terça-feira, 3 de setembro de 2024

“Depois de um tempo deixamos de saber de quem é a autoria da repetição e acabamos por acreditar nela”

Ilustração: @omeditante

Gustave Le Bon

[…]

No entanto, quando se trata de colocar ideias e crenças na mente das massas – teorias sociais modernas, por exemplo – os processos dos líderes são diferentes. Eles recorrem principalmente a três processos muito claros: afirmação, repetição e contágio. A ação é muito lenta, mas os efeitos dela, uma vez produzidos, são duradouros.

A afirmação pura e simples, livre de qualquer raciocínio e prova, é um dos meios mais seguros para fazer uma ideia penetrar na mente da multidão. Quanto mais concisa a afirmação, quanto mais desprovida de qualquer aparência de prova e demonstração, mais autoridade terá.

Livros e códigos religiosos de todas as épocas sempre procederam pela simples afirmação. Estadistas chamados a defender qualquer causa política e fabricantes que divulgam os seus produtos pela publicidade conhecem o valor da afirmação.

A afirmação, no entanto, não tem influência efetiva a menos que seja constantemente repetida e, tanto quanto possível, nos mesmos termos. Creio que terá sido Napoleão a dizer que só existe uma figura séria da retórica: a repetição. O que é afirmado consegue, pela repetição, estabelecer-se nas mentes ao ponto de ser aceite como uma verdade demonstrada.
Compreendemos bem a influência da repetição nas massas, vendo o quão poderosa ela é nas mentes mais iluminadas.

Esse poder deriva do fato de que o que é repetido acaba embutido nessas regiões profundas do inconsciente onde se criam os motivos das nossas ações. Depois de um tempo deixamos de saber de quem é a autoria da repetição e acabamos por acreditar nela. Daí a força surpreendente da publicidade.

Quando lemos cem vezes, mil vezes, que o melhor chocolate é o X, imaginamos que ouvimos essa afirmação em toda a parte e acabamos por nos convencer disso.

Quando lemos mil vezes que a farinha Y curou os maiores personagens das doenças mais teimosas, acabamos por ser tentados a experimentá-la no dia em que tivermos uma doença do mesmo tipo.

Se lemos sempre no mesmo jornal que A é um perfeito patife e B um homem muito honesto, acabamos por nos convencer disso, a menos, é claro, que se leia muitas vezes outro jornal de opinião contrária, onde as duas qualificações se invertem. Afirmação e repetição por si só são suficientemente poderosas para lutar uma contra a outra.

[…]

Título e Texto: Gustave Le Bon, in “Psicologia das massas”, páginas 104 e 105; Digitação: JP, 3-9-2024

Relacionado:
[Livros & Leituras] A psicologia das massas  

Se lemos sempre no Globo e assistimos sempre na Globo News que Jair Bolsonaro  é um perfeito patife e Lula da Silva um homem muito honesto (não deve nada à Justiça), acabamos por nos convencer disso, a menos, é claro, que leiamos também tantas vezes outro jornal de opinião contrária ou diferente, por exemplo, Gazeta do Povo, Revista Oeste, Oeste sem filtro… 

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