Chegam as ideias novas
A revolta liberal do Porto
(também conhecida por Revolução de 1820) pôs em andamento as ideias da
Revolução Francesa, já antes transportadas na bagagem dos invasores
napoleónicos
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Assembleia Constituinte Pela primeira vez, representantes eleitos pelo povo reuniram-se para redigir uma Constituição |
Luís Almeida Martins
Durante as invasões
napoleónicas, normalmente designadas por Invasões Francesas, o povo português
pôde contactar com as ideias novas de "Liberdade, Igualdade,
Fraternidade" levadas à prática além-Pirenéus durante a Grande Revolução
iniciada em 1789 e para cá trazidas pelos soldados da Grande Armée,
simultaneamente ocupantes e libertadores. Por outro lado, com a partida da
corte de D. João VI para o Brasil, a fim de escapar à abdicação pretendida
pelos franceses, a população nacional chamou a si a resolução dos problemas que
lhe diziam respeito, habituando-se a decidir pela própria cabeça.
Resultado: em 24 de agosto de
1820 estalou no Porto uma revolução liberal chefiada por Manuel Fernandes
Tomás, um juiz-desembargador do Tribunal da Relação que fundara - juntamente
com Ferreira Borges e Silva Carvalho (nomes que os lisboetas identificam como
de ruas do bairro de Campo de Ourique) - uma associação secreta chamada
Sinédrio. Do Porto, o movimento estendeu-se ao resto do País, e em Lisboa foi
formado em 28 de setembro um governo muito inovador para a época.
A Corte na altura ainda não
voltara do Brasil, o que facilitou bastante a tarefa dos revolucionários. O
poder, oficialmente nas mãos de uma Regência, era na prática exercido pelo
marechal William Beresford, um irlandês que tinha participado na expulsão das
tropas napoleónicas de Portugal e da Península Ibérica. E, a 23 de setembro de
1822, entrava em vigor a primeira Constituição portuguesa.
Como diria Monsieur de La
Palisse, Portugal não vive isolado no mundo - e esta Revolução de 1820 foi uma
das muitas que houve então por essa Europa fora - sem falar da América Latina,
que se libertava também na altura da tutela ibérica. Não admira que assim
fosse. Depois da derrota de Napoleão, que à sua maneira representava a
Revolução Francesa, os políticos conservadores recuperaram o pé e restauraram
as antigas monarquias. Os povos é que não se submeteram a esse regresso ao
passado e, liderados por vanguardas esclarecidas (quase sempre elementos da
maçonaria), voltaram a fazer abanar os tronos, como sucedera na França em 1789.
Seguiram-se épocas de grande confusão, com os partidários do absolutismo a
voltarem à carga, golpes de Estado e guerras civis. E a tranquilidade política,
com o triunfo liberal, só se instalaria mesmo por volta de 1850.
Portugal viveu num regime
liberal até 1926, sob a forma de Monarquia Constitucional até 1910 e em
República democrática nos restantes 16 anos. Como todos sabemos bem, em 1926,
com a instauração da Ditadura Militar, a que se seguiu em 1933 o Estado Novo
salazarista, o País voltou a cair numa situação semelhante ao Antigo Regime.
Durante mais de 40 anos, o poder passou a ser exercido de forma absoluta por um
só homem, no qual os grandes empresários e os financeiros depositavam a sua
confiança e que os militares apoiavam. Pelo menos duas gerações desconheceram a
liberdade, criadas na ideia de que não se podia sequer criticar o governo, sob
pena de quem o fizesse ir parar à cadeia e ser torturado. Até que, em 1974,
regressou a democracia.
Mas tudo começou em 1820, com
a revolução liberal do Porto. Excelente data para um feriado nacional que nunca
chegou a existir.
Título, Imagem e Texto: Luís
Almeida Martins, revista Visão, nº 981, 28-12-2011
Anterior: O verdadeiro Dia da Restauração
Continua em: O triunfo do liberalismo
EXCELENTE.
ResponderExcluirConcordo, irmão.
Por essas e outras que sou fã do general corso.
Viva Napoleon Bonaparte, o Maior Homem da História.
LIBERDADE. IGUALDADE. FRATERNIDADE.