quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

10 datas que nunca foram feriado: Chegam as ideias novas

24 de agosto de 1820
Chegam as ideias novas
A revolta liberal do Porto (também conhecida por Revolução de 1820) pôs em andamento as ideias da Revolução Francesa, já antes transportadas na bagagem dos invasores napoleónicos

Assembleia Constituinte
Pela primeira vez, representantes eleitos pelo povo reuniram-se para redigir uma Constituição

Luís Almeida Martins
Durante as invasões napoleónicas, normalmente designadas por Invasões Francesas, o povo português pôde contactar com as ideias novas de "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" levadas à prática além-Pirenéus durante a Grande Revolução iniciada em 1789 e para cá trazidas pelos soldados da Grande Armée, simultaneamente ocupantes e libertadores. Por outro lado, com a partida da corte de D. João VI para o Brasil, a fim de escapar à abdicação pretendida pelos franceses, a população nacional chamou a si a resolução dos problemas que lhe diziam respeito, habituando-se a decidir pela própria cabeça.
 
Resultado: em 24 de agosto de 1820 estalou no Porto uma revolução liberal chefiada por Manuel Fernandes Tomás, um juiz-desembargador do Tribunal da Relação que fundara - juntamente com Ferreira Borges e Silva Carvalho (nomes que os lisboetas identificam como de ruas do bairro de Campo de Ourique) - uma associação secreta chamada Sinédrio. Do Porto, o movimento estendeu-se ao resto do País, e em Lisboa foi formado em 28 de setembro um governo muito inovador para a época.
 
A Corte na altura ainda não voltara do Brasil, o que facilitou bastante a tarefa dos revolucionários. O poder, oficialmente nas mãos de uma Regência, era na prática exercido pelo marechal William Beresford, um irlandês que tinha participado na expulsão das tropas napoleónicas de Portugal e da Península Ibérica. E, a 23 de setembro de 1822, entrava em vigor a primeira Constituição portuguesa.
Como diria Monsieur de La Palisse, Portugal não vive isolado no mundo - e esta Revolução de 1820 foi uma das muitas que houve então por essa Europa fora - sem falar da América Latina, que se libertava também na altura da tutela ibérica. Não admira que assim fosse. Depois da derrota de Napoleão, que à sua maneira representava a Revolução Francesa, os políticos conservadores recuperaram o pé e restauraram as antigas monarquias. Os povos é que não se submeteram a esse regresso ao passado e, liderados por vanguardas esclarecidas (quase sempre elementos da maçonaria), voltaram a fazer abanar os tronos, como sucedera na França em 1789. Seguiram-se épocas de grande confusão, com os partidários do absolutismo a voltarem à carga, golpes de Estado e guerras civis. E a tranquilidade política, com o triunfo liberal, só se instalaria mesmo por volta de 1850. 

Portugal viveu num regime liberal até 1926, sob a forma de Monarquia Constitucional até 1910 e em República democrática nos restantes 16 anos. Como todos sabemos bem, em 1926, com a instauração da Ditadura Militar, a que se seguiu em 1933 o Estado Novo salazarista, o País voltou a cair numa situação semelhante ao Antigo Regime. Durante mais de 40 anos, o poder passou a ser exercido de forma absoluta por um só homem, no qual os grandes empresários e os financeiros depositavam a sua confiança e que os militares apoiavam. Pelo menos duas gerações desconheceram a liberdade, criadas na ideia de que não se podia sequer criticar o governo, sob pena de quem o fizesse ir parar à cadeia e ser torturado. Até que, em 1974, regressou a democracia. 
Mas tudo começou em 1820, com a revolução liberal do Porto. Excelente data para um feriado nacional que nunca chegou a existir.
Título, Imagem e Texto: Luís Almeida Martins, revista Visão, nº 981, 28-12-2011

Um comentário:

  1. EXCELENTE.


    Concordo, irmão.


    Por essas e outras que sou fã do general corso.


    Viva Napoleon Bonaparte, o Maior Homem da História.


    LIBERDADE. IGUALDADE. FRATERNIDADE.

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