Como a operadora de saúde criticada pelas
autoridades desenvolveu um protocolo eficiente de tratamento da covid-19, a
ponto de garantir que a doença está sob controle entre seus beneficiários,
integrantes do principal grupo de risco
Paula Leal
Com um modelo de negócio
voltado para o público idoso, a operadora de saúde Prevent Senior foi na
contramão da lógica do setor. Enquanto os planos de saúde convencionais
enxergam a população idosa como de elevado risco para justificar a cobrança de
mensalidades cada vez mais altas, a Prevent Senior resolveu apostar justamente
nesse público ao oferecer planos com preço médio de R$ 1.140,00 por mês para
pessoas acima de 59 anos. A empresa atua há 23 anos no mercado e conta hoje com
quase meio milhão de beneficiários, uma estrutura com oito hospitais próprios e
vinte credenciados.
Desde a chegada da pandemia do
novo coronavírus ao Brasil, a Prevent Senior ganhou atenção da mídia por adotar
políticas não propriamente ortodoxas, como a utilização de hidroxicloroquina no
tratamento de pacientes em fase inicial da covid-19, não apenas nos casos
graves. A operadora foi alvo de críticas publicamente, até do ex-ministro da
Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Acusada de subnotificação de
casos de infecção e de irregularidade na condução dos estudos com a
hidroxicloroquina, a empresa rebate as alegações e informa que até o momento
nenhum hospital da rede foi fechado. Ainda garante que, entre seus beneficiários,
a epidemia está sob controle.
Em entrevista à Revista Oeste,
Fernando Parrillo, de 52 anos, presidente da Prevent Senior, e Pedro Benedito
Batista Júnior, 36, médico cirurgião-geral e diretor-executivo, relatam os
aprendizados durante a crise, o protocolo adotado com os pacientes e as
intrincadas questões políticas. A seguir, os principais trechos da entrevista.
(...)
Por que a discussão do uso
da hidroxicloroquina ganhou tanta repercussão e foi tão criticada, inclusive
pela comunidade médica?
Batista Júnior: Muitos
estudos científicos estão saindo agora e mostram que a hidroxicloroquina não é
eficaz para casos graves. Mas isso nós já sabemos há mais de um mês. Os
profissionais também não conheciam a medicação. Se um paciente contaminado liga
para seu médico de confiança e ouve dele que nunca prescreveu o remédio, essa
resposta vai gerar desconfiança. Mas, se você ligar para um reumatologista, ele
vai dizer que sempre receitou a hidroxicloroquina sem pedir nem um exame
sequer, inclusive sem necessidade de receita médica para a compra em farmácia.
Fernando Parrillo: Foi
um erro o Ministério da Saúde [MS] proibir o uso da medicação
na fase precoce da doença. [Em 27 de março, o MS permitiu o uso do
remédio em pacientes graves. Em 7 de abril, uma mudança no protocolo do
ministério permitiu ao médico prescrever a hidroxicloroquina em qualquer fase
da doença.] Houve uma pressão psicológica muito grande em cima dos
médicos. Porque o profissional até poderia prescrever, mas a gente sentiu,
inclusive aqui dentro da empresa, que os médicos estavam inseguros em receitar,
por conta do Conselho de Medicina. [Em 23 de abril, o Conselho Federal
de Medicina liberou o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pessoas com
sintomas leves da covid-19.] Outra questão grave é que não existe a
medicação no mercado. Quando saíram os primeiros estudos, nós fomos direto à
indústria e compramos tudo o que pudemos. Só que ninguém fez isso na época. Não
adianta ir a público e falar que a hidroxicloroquina funciona se o paciente chega
ao hospital da esquina e não há a medicação para dar.
É possível que a discussão
sobre o uso precoce da hidroxicloroquina tenha relação com o debate sobre a
flexibilização do isolamento social?
Batista Júnior: Tudo
tem a ver com tudo. É possível que daqui a um mês surja uma solução mais cara,
já que um comprimido de hidroxicloroquina custa R$ 1. A medicação que alguns
estudos consideram hoje como a mais efetiva no tratamento de pacientes graves
custa R$ 10 mil. Existe toda uma situação dos laboratórios, além de diversas
questões políticas, sociais e econômicas envolvidas. Por exemplo, a pneumonia é
uma doença que se trata no começo da infecção. O que acontece se o médico
esperar sete dias para iniciar o tratamento? Claro que o paciente vai piorar.
Se estamos diante de uma epidemia que tem um processo de evolução tão
característico quanto o de uma pneumonia, se a linha do tempo é tão parecida,
por que não tratar desde o começo da mesma forma como tratamos uma
pneumonia?
Fernando Parrillo: O
problema é que a discussão se restringiu a casos de paciente em estágios
avançados da doença. Porque existe todo um interesse em cobrar por esse
tratamento. Se havia uma solução tão simples e barata na frente, por que o
Ministério da Saúde não comprou a matéria-prima para fabricar o medicamento?
Compra o negócio, salva as pessoas. Em vez de investir em hospitais de campanha
para atender o paciente doente, o governo de São Paulo poderia investir menos e
de maneira mais efetiva na prevenção da doença.
Em 27 de março, a Secretaria
Municipal de Saúde de São Paulo pediu intervenção em três hospitais da Prevent
Senior porque a rede teria deixado de informar casos de infecção por
coronavírus. Ainda, a Prevent foi criticada pelo alto número de mortes
registrado pela operadora. Qual é a situação hoje?
Batista Júnior: Houve
campanha contra nós desde o início. Todos os laudos epidemiológicos e da
Vigilância Sanitária vieram favoráveis à Prevent e não provaram nada. [A
reportagem da Revista Oeste teve acesso aos laudos.] Em
doze dias, foram quatro fiscalizações e nenhum hospital da rede foi fechado. Já
registramos a alta de 735 pacientes com resultado positivo para covid-19 e que
precisaram de internação. Além disso, 75% da população idosa que tem plano de
saúde na cidade de São Paulo é nossa beneficiária. Temos 80 mil segurados acima
de 80 anos, uma população extremamente frágil. Nossa taxa de mortalidade nessa
faixa etária é de 8%, abaixo da taxa média divulgada pela OMS, de 15%.
Paula Leal, revista Oeste,
15-5-2020, 17h15
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