Ricardo Leite Pinto
Confesso a minha ignorância: como pode o
PSD alimentar a ideia de que o actual Governo é para durar a legislatura?
Ao fim de seis meses de
governação socialista o balanço é mau. Quer no estilo, quer na forma, quer no
conteúdo o Governo não chega à nota mínima. E contudo nasceu em ambiente de
reduzida crispação, tem beneficiado ao longo dos últimos meses da
condescendência do Presidente da República e, sobretudo, tem “boa imprensa”, ou
seja, preguiçosa quando é necessário investigar.
No estilo é um Governo de
personalidades anódinas que não conseguem que alguém se recorde delas por boas
razões, e alguns até por más. Em geral primam pela omissão e quando saem à luz
do dia o susto é grande. Mas o pior é mesmo o primeiro-ministro – elogiado pela
tal “imprensa” como um mestre da “táctica política” – que, tentando impor um
estilo descontraído, até já conseguiu irritar o tão carinhoso Presidente da
República.
Entre “vacas voadoras”,
tiradas humorísticas de gosto duvidoso e empáfia quanto baste parece que o seu
único objectivo é sobreviver. E é mesmo. Porque, do ponto de vista formal, como
bem disse Francisco Assis, este é um “Governo de gestão” incapaz de fazer
reformas e pressuroso a apagar fogos que ele próprio ateia pela inépcia dos
seus governantes. Isto ao mesmo tempo que tenta agradar aos portugueses e à
Europa, numa verdadeira quadratura do círculo.
Quanto ao conteúdo já se
percebeu que o Governo não existe para governar, ou seja, prover ao “bem
comum”. Está apenas obcecado em anular ou desmantelar tudo o que o Passos
Coelho fez. E compreende-se, pois esse é o único cimento que liga a
“geringonça”. Não arrisca nada sem consultar os seus parceiros e sobrevive
assustado sob a permanente ameaça dos grupos de pressão (designadamente a
CGTP). Veja-se a forma como o Governo lidou com a questão das escolas privadas
comparando com os estivadores. Para os primeiros “ideologia” pura e dura, para
os segundos “diálogo”.
E valerá a pena lembrar,
apenas como nota de rodapé, não vá alguém assustar-se, que quase todos os
indicadores económicos e financeiros estão bem piores, a começar pelo
verdadeiro flagelo que deveria estar no centro das preocupações de qualquer
governo: o desemprego. Ou seja, desbarata os sacrifícios que eu, como todos os
portugueses, fizemos nos últimos quatro anos para tentar pôr o país são.
Daí que não entenda, confesso
a minha ignorância, como pode o PSD alimentar a ideia que de o actual Governo é
para durar a legislatura. Estranhamente, a ideia de que o Governo é uma
impostura política, pela forma como nasceu – e agora confirmada pela forma como
governa – ganhou foros de anátema. Quase todos, a começar pelos comentadores e
políticos da oposição se calaram quanto a esse aspecto. Como se a legitimidade
constitucional do Governo servisse para apagar a sua ilegitimidade política.
É bom que se recupere esse
tema, que nunca devia ter saído do debate, porque ele é e continuará a ser, até
o actual Governo passar à História – ou encontrar a verdadeira legitimidade
política que lhe falta – a questão essencial. A única mesmo...
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