Agência Senado
A Comissão de Relações
Exteriores sabatinou e aprovou por unanimidade nesta quinta-feira (13) o nome
de Nestor José Forster Junior, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para
ocupar a embaixada brasileira nos Estados Unidos. A indicação seguiu com
urgência para o Plenário, onde será necessária a aprovação por maioria absoluta
dos senadores (no mínimo 41) para que ele assuma um dos principais cargos da
diplomacia brasileira. A cadeira, contudo, não é novidade para Forster. Ele vem
ocupando interinamente o cargo há cerca de um ano, como encarregado de negócios
da representação brasileira.
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Nestor Forster e o presidente
da comissão, Nelsinho Trad. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O diplomata considerou que a
visita de Bolsonaro ao presidente americano, Dolnald Trump, em maio de 2019,
foi uma “virada de página” nas relações bilaterais Brasil-EUA. A partir daquele
momento, disse, os Estados Unidos reconheceram o pleito do Brasil para
ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ele explicou que parte da estratégia para que isso aconteça foi a retirada do
Brasil da lista dos países em desenvolvimento, como uma forma de acesso, no
futuro, à organização, que é composta por 36 países.
Na sabatina, Forster citou que
há perspectiva de aumento em cooperação na área militar e de defesa, uma vez
que o Brasil ganhou o título de aliado preferencial extra da Otan. A embaixada,
segundo ele, tem o desafio de aprofundar a cooperação científica, tecnológica e
espacial porque o Brasil está sendo convidado a integrar importantes projetos
em centros de pesquisa norte-americanos. O diplomata também destacou como
resultado da visita de Bolsonaro o acordo de salvaguardas tecnológicas e a
cooperação na base brasileira de Alcântara para lançamento de satélites.
— Depois de 20 anos, pudemos
finalmente concluir o acordo, e isso dependeu em boa parte da celeridade com
que o Congresso o aprovou, abrindo as portas para uma nova etapa de cooperação
científica e tecnológica, especialmente na área espacial.
Ainda sobre o papel do
Legislativo nas relações bilaterais, Forster se disse favorável a um
intercâmbio maior com os deputados e senadores dos EUA.
— Temos um espaço enorme para
a diplomacia parlamentar, para aumentar o diálogo entre os Legislativos dos
dois países. A diplomacia entre os países não deve se limitar a conversas entre
os servidores do Executivo. É preciso avançar além da troca de informações
sobre os projetos de lei e troca de experiências entre os parlamentares.
Uma das áreas citadas como de
interesse comum foi a Amazônia. Forster sugeriu convidar os parlamentares dos
EUA para conhecer a realidade da região, separando mitos ou fake news e
enfrentando os temas com realismo. Para exemplificar, disse que as queimadas do
ano passado estavam dentro da média histórica e menor que a de anos como 2010,
2007 e 2005.
— Nosso trabalho é esclarecer
certos exageros, desfazer a fumaça. Mostrar que o governo brasileiro continua
comprometido com o desenvolvimento sustentável, mas existem duas pernas, uma
delas é a sustentabilidade e o meio ambiente, mas há também o desenvolvimento
econômico.
O diplomata afirmou que não é
possível aos cerca de 25 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica
serem relegados ao extrativismo.
— Queremos que essas pessoas
melhorem a qualidade de vida com acesso aos serviços públicos e ao
desenvolvimento.
O senador Fernando Collor
(Pros-AL) afirmou que o Brasil deveria trabalhar para que os Estados Unidos
voltem ao Acordo de Paris, para ele a única solução na área ambiental. Collor
também sugeriu que o Brasil se empenhe para derrubar o embargo a Cuba pelo
problema humanitário causado pelo isolamento do país. Segundo o senador, cerca
de 800 crianças cubanas, com menos de três anos de idade, estariam precisando
de um remédio para o coração que é fabricado por um laboratório
norte-americano.
Fronteiras
Forster avaliou que no último
ano os maiores CEOs dos Estados Unidos e do Brasil se aproximaram e lembrou que
foi lançado o programa de simplificação de entrada nos aeroportos conhecido
como Global Entry para os brasileiros e norte-americanos que viajam
frequentemente para negócios e pesquisas, por exemplo.
Segundo ele, o programa de
isenção de vistos para os norte-americanos aumentou em 15% o número de turistas
dos EUA no Brasil, implementando o emprego e a renda das áreas que os
receberam.
De acordo com o diplomata, há
atualmente cerca de 1,3 milhão de brasileiros vivendo nos EUA e “as autoridades
americanas têm apreço por essa comunidade que é ordeira e trabalhadora e que
contribui para a economia local”. Forster apontou, contudo, um aumento
exponencial no número de deportados, cerca de 18 mil em 2019, 10 vezes maior
que o registrado no ano anterior.
— Investigações policiais
mostraram que organizações criminosas de imigração ilegal que atuavam na
América Central se redirecionaram para a América do Sul para levarem famílias.
Estamos acompanhando de perto o processo de cada um e, geralmente, eles mesmos
pedem para voltar, afinal ninguém quer esperar preso a um processo que
provavelmente lhe será desfavorável.
O senador Antonio Anastasia
(PSDB-MG) reiterou a necessidade de a embaixada brasileira estar atenta à
imensa população mineira que mora nos EUA de maneira regular ou ainda ilegal, e
das necessidades de apoio. Ele lembrou que há grandes comunidades de
mineiros em alguns estados norte-americanos e a fonte de renda deles é
importante até para o sustento das famílias que ficaram no Brasil.
Alinhamento
Forster rebateu a crítica do
senador Jaques Wagner (PT-BA) de que seria preocupante o “alinhamento
automático” do Brasil com os Estados Unidos.
— São dois países grandes e
soberanos, não há subserviência nem subordinação alguma. Mas é fato que todos
os grandes países que deram saltos econômicos nos últimos anos tiveram uma
relação especial com os Estados Unidos e se beneficiaram disso.
Wagner acusou o governo de
promover a “ideologização da diplomacia brasileira” e defendeu uma relação
aberta com os países. Ele criticou situações que o preocupam, como a postura do
governo brasileiro na ocasião da morte do líder iraniano Qassem Soleimani.
— Essa é uma guerra que não
nos interessa, da qual não fazemos parte. É inconveniente. Sou a favor de uma
diplomacia pragmática, na qual defendemos o que for bom para o país.
Carreira
Nestor Forster é de Porto
Alegre, graduado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e em História pela mesma instituição. Ele ingressou na
carreira diplomática em 1986. Já foi oficial de gabinete da Subsecretaria Geral
da Presidência da República (1990/92) e chefiou o Setor de Política Comercial
da embaixada em Washington (1992/95) e o Setor Econômico da Embaixada em
Ottawa, no Canadá (1995/98). Depois foi chefe de gabinete do advogado-geral da
União (2002) e no ano seguinte voltou aos EUA para chefiar o Setor Financeiro
da embaixada em Washington (2003/06). Virou encarregado de negócios da
embaixada no ano passado.
Título e Texto: Agência Senado, 13-2-2020, 15h49
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