Tavares Moreira
1. Tenho aqui dedicado particular atenção à
evolução das contas com o exterior (Balança de Pagamentos) pela razão simples
de que estas contas constituem um barómetro fundamental para se interpretar a
tendência da actividade económica no País e, em especial, perceber até que
ponto essa tendência é sustentável.
2. Deixei um último post com base no desempenho destas contas até Junho, no qual denunciava
alguma deterioração relativamente a 2013; tal como na altura assinalei, tal
deterioração não era ainda motivo de preocupação, embora justificasse a atenção
dos decisores político-económicos.
3. Pois bem, chegados a Agosto (Boletim Estatístico
do BdeP divulgado a 20 do corrente), constata-se uma sensível melhoria nas
contas externas, a qual terá apanhado de surpresa os habituais comentadores de
serviço: é de resto sintomático o total silêncio com que esta informação foi
recebida pelos media, em contraste com alguma “chinfrineira” que as notícias
menos boas de Junho e de Julho tinham provocado…
4. Concretamente, verifica-se que o saldo da
Balança Corrente até Agosto é positivo, de € 344,1 milhões (€ 483,4 milhões em
igual período de 2013), ao contrário do que sucedia até Julho (negativo, €
961 milhões).
5. Por sua vez, o saldo conjunto das Balanças de
Bens + Serviços é agora confortavelmente positivo, de € 1877,9 milhões, que
compara a € 2.700,8 milhões em 2013.
6. Onde se assinala uma importante melhoria é na
Balança de Rendimentos: apresenta nestes primeiros 8 meses um saldo negativo de
€ 1.533,2 milhões, sendo que no mesmo período de 2013 o saldo negativo era de €
2.217,7 milhões.
7. Finalmente, ao nível do saldo conjunto das
Balanças Corrente e de Capital – o saldo de todos os saldos – apura-se este ano
um excedente de € 2.044,6 milhões, pouco inferior ao de 2013, que era de €
2.133,7 milhões.
8. Ora aqui
temos, pois, um bom motivo para o silêncio dos media: como se trata de boas
notícias (imputáveis em grande medida às Empresas e às Famílias), não há
nenhuma desgraça a assinalar, nada há a dizer. O que de certo modo se estranha
é o silêncio de alguns opinion-makers, nomeadamente os da especialidade - será
que também eles resolveram optar agora, em exclusivo, pelo elogio da desgraça?
Título e Texto: Tavares Moreira, "4R – Quarta República", 22-10-2014
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