demasiado fácil e de
ter engolido quase tudo, de ter vencido eleições contra a austeridade e
arriscado a vida política num referendo, de ter feito o contrário do que
queria e ter enfrentado uma rebelião no seu partido.
Mas há um indicador comum a todo este resumo. É que Tsipras continua com uma popularidade incrivelmente alta e sem ninguém que lhe faça frente. É isto que explica a demissão e o caminho para eleições antecipadas. O primeiro-ministro grego sabe que as vai ganhar com facilidade e isso permite-lhe ter um grupo parlamentar expurgado dos mais contestatários.
Mas há um indicador comum a todo este resumo. É que Tsipras continua com uma popularidade incrivelmente alta e sem ninguém que lhe faça frente. É isto que explica a demissão e o caminho para eleições antecipadas. O primeiro-ministro grego sabe que as vai ganhar com facilidade e isso permite-lhe ter um grupo parlamentar expurgado dos mais contestatários.
Não é certo que o Syriza se mantenha intacto – é uma coligação de vários
pequenos partidos –, mas é certo que Tsipras vai vencer a eleição de
forma clara, podendo até dispensar os nacionalistas que hoje lhe garantem a
maioria. Bruxelas, Berlim, etc., sabem que é com Alexis Tsipras que vão lidar
e por muito tempo.
Ah, já me esquecia. É que apesar de as eleições gregas ainda não terem data, tudo
aponta para dia 20 de setembro, ali em plena campanha eleitoral…
portuguesa. Isto explica o regresso em força da Grécia ao discurso da
coligação PSD-CDS e promete mais uns embaraços ao PS que mostrou uma estranha
simpatia pelo advento do Syriza. Depois corrigiu o tiro, mas o mal inicial
ficou feito.
O líder socialista deu hoje uma entrevista ao Sol, onde diz que há identidade entre ele e Manuela Ferreira Leite…
Isso mesmo, parece que assentava como uma luva num governo liderado pelo PS.
A ideia dos socialistas é tentar mostrar que há um PSD mais social-democrata
do que o que manda no partido, o que, sendo verdade, não parece preocupar
muito os eleitores tradicionais do PSD. É o que vão dizendo as sondagens.
Mais interessante é a frase sobre um eventual governo PS-PSD: “Bloco
Central? Só numa invasão de marcianos”. Eu sou pouco dado a vida
extraterrestre, mas no dia 4 de outubro vou estar a olhar para os céus a ver
se chegam umas naves. Vai fazer falta o Orson Welles, que era bom nestas
coisas.
OUTRAS NOTÍCIAS
No caso Sócrates, ou operação Marquês, como preferirem, hoje deve ser
o dia da revisão de pena de Carlos Santos Silva, que está em casa com
pulseira eletrónica. A data tem provocado grande especulação sobre uma
eventual revisão da pena de José Sócrates, o que até pode acontecer, mas é
pouco provável.
De facto, quando se revê a pena de algum dos arguidos – neste caso, Carlos
Santos Silva -, o juiz de instrução pode aproveitar para apreciar outros
envolvidos, mesmo que o prazo respetivo seja outro. A data chave de José
Sócrates continua a ser 9 de setembro, data em que lá pela hora de
jantar há um debate entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro.
Se por acaso, costuma dizer a alguém que ficou a ver passar os comboios,
fique a saber que andam a passar mais cheios. A CP divulgou ontem a evolução do tráfego e, além de um recorde no Alfa Pendular, o ritmo de crescimento
é constante há muitos meses.
Na Guiné-Bissau as notícias são cada vez mais preocupantes, com uma guerra
institucional entre o Presidente e o partido mais votado, o PAIGC. Depois
de ter demitido o governo, o Presidente nomeou agora um primeiro-ministro que é do PAIGC, mas fê-lo à revelia do
partido. O PAIGC já disse que é um golpe de estado institucional.
As bolsas mundiais acordaram agitadas com mais más notícias da China e
sucessivas reações em cadeia. É estar atento.
O desemprego no Brasil atingiu ontem o nível mais alto em cinco anos,
numa sucessão de más notícias económicas que mostram que o B dos BRIC’s
(Brasil, Rússia, Índia e China) está cada vez menos pujante.
No meio de más notícias económicas e de uma avalanche judicial que não para de crescer, Dilma abriu as portas do Palácio do Planalto a Angela
Merkel. Aquilo que seria o encontro entre as duas mulheres mais poderosas
do mundo é agora um encontro entre uma política acossada e uma líder europeia
que mantém o poder intacto.
Jean Marie Le Pen foi novamente expulso da Frente Nacional. A filha Marine perdeu a paciência
para o pai, que insiste em dizer que o Holocausto foi um pormenor – entre
muitas outras pérolas históricas – e, vai daí, desencadeou os mecanismos de
expulsão. O pai recorreu mas voltou a perder. E vai recorrer de novo.
O brasileiro Alex Sandro foi para a Juventus. E assim, com um defesa esquerdo vendido à vecchia
signora, o F.C. Porto bateu mais uma vez o recorde de vendas
num só ano. É o clube do mundo que mais dinheiro encaixou em transferências
neste defeso.
