Péricles Capanema

O que teremos de retrato
autêntico do País? Um pot-pourri de dados pode ajudar. Pesquisa recente,
de maio de 2016, conduzida pela GfK Verein, organização especializada
alemã, verificou que apenas 6% dos brasileiros confiam nos políticos em geral.
Quanto aos prefeitos, 10% acreditam neles.
Assunto ligado ao anterior, o
apoio à democracia. O celebrado Latinobarómetro constatou em 2016 que o apoio à
democracia no Brasil é de 32%, menos de um terço dos pesquisados. Outro item
conexo: o voto facultativo. Boa parte dos favoráveis ao voto facultativo está
dizendo: se pudesse, não apareceria na seção eleitoral, só vou lá debaixo de
vara. Em 2014, véspera da eleição presidencial, o DataFolha pesquisou sobre
voto obrigatório. 61% eram contra, queriam o facultativo. Entre os pesquisados
com ensino superior, 71%.
Dos eleitores de Dilma, 47%
deixariam de votar se não fosse obrigatório. Dos eleitores de Aécio, 67%
deixariam de votar se não fosse obrigatório. Resultado semelhante e até mais
expressivo apresentou pesquisa promovida no site do Senado pelo DataSenado em
2012: 85% foram a favor do fim do voto obrigatório. Não mudou nada. Acho que as
porcentagens agora seriam maiores, pois as decepções se amontoaram muito nos
últimos anos.
Em resumo, é com profundo
desagrado que a maioria se arrastará até as seções eleitorais em 2 de outubro
próximo. Não há como escapar, os vereadores e prefeitos serão empurrados goela
abaixo do eleitorado…
Este é um fenômeno bom? Direi
que tem lados admiráveis justificando esperanças. A desilusão lúcida favorece
escolhas certas. Por outros aspectos, preocupa. O desinteresse pela coisa
pública e o egoísmo míope sempre levam a desastres.
Vou virar a página. Compulso
pesquisa antiga, mas que conserva atualidade. Foi publicada em agosto de 2008
pela Associação Brasileira de Magistrados. Entre os numerosos itens, respigo
alguns. Para 68% dos entrevistados, era muito importante que o político fosse
simpático. 61% conheciam gente que aceitaria votar em candidato em troca de vantagens
pessoais. Para 42%, era obrigação dos políticos pagar despesas de hospital e de
enterro para pessoas necessitadas. A maioria achava que os políticos deveriam
arranjar emprego para quem precisasse. A situação continua igual. De outro
jeito, é comum não gostarmos dos políticos, mas exigimos o auxílio estatal. É
fraca a noção de que o Estado, instituição benéfica e imprescindível, deve ter
papel subsidiário em relação à sociedade. Daí a simpatia, pelo menos em raiz,
por formas de intervencionismo e estatismo. Desde o populismo até formas
extremadas de socialismo se abeberam em eleitorados assim.
Como estava redigindo o
presente texto, fui por curiosidade à rede para ver quem se candidatava a
vereador em minha cidade natal. Deixo logo abaixo alguns dos postulantes,
pessoas direitas, respeitáveis, mas que por vezes, até injustamente, retratam a
falta de programas e nitidez ideológica presentes no Brasil inteiro. E veja
você também a lista dos candidatos de sua cidade natal, não será diferente:
Ganso do Padre Libério, André do Picolé, Buzina, Antônio Pipoca, Carlinhos do
Queijo, Coco do Futebol, Fubá Pedreiro, Tigrão Motorista, Vai Vaca do JK,
Novinho TBA, Fábio Animal, Geraldo Boi do Caminhão, Geraldo Doidão, Goiaba,
Baiano da Aparição, Willian Morcego…
Em 1932, escrevendo no jornal
“Legionário”, o então jovem líder católico Plinio Corrêa de Oliveira foi longe
e fundo ao analisar a anarquia mental já presente no Brasil inteiro, o que
impedia elaboração de programas coerentes na política e na economia: “Já
que tanto se fala em renovação, seja na política, seja nas leis, seja na
economia nacional, é tempo que se cuide da renovação fundamental de que o
Brasil carece, isto é, a renovação da mentalidade pública. Quebrada a unidade
de pensamento estabelecida pela Igreja Católica na Idade Média, a diversidade
de tendências religiosas e filosóficas foi gradualmente tomando tal incremento,
que a anarquia triunfou completamente no domínio da vida intelectual. [...] O
Brasil sofre a tal ponto das desastrosas consequências desse mal, que é
impossível constituir-se hoje uma grande corrente de pensamento que seja capaz
de se concentrar em um programa completo de reorganização nacional. É frequente
presenciar pontos de vista radicalmente inconciliáveis defendidos por uma mesma
pessoa com igual calor [...] conservadores socialistas, os comunistas que
desejariam a abolição da propriedade e a manutenção da família, os liberais
socialistas, os reacionários liberais etc. [...] Enquanto subsistir esse caos
no mundo do pensamento, será absolutamente impossível instituir uma ordem
durável no domínio da política e da economia.”
O caos aumentou e o Brasil
mudou para pior. De momento, caro leitor, só chamo a atenção para um ponto:
antes de votar, observemos bem e sufraguemos candidatos com programa bom, mesmo
que sejam pouco conhecidos, como os supra citados André do Picolé, o Buzina ou
o Fubá Pedreiro. Agiríamos então a favor do Brasil. Serão eles melhores que os
doutores de PhD vistoso, propondo programas de destruição da vida familiar e
econômica!
Título, Imagens e Texto: Péricles Capanema, ABIM,
9-9-2016
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