quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O dragão na garagem de Rodrigo Janot. Ou: ceticismo político se opõe à credulidade política

Luciano Henrique

Enfim, nada de novo: o procurador geral de Dilma, Rodrigo Janot [foto], denunciou Eduardo Cunha. Leia mais, conforme a Folha de S. Paulo:

A PGR (Procuradoria Geral da República) denunciou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o senador Fernando Collor (PTB-AL) ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (20). Cunha foi denunciado pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção supostamente praticados dentro do esquema da Lava Jato. A denúncia ainda precisa ser aceita pelo STF para que os parlamentares sejam considerados réus no processo. Novas denúncias ainda poderão ser feitas nos próximos dias.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede a condenação de Cunha pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e da ex-deputada federal Solange Almeida, atual prefeita de Rio Bonito (RJ), por corrupção passiva.

Além da condenação, Janot pede a restituição do produto e proveito dos crimes no valor de US$ 40 milhões e a reparação dos danos causados à Petrobras e à administração pública também no valor de US$ 40 milhões.

No caso de Collor, a PGR afirma que a denúncia é sigilosa e não há informações sobre por quais crimes o senador foi denunciado.

Aí me perguntaram: “E agora?”.

Novamente, preciso relembrar o motivo pelo qual este site se chama Ceticismo Político: eu defendo que as alegações políticas de nossos oponentes devem ser tratadas da mesma forma que um cético investigador do paranormal trata as alegações de médiuns.

Antes, para entender como devemos tratar as alegações de Janot, melhor rever o conto “O Dragão na Garagem”, escrito por Carl Sagan para seu livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios”. Melhor ainda, veremos em formato vídeo, com uma narração que facilita a “visibilidade” do absurdo de toda a situação:


Tudo o que está no vídeo vale para as provas de Rodrigo Janot. Elas simplesmente não existem. Ou então não foram exibidas.

O inocente perguntaria: “Mas Janot não poderia ter guardado tudo para mostrar depois?”. Improvável, uma vez que ele próprio deixou “escapar” que faria a denúncia contra Cunha antecipadamente. Isto é, o que há contra Cunha é vazado de forma antecipada. Por que não ocorreria o mesmo com tais “evidências”?

Alias, Eduardo Cunha, caso queira, tem evidências fortes em mãos de que Rodrigo Janot deixou vazar sua denúncia de forma antecipada. Dito de outro modo, o procurador-geral de Dilma utilizou seu cargo para fazer jogo político, visto que denúncia não é algo que se vaze antecipadamente. Este também é um indicativo de embuste. (A não ser que Janot queira alegar que um espírito invadiu sua mente para roubar a informação de que denunciaria Cunha, mas aí já seria ultrapassar ainda mais a cota de alegações sem provas).

Janot alega que Cunha teria cobrado propina. Como prova, Janot deveria apresentar um áudio da gravação, no mínimo. Provavelmente já o teríamos ouvido, em caso de existência. Como ainda não há evidência de cobrança de propina, a alegação salta para favorecimento (por causa da alegada propina). Porém, desde 2003, Cunha ocupa cargos como deputado estadual ou deputado federal, portanto sem alçada para aprovar compras de navios ou qualquer coisa que valha. Assim, de novo vemos que as alegações de Janot são respaldadas por tantas evidências quanto aquelas do sujeito alegando a existência de um dragão na garagem.

É evidente, no entanto, que Janot não denuncia políticos petistas. Quanto a Dilma, então? Nem pensar, mesmo que as evidências de dinheiro sujo na campanha da presidente são evidências reais, e não apenas afirmações sem provas. E, para piorar, Dilma ocupa cargos com alçada desde o início da candidatura de Lula. A conclusão é inescapável: contra Dilma, há muito mais evidências do que contra Cunha.

Desculpe se estou magoando sentimentos daqueles republicanos que optaram pela credulidade em Janot. Mas se for assim, é a vocês que eu lanço o desafio: “Afirmou? Prove! Alegou? Demonstre!”.

Abaixo uma palhinha sobre James Randi, mostrando o padrão de como se desafia um crédulo:


Ah, e como cético, fico em uma posição confortável. Se surgirem as evidências, que sejam evidências de fato, revisarei minha posição. Assim como se surgir evidências de um dragão na garagem do sujeito da parábola de Sagan, reavaliarei minha posição.

Então, crédulos de Janot, mãos à obra! Vocês têm muito trabalho pela frente. 
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 20-8-2015

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