Carina Bratt
Às vezes lhe procuro nos meus devaneios exaurida às lembranças que ficaram. Busco seu rosto, seus olhos, sua boca, seus beijos, suas mãos macias e quentes. Mas qual o quê! Um vazio enormemente grande e profundo paira sobre tudo.
Um buraco de elevada dimensão, pinta ao acaso, abrupta em derredor do
meu caminho. Surge do perrel como uma cilada anunciada. Certamente para que eu
tropece e caia. Atenta, todavia, contorno. Dou a volta por cima sacudindo a
poeira.
Você, meu homem, meu macho, é chuva de granizo vinda do céu. Um enigma
quebra-cabeçado que não consigo decifrar. Um jogo vicioso de mecanismos
difíceis, onde ao menor descuido, me curvo vencida, enfadada, partida em mil
pedaços. Cacos que a depois não se colam com remédios caseiros, tampouco por mãos
de médicos especialistas em almas partidas.
Às vezes lhe procuro nos meus sonhos bobos entremeados por uma letargia
atribulada. Desesperada, me viro na cama, me debato me contorço em mil piruetas
esmagando o lençol. Abraço o travesseiro. Insensível e altruísta ele não
responde aos meus assomos e rompantes.
Ousada, afoita e incitada, a epiderme excitada em labaredas, me viro
para lá, me debato para cá. Deslizo as mãos em busca de sua presença ao lado,
exatamente onde a parte da alcova deveria estar preenchida por seu corpo nu.
Encontro apenas um espaço pelado e despido que também sente a falta do seu
mormaço.
Ao pranto descompassado do nariz fungando, o peito arfante, cega das
pernas e manca dos olhos, como uma erradia desajuizada me assemelho a um desses
tocos de enxurrada guindados de alguma margem ribeirinha descendo rio enorme em
direção a um destino incerto.
De repente, dou de cara com espelhos d’água girando em redemoinhos
inimagináveis. Meu semblante pálido e isento da robustez que me encanta a visão
enroscada num branco sem vida surge deles. Emerge meu desatino feroz em fatias
pequenas como se fragmentado e, ao mesmo tempo, multiplicado por mil.
Um medo mórbido, tétrico e horripilante me apavora e toma conta do meu
corpo. Inteira, me inflamo desprevenida do essencial e me vejo, e não só me
vejo, me sinto prisioneira de uma dimensão que desconheço as suas coordenadas
de latitude.
Às vezes lhe procuro nos meus medos. Agora os tenho porquanto somente
sombras difusas se disseminam e me cercam por todos os ângulos. Escuto um grito
lancinante, pungente, aflitivo, consternado e martirizante.
Tipo assim, como se alguém tivesse caindo de um prédio de estrutura
altíssima e soubesse que no final da queda, os seus dias aqui na terra se
espatifariam disformes sem poder voltar à normalidade.
Com os tímpanos a estourar, na mesma sequência, vibra mais forte que
este grito (e eu não sei explicar como), vibra mais forte que este grito, a sua
voz me dizendo: “eu te amo, eu te amo, eu te amo...”. Todavia, apesar de me sentir reconfortada,
inebriada, dona de mim, a felicidade se faz fugaz, apressada, sucinta e
desumanamente transitória.
Ainda assim, aos trapos e aos remendos do “eu” frangalhado, me agaturro
e me empolgo. Louca, me avivento. Maluca, me atiço e me bafejo renovada. Em
idêntico trajeto, me retoco, me renovo me encorajo radiante. Embevecida e
enfeitiçada. Amarrada e engalfinhada numa sensação desvairada de quase
deusa.
Mesma quimera, acastelada em expectativa tresloucada, perfunctória e
temporária, por minutos que parecem eternos, tremo dos pés a cabeça. Todinha
como mala velha me abro, me abalo, me estonteio, como se o coração tivesse
levado um choque elétrico forte demais.
Num ‘Vapt Vupt’ a modilho “Chicoanisiano”, é como se lhe faltasse o
fluxo de sangue necessário para continuar batendo descompassadamente à
reverência daquela emoção. Esta emoção me chega como gemidos de Bach, ao órgão,
dedilhando “A Arte da Fuga”. A arte da evasão que você não teve tempo de me
ensinar.
Às vezes lhe procuro nos lugares improváveis. Atrás da geladeira na
cozinha, do armário de compras na dispensa, debaixo da cama da empregada,
dependurado em algum aparelho de ar condicionado do lado de fora do meu
apartamento.
