Cesar Maia
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Foto: Daniel Marenco/Folhapress |
Entrevista de Daniel
Cohn-Bendit [foto] à Folha de S. Paulo (1º de maio). Cohn-Bendit é uma referência da
esquerda europeia desde 1968, quando despontou como um dos líderes do movimento
social e cultural que sacudiu a França e o mundo:
"1. Não estamos perante o cenário clássico, em que o eleitorado
legitimista dá ao presidente eleito uma maioria no Parlamento. A história
destas presidenciais só poderá começar a ser contada depois do segundo turno
das legislativas. Tradicionalmente, quando dois candidatos de centro-direita e
esquerda enfrentam um candidato de extrema-direita no segundo turno das
legislativas, o candidato que estiver atrás nas sondagens desiste para ajudar a
barrar a extrema-direita [nas eleições para deputados, o segundo turno é
garantido. Todos os candidatos com mais de 12,5% dos votos se qualificam
automaticamente. Se nenhum atingir essa marca, os dois primeiros colocados se
apresentam no segundo turno.
2. Um agravante seria a multiplicação de quadrangulares, ou seja, a
qualificação de quatro candidatos para o segundo turno. Isso teria
consequências imprevisíveis. Se uma eleição para presidente com quatro
favoritos foi complicada, imagine 577 eleições de deputados com quatro
finalistas.
3. No social, é possível definir o que é ser de direita e de
esquerda. Esquematicamente, a direita defende mais individualismo, e a
esquerda, mais solidariedade. Em outros temas, não é assim tão evidente. Na
Europa, você tem um nacionalismo de esquerda, e outro de direita. Nos direitos
humanos, você pode ser de esquerda como o Jean-Luc Mélenchon, e ao mesmo tempo
defender o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela. Você é de esquerda quando
defende Maduro? Quando Mélenchon e Marine Le Pen se apresentam como
pró-Vladimir Putin [presidente russo] e Bashar al-Assad [ditador sírio], onde
está a esquerda e onde está a direita?
4. Certo é que o primeiro turno marca o começo do fim da Quinta
República [fundada por Charles de Gaulle em 1958], porque os dois partidos que
estruturaram a vida política foram eliminados no primeiro turno. Não se trata
apenas do fracasso do Partido Socialista e da social-democracia, também estamos
vendo o colapso da direita parlamentar. Os tapas na mesa de Jean-Luc Mélenchon,
Marine Le Pen e Emmanuel Macron fragilizaram totalmente o sistema político.
5. Embora de orientações diferentes, duas formações
"movimentistas", os Insubmissos, de Jean-Luc Mélenchon, e o En
Marche!, de Emmanuel Macron, dinamitaram a paisagem política. Resta saber se
essa tendência se confirmará nas eleições legislativas. Não fazemos a menor
ideia se os eleitores regressarão aos espaços políticos tradicionais ou optarão
por continuar sacudindo o espaço político e apoiando os novos movimentos. Essa
é uma incógnita que não temos como antecipar. Os nossos instrumentos de análise
política são inúteis no cenário atual.
6. O problema do Partido dos Trabalhadores do Brasil, e da social-democracia
em geral, é que, uma vez no poder, acredita que tudo lhe pertence, que pode
fazer tudo. De certa forma, a esquerda no poder contribui para uma
despolitização da sociedade. A lição do governo François Hollande é que não se
pode prometer tudo numa campanha. A campanha é a explicação pedagógica do
possível e do impossível, senão é a desilusão garantida. Hollande teve uma
maioria que nenhum presidente teve. Teve a maioria no Congresso, no Senado, e
nas regiões.
Por que não funcionou? Porque
não havia consenso político, não só programático, mas também sobre a
necessidade de inovar em situações que ninguém podia antecipar. Nesses casos, a
esquerda preferiu se esconder atrás da ideologia e negar a realidade."
Título e Texto: Cesar Maia, 3-5-2017
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