domingo, 9 de setembro de 2018

O jornalismo está de luto: valerá tudo para derrubar o presidente Trump?

O anonimato foi justificado com o imperativo de “proteger a segurança” do membro da resistência infiltrado na White House. É um escândalo e uma vergonha.


João Lemos Esteves

1. Escrevemos no nosso último texto aqui no SOL que a histeria anti-Donald Trump prosseguia, alimentada pelo desejo de vingança dos média que foram derrotados nas eleições de 2016. No entanto, esta semana o facciosismo dos órgãos de comunicação social (hoje assumidamente da esquerda e da extrema-esquerda norte-americana) ultrapassou a linha do democraticamente admissível: o “The New York Times” escreveu porventura a linha mais negra da história do jornalismo internacional desde, pelo menos, a ascensão do nazismo e do comunismo soviético (sim, porque – é uma história por contar! – muita comunicação social ajudou a promover a ascensão de Hitler e, ainda mais, contribuiu para a execução do terrorismo bárbaro comunista-soviético e respectivo branqueamento subsequente).

2. Em que termos? Pois bem, o outrora jornal de referência “The New York Times”, que, nos seus tempos áureos em que se dedicava ao jornalismo publicou alguns dos trabalhos mais conceituados da imprensa livre e democrática, decidiu violar as mais elementares regras éticas, deontológicas e até legais que disciplinam a comunicação social – publicou um editorial (um “op-ed”) anônimo, alegadamente escrito por um membro da Administração Trump.

O anonimato foi justificado com o imperativo de “proteger a segurança” do membro da resistência infiltrado na White House. É um escândalo e uma vergonha.

3. Um escândalo, porque significa que o jornalismo está definitivamente morto – a partir do momento em que um jornal publica, no seu espaço mais relevante, um texto anônimo, com claros e inequívocos propósitos político partidários, cria-se o precedente para legitimar qualquer abuso por parte da comunicação social. E deixemo-nos de rodeios: a comunicação social, nos tempos hodiernos, não é um contrapoder; é um verdadeiro poder (o poder mediático). Ora, o poder mediático torna-se, destarte, no único poder absolutamente ilimitado: pode inventar o que quiser, pode escrever o que bem lhe aprouver, pode inspirar manobras de bastidores políticas para desestabilizar os governantes democraticamente eleitos – sem que haja um escrutínio, efetivo e consequente, por parte de outros poderes estaduais e mesmo da opinião pública (que ainda confia na “autorictas”, na veracidade do que vem publicado nos média tradicionais).

Para nós, a imprensa livre é um dado civilizacional fundamental – democracia sem uma imprensa livre não passa de uma mera aspiração lírica. No entanto, liberdade não significa impunidade; há valores éticos, comunitários e legais que limitam o direito geral de ação. Pensemos, no caso, de um cidadão que pratica um crime; ele deverá ser responsabilizado pelo fato que cometeu, não obstante reconhecer-lhe (e à sociedade no seu todo)  um direito geral de liberdade. A aplicação de uma sanção criminal – por violação de regras legais – não significa que a sociedade deixou de ser livre; pelo contrário, trata-se da defesa de valores que a comunidade considera essenciais.

Pois bem, as regras éticas e legais ditam que os jornais não podem publicar artigos anônimos, em nome da verdade, da honestidade e da transparência democrática. Nem se diga que o imperativo de proteção da alegada “fonte” justifica a solução do anonimato – se assim fosse, estaria aberta a porta para os média publicarem absolutamente tudo sobre todos, independentemente da veracidade e da credibilidade das informações veiculadas.

Por outro lado, seria uma forma de os grupos de comunicação social beneficiarem de um regime amplíssimo de impunidade, sem paralelo com qualquer outro setor da sociedade. Mais: o “The New YorK Times”, há poucos meses, publicou um artigo culpando a cobardia do anonimato difundido nas redes sociais e nas caixas de comentários de jornais pela crise do regime democrático. Os jornais portugueses (na sua maioria) copiaram – claro! – a moda, decidindo, inclusivamente, suprimir a caixa de comentários nos respectivos sites: a democracia portuguesa estaria também a ser ameaçada pelo espectro da cobardia do anonimato.

Pois bem, demonstrando mais uma vez a hipocrisia de certa esquerda, o “The New York Times” resolveu – algo tragicamente inédito, reiteramos – publicar um artigo… anônimo, dando, portanto, razão ao Presidente Donald Trump. É uma ironia, mas é uma conclusão lógica. Por quê? Vejamos.

Ora, se, como era a tese do próprio jornal nova-iorquino, o anonimato mata a democracia (premissa maior); o “The New York Times” publicou um texto anônimo (premissa menor); logo, o “The New York Times” mata (ou, pelo menos, provoca danos) a democracia. É uma consequência lógica da tese do próprio jornal. A incoerência de alguns média norte-americanos, dominados por uma nova corrente de extrema-esquerda que tenta conquistar o Partido Democrata, é facilmente explicável: não acuam por convicção de princípio, mas tão só por conveniência político-empresarial.

O Presidente Donald Trump fez bem em exigir ao Departamento de Justiça que tome todas as diligências necessárias para a reposição da legalidade, obrigando o “The New York Times” a revelar a identidade do autor do artigo (sancionando, portanto, a prática miserável e ilegal de textos anónimos) – e, em último caso, recorrer aos tribunais, ponderando-se a responsabilização civil do grupo proprietário do jornal e do diretor. Trata-se de defender a democracia, evitando que se crie um precedente que matará, a médio prazo, definitivamente o jornalismo. As leis do Estado valem para todos.

