Brasil teve avanços, mas mantém cenário de estagnação desde 2009
Mariana Tokarnia
A inclusão de mais estudantes nas
escolas brasileiras pode ter influenciado na nota do país no Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), diz a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela avaliação. De acordo
com Camila Lima de Moraes, especialista em Educação da OCDE, manter o
desempenho nesse cenário de expansão de oportunidades educacionais é uma
vitória para o país.
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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil |
“Quando [o Brasil] inclui, em 2003,
estudantes que já teriam saído e que agora estão na escola, eles tendem a ter
desempenho pior e a diminuir a média [do país no Pisa]. Um cenário em que o
país consegue manter o mesmo nível é uma vitória em si mesma”, afirma Camila.
O Pisa, que é aplicado de três em três
anos, é referência mundial. No ano passado, foi aplicado a 600 mil estudantes
de 15 anos de 79 países e regiões. No Brasil, cerca de 10,7 mil estudantes de
638 escolas fizeram as provas, que medem as competências em leitura, matemática
e ciências. Além disso, a critério dos países participantes, as provas podem
medir ainda o desempenho em competência financeira e resolução colaborativa de
problemas.
Os resultados do ano passado,
divulgados nesta terça-feira (3), mostram que o Brasil avançou alguns pontos em relação a 2015, mas
que mantém um cenário de estagnação do desempenho desde 2009.
Para Camila, que na manhã de hoje, participou
de webinário com jornalistas, a análise do resultado precisa
levar em consideração a inclusão e a permanência de estudantes nos sistemas de
ensino. Conforme os dados do Pisa, a partir de 2000, o Brasil incluiu mais
estudantes nas escolas. Entre 2003 e 2012, o país garantiu a permanência de
mais de 500 mil estudantes de 15 anos nos sistemas de ensino.
"Podemos assumir que os que
estavam na escola estavam indo melhor e os que não estavam [indo bem], não
estavam na escola", diz Camila, ressalta a especialista em educação.
"[E isso] pode mascarar eventuais melhoras", acrescenta Camila.
Os resultados mostram que o Brasil
está entre os países com pior desempenho na avaliação internacional. No Brasil,
cerca de 43% dos estudantes estão abaixo do nível 2, considerado a proficiência
mínima pela OCDE, tanto em leitura quanto em matemática e ciências. Entre os
países da OCDE, a média é de 13,4% com esse desempenho.
Na avaliação, o Brasil ficou no 57ª
lugar entre os 77 países e regiões com notas disponíveis em leitura. O país
ocupou a 70ª posição em matemática e a 64ª posição em ciências, junto com o
Peru e a Argentina, em um ranking com 78 países. China e
Singapura lideram a classificação nas três disciplinas. Nas três disciplinas, o
Brasil fica atrás de países latino-americanos como Costa Rica, Chile e México,
mas supera a Colômbia e o Peru em leitura e a Argentina. em leitura e
matemática.
Educação brasileira
Para o coordenador-geral da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a educação brasileira precisa de
investimento para oferecer educação de qualidade. “O Brasil, há muito tempo não
consegue avançar, não tem feito a lição de casa, não tem investido nos
professores. Os nossos alunos custam três vezes menos que os de países
desenvolvidos. A escola pública brasileira tira leite de pedra”, diz.
Segundo Cara, os resultados do Pisa
não podem servir para atacar as escolas públicas e devem ser um alerta para a
necessidade de cumprimento da legislação vigente, como o Plano Nacional de
Educação (PNE), que define as metas para serem cumpridas para a educação no
Brasil até 2024, e a Lei 11.738/2008, a chamada Lei do Piso, que estabelece o
salário inicial dos professores das escolas públicas. Este ano, o salário foi
reajustado para R$ 2.557,74 mensais.
Já o movimento Todos pela Educação
afirma que os resultados mostram que os professores são chave para a melhora
educacional. “Observando os países mais bem posicionados na avaliação do Pisa,
sabemos que eles têm diferenças culturais e tiveram diferentes trajetórias em
sua educação. Mas um elemento é comum a todos: o alto grau de
profissionalização e prestígio da carreira dos professores.”
De acordo com o Todos pela Educação,
isso significa uma alta atratividade da carreira para jovens de alto desempenho
no ensino médio, uma rigorosa formação para a profissão e, durante a trajetória
profissional, uma estrutura de desenvolvimento contínuo e apoio aos docentes
voltada para a melhora da prática pedagógica.
Os últimos dados divulgados pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
mostram que professores de escolas públicas ganham, em média, 74,8% do que
ganham profissionais assalariados de outras áreas, ou seja, cerca de 25% a menos.
Título e Texto: Mariana Tokarnia;
Edição: Nádia Franco – Agência Brasil, 3-12-2019, 14h45
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