terça-feira, 4 de junho de 2019

[Aparecido rasga o verbo] Quando a Gongo do Soco soar, a conga lá conga já era...

Aparecido Raimundo de Souza

UMA COISA, SENHORAS E SENHORES, é politicamente corretíssima. Essa coisa está nos trilhos e nos conformes. A matança, ou se preferirem, o assassinato dos cinquenta e cinco mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (ou como ficou conhecido o massacre nas dependências dessa pocilga alcunhada carinhosamente de “Compaj”, sediada em Manaus).

O que não é politicamente certo nem correto, tampouco está nos trilhos e menos ainda nos conformes, é sabermos quando e a que horas a cidade de Barão de Cocais, em Minas Gerais a exatos cem quilômetros de Belo Horizonte deverá ser definitivamente riscada do mapa à semelhança da campestre  Mariana e da bucólica Brumadinho.

A nós, do povo, somente é permitido tomar conhecimento de que o tal “estágio de alerta máximo” para a infeliz cidade de Barão de Cocais permanece de luzinha vermelha. Acesa dia e noite, devido ao risco “iminente” da barragem Sul Superior da Vale, a Mina Gongo Soco ir, de vez, para as dependências da casa do senhor Carvalho.

Segundo os entendidos em catástrofes de barragens (os entendidos são tão entendidos que, na velocidade em que essas desgraças se rompem, ninguém morre ao acaso, a não ser os Manés e as Sirigaitas que perdem suas vidas porque estavam fuçando seus aparelhos celulares em horas impróprias).

Repetindo. A fugacidade de ebulição do talude (talude nada mais é que uma inclinação lateral de um aterro, tipo uma escarpa, um muro arrimal) norte da fabulosa e operosa Mina Gongo Soco chegou a 15,8 cm por dia em média e 20 cm por dia em alguns pontos críticos. Entenderam? Pura matemática, amigos. Aos prezados que quiserem detalhes mais sucintos, sugerimos consultar Malba Tahan, ou passar os olhos em seu livro “O homem que calculava”.

Voltando ao foco, o que os especialistas em catástrofes não sabem com a precisão devida, é a hora, o instante, ou o minuto exato em que a Gongo gongará, realmente, resolvendo dar sinais de vida e repetindo, em dose dupla, os acontecimentos e as façanhas animalescas e brutais de Bento Rodrigues, em Mariana e, por último, em Brumadinho.

Segundo o cabide de emprego (aliás, cabidezão) conhecido aqui no brazzzil, além-mares e oceanos a se perderem de vistas, perdão, de águas, principalmente em Barão de Cocais e outras localidades que dividem seus espaços com essas bombas de pavios curtos, não outra senão a Agência Nacional de Mineração. O nome é bonito. Chama a atenção dos desavisados: Agência Nacional de Mineração. ANM.

O certo, em nosso humilde entendimento, seria algo em torno de Agência Nacional de Malandros, ou Agência Nacional de Matanças. Essa ratoeira afirma que a tal movimentação da Mina Gongo Soco era de 14,1 centímetros por dia na parte inferior e 19 centímetros nos pontos mais críticos. Tem gente que abona piamente essa conversa para bois dormirem. E os bois dormem...

Sem mencionarmos, lado outro da “moerda”, que meia dúzia de bobalhões comenta a boca de comer lavagens, que a Vale “avisou as autoridades” acerca do fervedouro do talude, mas percebam caros leitores, não ficou devidamente claro para os leigos e bocós, quem seriam essas autoridades. Deixaríamos aqui uma indagação: autoridades mesmo ou “artoridades?”.

Pelo andar da localidade de Barão de Cocais a passos incertos, mas rápidos, em direção a mais uma hecatombe anunciada, aliás, prestes e iminente..., se lembram do iminente?! - não importa, nessa altura do campeonato, se as autoridades ou as “artoridades”, o que o povinho da supradita região gostaria de saber, de fato, e por direito, é que atitudes esse bando de pilantras tomará em relação ao problemão que se avizinha?