A segunda jornada da I Liga arranca hoje. Hoje há um Rio Ave-Braga e
amanhã é dia em cheio para sportinguistas e portistas. Alvalade recebe os da
capital do móvel e os dragões vão até ao Estádio do Marítimo, onde as coisas
não costumam correr bem. Mas agora há Casillas no relvado e Carbonero a
torcer.
O Belenenses joga domingo mas está de parabéns pela vitória de ontem.
A equipa de Sá Pinto está a fazer uma bela carreira nestas eliminatórias de
acesso à Liga Europa. Já deixou uns suecos pelo caminho e prepara-se
para mais um brilharete depois de ter vencido fora por 1-0.
Se está a ler este Expresso Curto num telemóvel, fique a saber que a app
do momento é uma coisa que dá pelo nome de Giphy Cam e que permite
fazer GIF’s animados caseiros. Portanto, é descarregar e dar um tempo às selfies, que
os GIF’s também têm direito à vida…
Não sabe o que é um GIF? Então leia este artigo da Fast Company. Acha que os GIF´s não fazem sentido? Pois, eu
também achava o mesmo quando comecei a ver selfies em elevadores e
fotografias de dedos dos pés com o mar ao fundo.
Já agora, e para o caso dos candidatos a primeiro-ministro estarem
interessados, o recém-derrotado nas eleições britânicas reapareceu ontem numa
rede social com… barba. Ed Milliband, que tem estado de férias, tirou uma selfie com fãs (pelos vistos ainda tem algumas) numa mudança de
imagem já apelidada de Millibeard. Uma boa ideia para quem vier a
perder as legislativas. Desaparece umas semanas e depois surge com barba numa
selfie… ou num GIF.
Não é uma notícia que se deva dar assim, logo pela manhã, nem ler quando
ainda estamos estremunhados. Mas as verdades têm que ser ditas e parece que o
tempo vai piorar este fim de semana, com as temperaturas a caírem muito.
Sim, é verdade que é agosto e, sim, é verdade que é no fim de semana. Ninguém
disse que a vida era fácil...
FRASES
“Convém não confundir promessas com aquilo que são estimativas dos
resultados das promessas", António Costa, líder do PS, a
explicar o que tinha prometido e/ou estimado
“O PS em três meses já apresentou três revisões do seu cenário
macroeconómico. Eu acho que isso não é a melhor forma de gerar confiança nem
segurança nas pessoas”. Paulo Portas, vice-primeiro ministro, em
reação ao PS
“A Guiné-Bissau, pela ação do Presidente, resvala por um trilho perigoso”,
José Ramos Horta, ex-representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau,
em entrevista ao Público
O QUE EU ANDO A LER
Hoje não é bem o que eu ando a ler, mas o que alguma gente anda a ler para
depois nos recomendar. Já aqui vos falei da lista de finalistas que o
Financial Times divulgou para o livro do ano que atribui em conjunto
com a McKinsey. Se odeia livros de economia e gestão, tenha calma, que a
lista tem muito para falar, a escolha é de primeira água e diz muito sobre os
nossos tempos.
No ano passado o vencedor foi o célebre livro de Thomas Piketty, O capital no séc. XXI. Este ano, há uma mudança incrível, com o domínio
dos livros sobre tecnologia, os seus benefícios e perigos. Para começar
há uma biografia de Elon Musk, o homem por detrás da Tesla - que está a reinventar os
carros elétricos e as baterias -, um livro sobre o advento da moeda virtual bitcoin e outro (The rise of robots) sobre a crescente importância dos robots na nossa
economia.
As coisas não ficam por aqui: seguem-se How Music Got Free: The End of an Industry, the Turn of the Century, and the Patient Zero of Piracy (“Como a música passou a ser de borla: o fim de
uma indústria, a viragem do século e o paciente zero da pirataria”, o que é
um belo título), Losing the signal – sobre a ascensão e queda dos BlackBerry, e ainda The Powerhouse, sobre a ciência das baterias.
Se olharmos com atenção, está aqui quase tudo o que muda a nossa volta: os
carros elétricos de Musk, a bitcoin que no princípio ninguém levava a sério,
os robots que começam seriamente a ameaçar empregos, os conteúdos à borla e a
pirataria, os telemóveis e o que o iPhone fez deles e as mudanças na energia.
É claro que a lista (que pode ser toda consultada aqui), tem livros sobre outros temas, mais clássicos e muito atuais. Mas o peso da tecnologia mostra bem o que está a mudar nas nossas vidas e a velocidade a que tudo acontece.
No Expresso sabemos bem isso e estamos todo o dia agarrados ao Expresso Online. Escolhemos as notícias mais importantes, expicamos tudo e tempos opinião exclusiva no Expresso Diário a partir das 18h. No meio disso tudo, estamos a fechar mais uma edição do Expresso que amanhã está nas bancas e no início da madrugada pronta a ser lida em tablets, telemóveis ou computadores.
O Expresso Curto regressa segunda-feira e parece que me calha outra vez a mim. Depois de passar o fim de semana no Vodafone Paredes de Coura, não posso garantir em que estado vou estar, mas algo se vai arranjar.
Texto: Ricardo Costa, 21-8-2015
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