O verdadeiro Dia da
Restauração
Se o 1.º de Dezembro tem sido
até agora feriado nacional, já o mesmo não sucedeu nunca com a data em que a
Espanha reconheceu definitivamente, pelo verdadeiro Tratado de Lisboa, a
independência portuguesa
Luís Almeida Martins
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Batalha de Montes Claros As sucessivas vitórias militares portuguesas sobre a potência espanhola surpreenderam o mundo nos meados do século XVII |
Durante 60 anos, entre 1580 e
1640, Portugal esteve integrado na poderosa monarquia espanhola dos Habsburgos,
também conhecida por Casa de Áustria. Filipe II, Filipe III e Filipe IV de
Espanha reinaram por cá com os nomes de Filipe I, Filipe II e Filipe III - como
diria o outro, por causa da diferença de fuso horário...
Chegara-se a esta situação por
D. Sebastião ter desaparecido (na desastrosa Batalha de Alcácer Quibir) sem
deixar filhos e por o "número um" na sucessão da coroa portuguesa ser
Filipe II de Espanha, neto do nosso D. Manuel I. Muitos portugueses,
naturalmente, tentaram reagir, mas as coisas estiveram longe de correr como
dois séculos antes, em 1385, e Portugal viu-se assim envolvido nas desgastantes
guerras da Espanha contra a Inglaterra e os Países Baixos, que custaram
fortunas, vidas e parte do império colonial.
Quando menos se esperava,
acabou por ser sacudido o jugo. Foi em 1 de dezembro de 1640, quando alguns
fidalgos conjurados foram ao Paço matar e atirar pela janela o secretário de
Estado Miguel de Vasconcelos e aprisionar a duquesa de Mântua, prima de Filipe
IV de Espanha; logo a seguir, proclamaram rei de Portugal D. João, duque de
Bragança, com o título de D. João IV. Acabavam assim, num festivo Terreiro do
Paço, os 60 anos de domínio espanhol? Não: faltava o mais difícil, que era
consolidar a independência tão facilmente reconquistada em menos de uma hora,
numa manhã em que Lisboa acordara a bater o dente de frio.
Por sorte, o gigantesco império de Filipe IV, o maior que o mundo já conheceu, estava nesse tempo embrulhado em guerras por toda a parte. Primeiro tinha sido a revolta da Catalunha; depois foi o envolvimento na Guerra dos Trinta Anos, onde o adversário direto era a poderosa França do cardeal Richelieu. Não que Portugal tivesse deixado de interessar a Madrid, mas a verdade é que a Espanha não tinha tempo para respirar.
O nosso país teve também a
sorte rara de dispor então de um primeiro-ministro competente, o conde de
Castelo Melhor. Obtida a colaboração da França e da Inglaterra, Portugal pôde
reestruturar com relativa calma o seu exército, cujo comando foi conferido ao
alemão Schomberg.
E assim, após uma quase trégua
de 20 anos ditada pela situação de sufoco em que se encontrava a Espanha,
começou por fim a fase mais acesa de uma guerra em que as vitórias portuguesas
sobre exércitos do país vizinho foram surgindo (como diria uma popular figura)
com tranquilidade... Primeiro deu-se a Batalha das Linhas de Elvas, em 14 de
janeiro de 1659, com os portugueses comandados por D. Sancho Manuel e pelo
marquês de Marialva. Seguiu-se a do Ameixial, perto de Estremoz, em 8 de
Janeiro de 1663, onde os nossos tiveram à frente Schomberg e o mesmo Sancho
Manuel. No ano seguinte, a 7 de julho, Pedro Jacques de Magalhães deu uma
tareia aos invasores em Figueira de Castelo Rodrigo e, a 17 de julho de 1665,
Schomberg e Marialva alcançaram feito idêntico em Montes Claros, nas imediações
de Borba. E não se tratou de escaramuças, mas de batalhas a valer, por vezes
com mais de 20 mil soldados de cada lado. Ao mesmo tempo, os invasores
holandeses eram expulsos de Ceuta, Malaca, Ormuz, Ceilão e de vastas zonas do
Brasil e de Angola. Independentemente da situação depressiva em que se
encontrava a Espanha, a Guerra da Restauração foi, sem dúvida, uma manifestação
de vitalidade portuguesa para muitos inesperada e hoje algo surpreendente.
O tratado de paz viria a ser
assinado em 13 de fevereiro de 1668, em Lisboa. A Espanha reconhecia finalmente
a independência de Portugal, dentro das fronteiras de 1580. Castelo Melhor ainda
sugerira que a Galiza nos fosse entregue, mas houve quem achasse mais prudente
não impor tão pesada pena aos derrotados. Valia ou não valia esta data um
justificadíssimo feriado nacional?
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