Portugal, superpotência
mundial
A assinatura do Tratado de
Tordesilhas, entre Portugal e a Espanha, repartiu o planeta pelos dois estados
ibéricos
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Tordesilhas A assinatura do Tratado |
Luís Almeida Martins
Custa a acreditar, mas chegou
a acontecer. Para indignação de outros Estados europeus, o Portugal de D. João
II e a recém-formada Espanha dos "Reis Católicos" Fernando de Aragão
e Isabel de Castela dividiram entre si o domínio da Terra!
Hoje, uma coisa assim não nos
entra facilmente na cabeça. O que são agora os países ibéricos (ou o que é
mesmo a própria União Europeia) ao lado de gigantes como os EUA ou a China,
para já não falar de potências emergentes como o Brasil e a Índia? Mas nos
finais do século XV a coisa era completamente diferente.
Depois da conquista de Ceuta,
Portugal começara a enviar navios para explorar a costa de África, abrindo à
Europa (que até então só viajava no Mediterrâneo e nas águas costeiras do
Atlântico) o verdadeiro caminho dos oceanos. A Espanha viera depois atrás, por
paradoxal "culpa" do mais visionário rei português de sempre, D. João
II, o "Príncipe Perfeito", que ao recusar navios ao enigmático
Cristóvão Colombo o empurrara indiretamente para os braços dos vizinhos
"Reis Católicos". O certo é que os dois estados puderam dar-se ao
luxo de combinar entre si quais as terras a descobrir é que ficariam para um e
quais as que ficariam para o outro. O rei de França Francisco I ficou muito
irritado quando soube de uma tal desfaçatez e pediu (não sem alguma
pertinência) que lhe mostrassem o testamento de Adão.
O famoso e memorável tratado
chama-se "de Tordesilhas" porque foi assinado na cidade castelhana
deste nome, perto de Valladolid. D. João II, tinha ficado com muitas dúvidas quanto
à legitimidade da apropriação do Novo Mundo (descoberto por Colombo) pela
Espanha. Na sequência de um diferendo sobre a posse das Canárias já tinha
havido uma anterior combinação, o Tratado das Alcáçovas, assinado em 1479, que
regulamentava a posse das ilhas a serem descobertas no Atlântico. Mas o Tratado
de Tordesilhas seria mais preciso a esse respeito, para que não houvesse margem
a dúvidas.
Estes acordos eram celebrados
sob a égide do Papa, porque desde o século XII considerava-se que todas as ilhas
por descobrir pertenciam ao bispo de Roma, pelo que só ele podia, por assim
dizer, outorgá-las a outro proprietário. A ideia parece absurda, mas se
pensarmos um bocadinho veremos que não o era tanto assim. Com efeito, na Idade
Média imaginava-se o oceano tão naturalmente carregado de ilhas como as árvores
de folhas, e nada mais natural do que, sendo essas ilhas virgens, elas
pertencessem ao Criador, "representado" na Terra pelo Papa. Além
disso, num tempo em que não existia ONU nem nada de equivalente, só a Santa Sé
possuía autoridade moral para servir de mediadora entre os Estados litigantes.
Falamos, claro está, dos estados da chamada Cristandade, pois naquele tempo o
mundo estava ainda dividido em compartimentos que se desconheciam uns aos
outros.
E o Tratado de Tordesilhas lá
foi assinado. Estipulava ele que todas as terras a descobrir a oeste de um
meridiano que passava a 370 léguas da ilha de Santo Antão, no arquipélago de
Cabo Verde, pertenceriam à Espanha, e todas aquelas que se encontrassem a leste
dessa mesma linha caberiam a Portugal. D. João II, que já estava informado da
existência de um território que viria depois a chamar-se Brasil, conseguiu
negociar a colocação da linha divisória de modo a que ele viesse a pertencer ao
hemisfério português. Visão de "Príncipe Perfeito". Mas já lá iremos
mais adiante. Para já, reflita-se nisto:
haveria feriado nacional mais justificado do que aquele que comemorasse a data
em que o nosso país se tornou uma das duas superpotências?...
Título, Imagem e Texto: Luís
Almeida Martins, revista Visão, nº 981, 28-12-2011
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Continua em: A viagem que mudou o mundo
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