quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

[Aparecido rasga o verbo] As coisas que perdemos dentro do nada

Aparecido Raimundo de Souza

A VIDA É BONITA, tão fácil de ser vivida e ao mesmo tempo meteoricamente passageira. De repente, num piscar de olhos, perdemos numa esquina qualquer o sopro divino que nos mantém vivos. A magia superior vinda do Altíssimo nos permite desfrutar do coração batendo acelerado e do sangue fluindo e fervendo nas veias… No passo seguinte tudo pode se esfacelar, apesar de o coração, juntamente com o sangue, carregar uma lacuna de contemplações enormes a nosso favor.

A vida é tão longa, vasta, distendida e espaçosa, que rodopiamos ao seu “deus-dará”, sugados pelo cardápio dos momentos mais intrincados. Nesse estirado, embriagados pela overdose de bebidas perniciosas, deixamos que o “tudo de bom e de belo” se dissolva no ralo do esquecimento. No mesmo embornal, as pessoas que amamos e por quem temos apreço se vão de contrapeso. Num estalar de dedos concordamos que os amigos de longa data, os verdadeiros que nos deixaram, por alguma estupidez crônica nunca mais retornem.

Choramos nossos entes queridos; e no passo adiante, nos vemos num beco sem saída. Apesar de ser assim, nem por esta razão a vida deixa de ser fácil ou difícil, menos ainda de ser vivida e, claro, de ser fugaz, tênue, arisca e efêmera. A vida nos dá muitas razões para sermos completamente realizados. Mil outras como um tornado hipnotizante de cor azul-celeste exatamente para contemplarmos o que o Pai Maior nos reservou. Ela nos doa, por exemplo, a regalia da visão nirvana, a calmaria plena que nos proporciona pasmar estatelados diante de uma flor se abrindo num jardim qualquer ao longo do nosso destino.

Nos privilegia ao vermos uma criança nascendo, os dias esplendorosos se formando atrás de montanhas solitárias. Nos concede a introspecção de vibrarmos sonhando com as noites de lua cheia, nos abrasa igualmente ao admirarmos as estrelas piscando como se fossem sardas na pele suave da escuridão. Contudo, levados pela miopia e carentes de discernimento trazidos de berço, deixamos tudo de lado. Esquecemos a felicidade plena para, num segundo torná-la um inferno. Nos metemos de corpo e alma num purgatório sem volta.

A vida é passageira, breve, veloz… Em vez de tentarmos vivê-la com a majestade que nos é permitida, saímos à cata de uma rota intermediária passando por sendas obscuras, onde um redemoinho de desgraças e infortúnios se formará em nossa contiguidade, prendendo nossas esperanças e nos aniquilando o espírito em descomedida consternação. Nesse esmorecimento, nosso “eu” se enfurece por não aceitarmos, não concordarmos ou não tolerarmos viver com a fogosidade merecida.

Nessa hora virulenta e amarga, fulminante e abominável, temos a impressão de estarmos desfolhando o inespacial, o intangível ou ainda o inexistente. São tantas coisas miúdas e vulgares que criamos à beira de nossa realidade… Erguemos uma espécie de muro intransponível, pior que o de Berlim. Cavamos um vazio tão arroubado, um buraco tão profundo e obscurecido, tão inaudito e desproporcional, que o ensombrado nos suga o proveito da fortuna, o abraço da alegria e o afluxo ao domínio da ventura e da serenidade perpétua da alma.

Todas estas coisas perdemos assim, sem mais nem menos… NO MEIO DO NADA. São milhares as coisas que jogamos dentro desse nada, que relegamos ao “que se dane”; que o discernimento, o bom senso, a praticidade de colocarmos um ponto-final na nossa devassidão, ou seja, na solidão mórbida que alimentamos pelo desconforto de não fecundarmos uma visão beatificante do que é certo e do que não é, que a essência de tudo, cansada e ofegante, se perda contaminada em meio a uma coluna de fumaça intransponível.

A vida é bela, gloriosa, magnânima e fácil de ser vivida… E apesar de compreendermos a sua breve e rasteira passagem, amamentamos o arrojo animalesco de fecharmos os punhos e darmos socos na própria sorte, não atinando com o desvão que nos permitirá seguir sem complicações até chegarmos ao porto seguro de dias benignos e brandos que o Senhor nos deixou sem pedir nada em troca. Nesse vaivém estropiado, tropeçamos aqui e acolá; nos despojamos, nos deterioramos, nos desesperamos por tão pouco, quando o “o muito” cansou de bailar à frente do nosso nariz.