Cremos, do fundo da nossa ponta de razão adormecida, que essas autoridades altamente e impecavelmente “autoridadosas” ficarão bem longe da Gongo Soco. Elas sabem que o gongo poderá não soar a tempo e, se soar, muitos arruaceiros da ANM suarão as suas camisas e paninhos de bundas para baterem em franca retirada antes do apito final do Homem lá em cima dar a ordem. Afinal, senhoras e senhores, “quem tem cu, tem medo”. Mas e a população? Precisamos responder?!

Com esse pensamento de “tirar da reta” a pele em primeiro plano, justaposto no lugar dos chifres, as autoridades (ou as “artoridades”) de meia tigela (para não perderem os seus respectivos assentos e traseiros, preferirão ficar, via das dúvidas, ou melhor, se agregarão e se manterão sãos e salvos) a quilômetros de distância. A Gongo que faça logo seu trabalho de destruição e fim de papo...

De modo a poderem enxergar, de camarote, tomando um bom vinho pago pela Vale, a figura do velho Barão de Cocais tomar socos e gongadas pelas ventas, bem ainda a se deleitarem com os estragos que se sucederão. Esses crápulas da ANM voarão para algum planeta onde só os espertalhões da estatal conseguem chegar. Mas e o monitoramento? Kikikikikiki...

Existe, em paralelo, outro cabide de empregos. Ele se chama Defesa Civil. A Defesa Civil (no caso aqui em pauta, de Barão de Cocais) assevera que continua monitorando (pasmem!!) ou dito de maneira mais povão, a Defesa Civil segue espiando a peleja do talude contra ele mesmo. Monitorando, prezados. Essa é boa! Para rir de verdade. Monitorando como? De onde?! Seria identicamente como as “artoridades”, de plantão, vinte e quatro horas diretamente de alguma plataforma na lua, ou em Marte?

Sabemos, de antemão, que o receio e o desespero de todas as famílias agregadas da até ontem serena e plácida Barão de Cocais, estão com os nervos e as respectivas vidas aos sete palmos das sepulturas. Os tais “treinamentos simulados” não valem porra nenhuma, até porque, se o talude resolver descer a noite, para dar um passeio, ou tomar uma cervejinha numa das biroscas existentes, muita gente (apesar das inoperantes rotas de fugas) irá sem mala e sem cuia para o caixa-prego.

Se o talude descer, ou no pior das sacanagens, se a bosta se romper, Barão de Cocais e outras comunidades ribeirinhas deixarão de existir e certamente renascerão nos quintos do inferno. Devemos lembrar, em paralelo, caso esse rompimento aconteça, os rejeitos de minério poderão chegar aos Rios São João, Conceição e Santa Barbara, que, por sua vez, se afluenciam ou desembocam ou desaguam aos leitos dos Rios Piracicaba e Doce.

Por falarmos nele, o Rio Doce poderá, pela segunda vez, se tornar um caminho natural da lama, vez que esses rejeitos da Mina Gongo Soco rolarão numa velocidade indescritível. Segundo uma encrenca chamada SEAMA, ou traduzindo para o português, (Secretaria de Estado e Meio Ambiente e Recursos Hídricos) em entrevista a vários jornais de ambos os Estados (MG e ES) informou que está “monitorando” as ações dos órgãos de controle no Estado Mineiro e Capixaba. Caso algo saia “fora dos controles”, eles, os “monitoradores” serão os primeiros a darem nos calcanhares, ainda que sem meias e sapatos.   

E a Vale? Falemos dela. A Vale senhoras e senhores Kikikikikiki não está nem ai. Quem morreu, que se foda! Indenização os possíveis e futuros falecidos receberão quando chegarem ao céu. Assim como os desvalidos de Mariana e Brumadinho, que até ontem à tarde toparam com o que a Chiquinha não esperava detrás do toco. Se a lama for boazinha e permitir, talvez os miseráveis “Barões Cocaianos” ganhem um rampeiro carneiro de terceira.

Resumindo caros leitores essa fuzarca: se o nosso país fosse sério, se os responsáveis por essas barragens honestos, ou tivessem consciência, ou amor às vidas humanas e não ao vil metal..., ao ganho fácil, se as nossas leis se fizessem severas e  justas, se a justiça botasse nas grades os abonadores e culpados por todas essas construções infames, talvez tivéssemos um mundo melhor, um mundo menos hipócrita e claro, menos filho da puta.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Sertãozinho, Ribeirão Preto, interior de São Paulo. 4-6-2019

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