Nelson Teixeira
Um nobre senhor mandou um dia
o seu criado ao açougue, dizendo-lhe:
– Traga-me o melhor bocado que
lá encontrares.
Para atender fielmente ao
pedido de seu amo, o servo trouxe-lhe uma língua.
O nobre senhor mandou que as
criadas preparassem aquela língua, e assim se deliciou com o estranho e
apetitoso bocado.
Dias depois, o senhor chamou
novamente o servo e recomendou-lhe:
– Traga-me agora, do mesmo
açougue, o bocado mais desprezível que encontrares.
O criado foi depressa, pensou,
e trouxe mais uma língua.
Tomado de admiração, o seu
senhor indagou-lhe:
– Que significa isso? Pedi o
melhor bocado e me trouxestes uma língua; depois pedi o pior bocado e me
trouxestes também uma língua?
Então o servo, que era
sumamente sábio, explicou-lhe:
– Não me enganei, senhor. É
isso mesmo: a língua é, ao mesmo tempo, tudo o que há de melhor e tudo o que há
de pior no mundo. Pode causar os melhores bens na boca de uma pessoa boa e pode
causar os maiores males na boca de uma pessoa má.
Título e Texto: Nelson Teixeira, Gotas de Paz, 2-2-2016
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