Nada. Absolutamente nada. Nenhum vestígio! Você se transformou na trilha
que não encontro. Na lâmpada que não deparo com o interruptor. Na porta fechada que perdi a chave. No fogo que não acendi. Na escada que recusei
subir. No silêncio que não se quebrou apesar do desespero. No amor que eu busco
em cada rosto, em cada alguém que topa comigo na rua. Eu lhe persigo e não o alcanço.
Perseguir sem alcançar, bem sei, é a mesmíssima coisa que lutar sozinha.
Sem armas, sem a coerência de conseguir os objetivos almejados. Atormentada de
uma dor lasciva, alvo oposto, preciso de um afago de efeito sedante. Como este
vento sul que vem de longe e me levanta, intrépido, a saia em sopros
undosos.
Concluo tardiamente que necessito soltar as amarras, desgrudar as
estribeiras. Deixar de me questionar quem esqueceu a sua cueca nos braços da
torneira do meu chuveiro? Quem colocou os olhos da solidão no fundo da minha
incoerência?
No pior dos estragos: quem teve a ideia de juntar o seu sabor ao meu
paladar aguçado? Quem me fez cativa do seu gostar? Ainda pouco, imagine, ainda
a pouco voltou a vibrar (de novo e de novo e novamente) mais forte, a sua voz
me dizendo: “eu te amo, eu te amo, eu te amo...” intermitentemente...
Chega! Basta. Ponto final. Cansei. Você é como aquela bebida gostosa,
saborosa e sibilina, da qual não me embriaguei... não me entreguei... não me
subjuguei. Porém, pior que tudo isto
passei a carroça diante dos burros: amei, amei, amei, me apaixonei, e me
entreguei perdidamente até a exaustão.
Título e Texto: Carina Bratt,
da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 17-02-2019
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Quando tinha meus 18, era perdidamente apaixonado por uma menina de 14 anos. Tivemos um amor intenso, namoramos por 3 anos, sem sexo, para ão ousarem chamar-me de pedófilo.
ResponderExcluirQuando surgiu a oportunidade de ser F/E e mudar-me para o RIO, ela me deu o ultimato:
- Ou eu ou o Rio...
"Desmoronei"! mas fui ao Rio.
A aviação nacional, poucos sabem, me deixava meses fora de Porto Alegre.
No último fragmento de fé fiz uma promessa à Senhora da Penha.
Alguns anos depois, em férias na minha cidade conheci outras pessoas.
Encontrei-me com ela, casada, separada com um filho nos braços.
Ela arrependida me oferecia aquilo que sempre quis, amor.
Foi com tristeza em meu íntimo dizer, que havia passado.
O tempo resolve muitas doenças da mente.
Minha maior tristeza foi subir as escadarias da Penha para pagar uma promessa em lago que eu não acreditava mais.
PORQUE?
Por que gosto de cumprir promessas que faço para mim.
Amei, amei, ela se entregou e eu rejeitei...
Sexo perdido não se recupera jamais.
fui...
Resposta ao meu amigo das 16.49. Caro amigo Roccha. Seja bem vindo. Bonita a sua história. Um pouco resumida. Não importa. O que vale é a intenção. Quando a gente ama, tudo se transforma. E eu amo. E sou correspondida. Em outra oportunidade, fale mais de seu passado, de suas histórias de amor. Relembrar faz bem. Aliás, entendo que o senhor deveria escrever. Contar as suas aventuras. Esses pequenos mimos fazem bem à alma. Além de aguçar o âmago, ajuda na reconstrução da vida e, sobretudo, faz com que onosso interior rejuvenesça.
ExcluirObrigada pela sua participação
Carinhosamente,
Carina
Ca
Em cada texto você me surpreende. Fala do amor, descreve a paixão, a vivência dele, como se fosse algo que estivesse agarrado ao seu sangue, ao seu corpo, às suas digitais. Tenho comigo uma escrevinhadora que se fez adulta e eu nem percebi que crescia numa literatura que viria para ficar. Parabéns, minha linda. Me sinto feliz vendo o seu crescimento. E realizado vendo a dimensão que as suas ideias tomaram dentro de um cotidiano que certamente se espalhará mundo afora. Me curvo, cativado. Seu fã incondicional,sempre, Aparecido.
ResponderExcluirApa:
Excluir“Diga com quem andas, e eu te direi quem serás amanhã”. Lembra-se deste ditado? Pois então. Você sempre me ensinou coisas boas. Sempre me colocou na cabeça que para ser uma boa “escrevinhadora”, é preciso ler muito. E ser criativa. E é isso que eu faço. Sem contar, em aparte, que o meu melhor professor do mundo, a cada dia, se supera. E me supera. Sua aluna não poderia, ou melhor, não pode fazer feio. Feio seria não seguir você. E eu sigo... até o fim do mundo.
Com carinho ao mestre Aparecido
Carina
Ca.