4. Dito isto, quem será o autor do tão famoso artigo? Na nossa opinião, esta história não passa de mais uma monumental mentira: o autor do texto é um jornalista do “The New York Times”, que utilizou um conjunto de informações que já circulava em blogues, em livros (de Omarosa, de Martin Wolf e de Woodward) e de um grupo de pessoas ligadas ao “establishment” republicano (próximas do “Attorney-General” Jeff Sessions e defensoras do cenário de conversão rápida de Mike Pence em Presidente dos EUA) que foram reunidas num único artigo (banal e que já poderia ser encontrado, no essencial, em outras fontes) como editorial do jornal. E por que o anonimato?

Mais uma pergunta de muito fácil resposta: porque o anonimato, não se identificando o autor e criando-se a ideia de que foi escrito diretamente por um membro da equipa de Donald Trump que pertence à resistência (à boa maneira de saga hollywoodesca, de que, aliás, nós gostamos de sobremaneira) – confere um impacto político ao artigo que, de outra forma, ele não teria.

Se o jornalista do “The New York Times “tivesse assinado o artigo, este seria apenas mais um, passando despercebido; com o anonimato, o artigo passou a fato político.

Não por acaso, dois dias depois da sua publicação, apareceu o Presidente Obama a proferir o seu primeiro discurso de vocação essencialmente política, marcado pela dureza contra o atual Presidente dos Estados Unidos da América: Obama, curiosamente, estruturou o seu discurso em torno do artigo anônimo! Sendo que o “The New York Times” já havia anunciado a intervenção de Obama antes da publicação anônima, o timing da sua publicação demonstra o único conluio da política americana que é real (e não mera invenção): o conluio entre os “obamistas” (que já se assumem abertamente como progressistas radicais) e a maioria da imprensa norte-americana. Isto num momento em que se aproximam as eleições intercalares…




5. A propósito de transparência, conforme já mencionámos aqui no “SOL”, convém ter em atenção que o advogado de Michael Cohen (mais um caso com o único propósito de desgastar o Presidente Trump), Lanny Davis, foi um colaborador muito próximo de Hillary Clinton, tendo trabalhado com John Podesta (o operacional da campanha da democrata derrotada em 2016).

Aliás, há cerca de dois meses, Lanny Davis (que tem como ponto alto da sua carreira a licenciatura na Yale Law School, a melhor escola de Direito do mundo, juntamente com a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) esteve em Praga, na República Checa representando a candidata derrotada nas últimas presidenciais americanas em debate com Steve Bannon.

O advogado de Michael Cohen, apoiante de Hillary Clinton, iniciou aí a sua intervenção incitando ao impeachment do Presidente Trump (invocando o argumento genérico da sua impreparação para o cargo, como se ele se pudesse substituir constitucionalmente à vontade do povo americano); concedendo, no entanto, no final, que Donald Trump tem razão em certos aspectos do seu diagnóstico da situação política e social dos EUA. Portanto, para o advogado de Michael Cohen não se trata de fazer justiça: ele visa apenas fazer política usando o sistema judiciário. O que suscita igualmente delicados problemas deontológicos: no seu afã de fazer política, Lanny Davis proferiu uma declaração na CNN que colocou em causa a defesa do seu constituinte…

6. Não podemos terminar esta nossa prosa sem mencionar a ironia das ironias.

Lanny Davis é o autor do livro com o título “ Scandal –How gotcha politics is destroying America”, publicado em 2006.

Qual a tese central do livro? Os escândalos criados pelos adversários políticos, alimentados intensamente pela comunicação social, geram um processo de erosão que excede em larga medida a dimensão pessoal do candidato – atingem a respeitabilidade das instituições democráticas; por conseguinte, são ataques à própria democracia.

Será estranho que tenha sido o advogado que ora se dedica à “política gotcha”, do “vai apanhá-lo”, baseada em teorias da conspiração, que tenha visionariamente escrito a referida obra? Não – é perfeitamente compreensível atendendo ao contexto da sua publicação: em 2006, Lanny Davis era um dos mais proeminentes apoiantes de Hillary Clinton na contenda eleitoral interna democrata que a opôs a Barack Obama. Ora, nessas primárias, a estrutura de campanha de Barack Obama não deixou de lançar cirurgicamente acusações de corrupção contra Hillary nos média e nas (então florescentes) redes sociais – Obama lançou, pois, a moda dos cânticos contra a “crooked Hillary”. Lanny Davis teve de defender Hillary, apelando (e bem) ao valor fundamental da democracia – valor que ele põe em causa para defender os seus interesses partidários…

7. Ora, o que dirá o advogado Lanny Davis hoje, em 2018, que patrocina Michael Cohen e que alimenta uma campanha de perseguição baseada em suposições e invenções contra o Presidente, democraticamente eleito, dos EUA – do mesmo Lanny Davis que, em 2006, escreveu um livro a criticar violentamente este tipo de postura na vida política?

Talvez o melhor fosse mesmo Lanny Davis ler Lanny Davis (versão 2006!) para ver se aprende como interesses partidários (e de grupo) mesquinhos podem levar ao colapso da democracia…

Tudo isto dito e redito, cumpre concluir: noutros tempos, afirmava-se que a ameaça ao jornalismo livre levaria ao fim da democracia – hoje, assistimos, em tempo real, ao processo de ameaça à democracia face ao fim do jornalismo livre.
Título e Texto: João Lemos Esteves, SOL, 9-9-2018

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