Helena Matos
Portugal arrisca ser esfrangalhado por esta
gente que trocou a luta de classes pela compra dos votos e que vê na
fragmentação do país e na tribalização dos cidadãos uma fonte inesgotável de
poder
Regra nº 1:
Os problemas reais não
existem.
Numa escola do Porto, um miúdo
de 12 anos atirou uma bola para dentro da sala de aula e partiu uma lâmpada.
Todos nós ou muitos de nós quando andámos na escola vimos partir lâmpadas com
bolas ou partimo-las nós mesmos. Mas nunca vimos uma sucessão de factos como os registados há dias nesta escola do Porto: partida a lâmpada o professor pediu a uma funcionária para varrer os
pedaços de vidro. A aula prosseguiu e o rapaz de 12 anos não só ligou ao pai
como voltou a brincar com a bola. O professor retirou-lha. Saltando por cima
das mesas, o aluno “tentou chegar à bola” Como não conseguiu, empurrou o
professor. Em seguida dá-lhe murros e pontapés. Levado à direção de turma o
dito aluno, quando a oportunidade lhe permite, “desferiu um forte pontapé” nos
testículos do mesmo professor, que caiu no chão. Mas a coisa ainda não acabara:
terminada a aula ainda deu um murro na testa do professor. Ao passar por um
funcionário disse: “Já lhe parti o focinho”.
Resumindo, temos o professor a
pedir “a uma funcionária para varrer os pedaços de vidros” pois é óbvio que já
não tinha autoridade para mandar o menino varrer ele mesmo. Em seguida a
criancinha com um sentimento de absoluta impunidade ora usa o telemóvel ora
salta por cima das mesas. Depois agride o professor em três momentos
diferentes, três, e acaba a declarar a um funcionário que, claro, também não se
deve ter afoitado a chamar-lhe a atenção, “Já lhe parti o focinho”. Do pai não
há notícias.
O que agora aconteceu na
Escola Francisco Torrinha é apenas um caso que pela sua gravidade
conseguiu quebrar o manto de silêncio que atualmente impera sobre as escolas.
Estas voltaram aos bons velhos tempos em que tudo nelas se reduz à questão da
carreira dos professores e dos auxiliares. Do resto, ou seja, dos alunos, dos
conteúdos, da disciplina, do ser professor, só se fala quando de todo em todo
uma situação chocante quebra o manto de silêncio. Foi assim com a constatação
de que a disciplina de Educação para a Cidadania se transformou num franchising
letivo para ativistas das mais desvairadas causas agora transformada em
doutrina incontestada.
Foi assim também há algumas
semanas com a agressão a uma professora da Escola Básica da Torrinha por parte de uma mãe e
foi agora novamente nesta escola do Porto, aqui com um aluno de 12 a
espancar um professor de 63 em três momentos diferentes. Ou, se quisermos
observar os factos doutra perspectiva, com um professor de 63 anos a deixar-se
agredir em três momentos diferentes por um aluno de 12 anos.
O ministro da Educação o que
disse? E aquela irmã Mortágua de discurso mais ou menos ininteligível que,
ironia das ironias, trata das questões do ensino já se pronunciou? E Mário
Nogueira, essa caricatura da luta, por onde anda? O PR não vai a esta escola?
Vamos ficar pela conversa de “o caso está entregue ao Ministério Público”, sim
porque agora, com os professores e funcionários devidamente desautorizados, a
indisciplina nas escolas tornou-se um caso de polícias e tribunais? Como é isto
possível? É possível porque a realidade não só não interessa como abordá-la
leva a que se corra o risco de se ser acusado de um ismo qualquer. O acontecido
nesta escola só interessaria caso se integrasse na perspectiva do ressentimento
que está a levar Portugal de Estado-Nação a um território habitado por uma
população tribalizada em brancos, negros, afrodescendentes, asiáticos, ciganos,
de origem europeia…
Regra nº 2:
Dividir para melhor
controlar.
Com a regularidade de um
pêndulo ecoam no nosso quotidiano os sinais desta transformação dos cidadãos em
membros de grupúsculos tribais. A promover essa mudança estão, por exemplo,
conselhos como os do grupo de trabalho nomeado pelo Governo, defendendo que os Censos incluam dados étnico-raciais dos cidadãos. Para quê?
Sim para que esta tônica nos
dados étnico-raciais? Ou como entender que ao mesmo tempo que o sexo com que
nascemos é tratado como uma irrelevância biológica (de tal forma
irrelevante que os novos cartões de cidadão em alguns países já não o vão
incluir), o facto de se ter tido uma tetravó negra faz de nós afrodescendentes
e liga-nos irremediavelmente ao continente africano, mesmo que nem nós
nem a nossa trisavó alguma vez lá tenhamos estado?
A recolha de dados
étnico-raciais revelou-se uma armadilha: se os dados não favorecem a imagem dos
grupos apadrinhados pelos militantes das causas ditas progressistas então não
devem ser referidos sob pena de acusação de racismo. Esta espécie de nova ormetá leva
a que, por exemplo, se subestimem quando não omitam os ataques com facas em
Inglaterra (só nos comboios eles mais que triplicaram entre 2015 e 2018) e que simultaneamente os controlos policiais tenham diminuído pois as autoridades não queriam ser acusadas de discriminação racial. Ou que se procure não
divulgar o nome de agressores sexuais ou até mesmo as agressões caso os autores
dessas violências não correspondam ao criminoso de que se pode falar a saber
homem, branco e cristão. E assim pode acontecer que num mesmo país, a Espanha,
os abusos sexuais/violações praticados por grupos de rapazes ora sejam motivo
de forte indignação (caso de La Manada de Pamplona) ora silenciadas (caso de La Manada de Azuqueca) consoante a
identidade/nacionalidade dos rapazes em questão.
Como invariavelmente acontece
quando o governo é de esquerda os mecanismos de controlo desaparecem e a
inconstitucionalidade esfuma-se: a Comissão Nacional de Proteção de Dados
(CNPD) já terá mostrado disponibilidade para autorizar a recolha de dados
étnico-raciais nos próximos censos.
Esta racialização da sociedade
portuguesa acrescentará o poder e os meios dos gestores do ressentimento e das verbas do
que pomposamente se designam como políticas públicas de apoio à inclusão e que
não passam de criadoras de ghettos. À exceção dessas nefastas criaturas
acabaremos todos mais pobres e divididos. Como a eles lhes convém.
Regra nº 3:
Fragmentar para ganhar
poder.
Os tempos em que se
apresentavam projetos para o país e para os portugueses já lá vai. Agora
trabalha-se para a facção e sobretudo no cultivar do ressentimento entre essas
facções. Vale tudo. Rui Moreira até nos propõe uma espécie de regresso ao
tempos das taifas, esses minúsculos territórios, capitaneados cada um deles
pelo seu chefe, que noutras eras pulularam na Península Ibérica: afinal o que é
senão o regresso às taifas a proposta de Rui Moreira para que se num
futuro referendo “a regionalização vencesse numa das regiões propostas,
avançasse aí mesmo que nas restantes ganhasse o ‘não’”? Tudo somado
traduz-se mais ou menos em transformar Portugal num puzzle impossível e os
portugueses em “Branco, membro da Região do Porto, integrante de um dos
subgrupos da comunidade LGBTB+” ou “Afrodescendente, da não região de Braga,
com identidade de género masculina”…
Dividir para mandar é a
estratégia. Uns querem mandar na sua taifa. Outros controlar as pessoas. Uns e
outros são do pior que já nos aconteceu.
Título e Texto: Helena Matos, Observador,
7-4-2019
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