O pior de tudo é que ficamos cativos e submissados da iminência da vertigem anunciada, do “agora não tem mais volta, chegamos ao fim do poço”. Nem sequer endereçamos a esse “muito” sutil, um olá, ou um “oi” ainda que pronunciado de cara amarrada ou entre dentes. Por isso, a vida se torna difícil, trabalhosa, custosa, complexa, intrincada, aguda, íngreme e temerária. A vida é tão fácil de ser vivida, levada, tão à-toa, transitável e desintrincada… Porém, como nossa mente é dura como uma pedra no meio do caminho, e a cabeça mais alpestre e resistente que o embondeiro, fazemos questão de torná-la brusca, assoberbada, inviável e ao mesmo tempo F A T A L. 
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Campinas, São Paulo. 17-12-2019

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4 comentários:

  1. A morte muitos querem esplicar como e o anjo da morte como se fosse um terrível mal alguns contenplam uma face bela outra terrivel como a escuridão e calmaria muitos foram so um voutou o paleto preferido a calsa desbotada um carinho inestimável quando morre não escolhe a propia roupa da ultima viagem ninguém vai notar ironia do destino ou fim de uma longa vaidade muitos gostam de buquer de flores mas quando chegam na porta da cidade levantam as mãos para tapar as narinas por cauza do perfume que exala das flores que estão morrendo querem muito que os entes queridos não partisem más no fundo ja não viam o momento do adeus corremos tanto nesta vida cansamos e acabamos sendo carregados para o ultimo passo incrível como somos ipocritas nosso vigor nos fas melhir que o semelhante nosso trabalho é mais rentável nosso carro tem que ser o do ano más acabamos no mesmo lugar a onde esta o fraco o que tinha uma só bicicleta o que não tinha nada más uma ves ironia do destino aqueles que ficam querem se amostrar um palito de madeira muito mais caro do que o do vizinho e acabarmos um do lado do outro no mesmo lugar a onde as flores não cheiram más fedem a onde acaba nossa mordomia nossa alegria nossas fantazias a nova jornada por enquanto sem endereço serto como se andasemos no dezerto sem rumo e sem sucesso coisa que buscamos todos os dias para acabar em nada somos como os pés de tamareiras so da fruto depois dos cinqüenta anos más neste estado ha avançado quem coli os frutos são aqueles que nos jogam em um asilo ou na rua a realidade da vida viver e aprender a ganhar e perder se madurarmos demais acabamos podres ...deixo um abrasço Pará nosso querido Aparecido Raimundo de Souza otimo escritor

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  2. Concordo plenamente com o amigo Erivaldo, nosso amigo carinhosamente alcunhado de "Preto", esposo da nossa amiga (minha e de Aparecido), a cantora Edna Araujo. O anjo (ou anja)da morte não se explica. Tentar explicar ou compreender a morte, é chover no molhado, dar murros em ponta de faca. Nadar, nadar e morrer na praia. Aparecido retrata a Senhora Morte como uma jovem simpática de humor apurado, moça faceira que chega sem dar sinais e faz o que tem de fazer e fim de papo. A morte é a única certeza que temos. Por essa razão, não devemos pensar nela. Vamos seguir os caminhos do autor do texto acima. Aparecido nos explica que "a vida é passageira, breve, veloz". Vamos viver a vida com a intensidade que Deus Pai nos permite. O resto, a gente deixa para pensar depois...
    Carina Bratt de Sertãozinho, Ribeirão Preto, interior de São Paulo. FELIZ NATAL A TODOS, ESPECIALMENTE AO NOSSO EDITOR, SENHOR JIM PEREIRA. Saúde, Graça e PAZ.

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    1. Muito obrigado, Carina! Retribuo em dobro pra você e os que lhe são queridos!

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  3. VAMOS FILOSOFAR...
    ANJO DA MORTE É UM PARADOXO.
    Certeza de onde e quando não há.
    A morte não possui relógio, nem ampulheta.
    Ela não conta luas nem dias no seu ábaco.
    A vida com minhas sinceras desculpas ao Aparecido, não é breve , nem veloz.
    Não infância nos parece lenta e vagarosa, na juventude despreocupada, quando adulto nas incerteza o tempo, na velhice célere como o leopardo.
    Isso é a base da teoria da relatividade de Einstein.
    Outro cientista LAVOISIER em 1777 escreveu o teorema da vida.
    “Em uma reação química feita em recipiente fechado, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos.”
    TEOREMA É UMA VERDADE INCONTESTÁVEL.
    A MORTE É O RETORNO DA SAÚDE DO PLANETA RECOLHENDO DE VOLTA O QUE TIRAMOS DELA.
    O HOMEM ESQUECE, mas para cada transformação do equilíbrio natural, rouba-se o próprio equilíbrio.
    Nós somos predadores de nós.
    Ficamos aqui no andor trocando mensagens de paz e felicidades que não necessitamos, esquecendo os que verdadeiramente necessitam.
    Na paz morrem os pais defendendo filhos, na guerra morrem os filhos defendendo pais." PARADOXO DA PAZ"
    MEUS ABRAÇOS A TODOS e que o novo ciclo solar da terra ilumine igual para todos.
    fui...

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