Ele disse que vai conversar com o ministro
da Saúde sobre o assunto
Andreia Verdélio
O presidente Jair Bolsonaro
disse hoje (13) que vai conversar com o ministro da Saúde, Nelson Teich, para
incluir o uso da cloroquina, e seu derivado hidroxicloroquina, no protocolo de
atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) de pacientes com sintomas leves de
covid-19.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
“O meu entendimento, ouvindo
médicos, é que ela deve ser usada desde o início por parte daqueles que
integram o grupo de risco. [Para] pessoas com comorbidades ou de idade, já
deve ser usada a hidroxicloroquina”, disse Bolsonaro ao deixar o Palácio
da Alvorada.
Para o presidente, “pode dar
certo, pode não dar certo [a cura do paciente]”, mas enquanto não houver
medicamento eficaz contra a covid-19, a cloroquina deveria ser utilizada.
“Apesar de saberem que não tem confirmação científica da sua eficácia, mas como
estamos em uma emergência, a cloroquina, que sempre foi usada desde 1955, e
agora com a azitromicina, pode ser um alento para essa quantidade enorme de
óbitos que estamos tendo no Brasil”, disse.
Originalmente a droga é
indicada para doenças como malária, lúpus e artrite, mas tem sido usada e estudada, em associação com outros
medicamentos, para o tratamento da covid-19.
No Brasil, o Ministério da
Saúde incluiu em seus protocolos a sugestão de uso da cloroquina em pacientes
hospitalizados com gravidade média e alta, mas mantendo a norma corrente na
medicina de que cabe ao médico a decisão sobre prescrever ou não a substância
ao paciente.
O Conselho Federal de Medicina
(CFM) não recomenda o uso da droga, mas autorizou a prescrição em situações específicas, inclusive em
casos leves, a critério do médico e em decisão compartilhada com o paciente.
“Está sendo usado largamente
no Brasil, mas não na rede SUS. Na rede SUS o médico tem uma cartilha, que é o
protocolo, se ele usa algo diferente daquilo ele vai ser responsabilizado. E lá
está escrito que é apenas para caso grave”, argumentou o presidente.
Pesquisas
Ontem (12), em publicação no
Twitter, o ministro Nelson Teich citou as recomendações do Ministério da Saúde
e do CFM e fez o alerta de que a cloroquina é um medicamento com efeitos
colaterais. “Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação
médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o Termo de Consentimento
antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu.
Segundo ele, o Ministério da
Saúde acompanha todas as pesquisas nacionais e internacionais sobre o
tratamento do coronavírus e, além da cloroquina, os estudos avaliam mais de 10 medicamentos.
“Queremos também nos preparar para a possível descoberta de uma vacina contra a
doença. Estamos em constante conversa com pesquisadores e laboratórios para
garantir a oferta desta proteção para os brasileiros”, ressaltou.
Hoje, diante dessas
declarações de Teich, o presidente Bolsonaro disse que todos os ministros têm
que estar “afinados” com ele. “Todos são indicações políticas minhas. E quando
converso com os ministros quero eficácia na ponta da linha. Esse caso não é
sobre eu gostar ou não do ministro Teich, é o que está acontecendo. Estamos
tendo centenas de mortes por dia. Se existe a possibilidade de diminuir esse
número com cloroquina por que não usá-la?”, questionou.
O presidente disse ainda que
vai conversar com Teich sobre as recomendações do ministério para o isolamento
horizontal da população, ou seja, por todas as pessoas independentemente de ser
ou não do grupo de risco, como medida de combate à pandemia de covid-19. “No
meu entender, desde o começo devia ser o vertical, cuidar das pessoas do grupo
de risco e botar o povo para trabalhar”, disse Bolsonaro.
Interferências na PF
O presidente falou novamente
hoje sobre o vídeo que contém o registro integral da reunião ministerial, que
ocorreu no Palácio do Planalto, no dia 22 de abril, dois dias antes do então
ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro deixar o cargo. Em
declaração à imprensa, Moro afirmou que a exoneração do então diretor-geral da
Polícia Federal, Maurício Valeixo, pelo presidente Jair Bolsonaro configurava
interferência na corporação. O presidente nega e, para ele, "qualquer
parte do vídeo que seja pertinente ao inquérito, da minha parte, pode ser
levado ao conhecimento público".
“Eu não falo Polícia Federal,
não existe a palavra Polícia Federal em todo o vídeo, não existe palavra
superintendência, não existe a palavra investigação sobre filho. Eu falo sobre
segurança da minha família e meus amigos. Ou você acha que não há interesse me
fazer uma maldade com filho meu?”, disse Bolsonaro, hoje, “Não falei o nome
dele [do Moro] no vídeo. Não existe a palavra Sergio Moro, eu cobrei a minha
segurança pessoal no Rio de Janeiro. A PF não faz minha segurança pessoal, quem
faz é o GSI [Gabinete de Segurança Institucional]. Quem trata de segurança? O
ministro é o [general Augusto] Heleno”.
Bolsonaro informou ainda que
decidiu acabar com as reuniões ministeriais realizadas, geralmente, a cada 15
dias para avaliar as ações desenvolvidas e discutir as prioridades da agenda do
governo federal. “Vou ter uma vez por mês, de manhã, [com hasteamento da]
Bandeira Nacional, um café de confraternização e [todos serão] liberados. O
resto [assuntos de governo] vou tratar individualmente com cada ministro, para
evitar esse tipo de problema. Independente das reuniões quinzenais, tenho
reuniões diárias, todo dia eu recebo alguns ministros”, disse.
Quando as reuniões ocorrem no
Palácio da Alvorada, Bolsonaro também reúne os ministros, momentos antes, para
participar de para um momento cívico, de hasteamento da Bandeira Nacional, na
área externa da residência oficial.
Título e Texto: Andreia
Verdélio; Edição: Denise Griesinger – Agência Brasil, 13-5-2020, 11h59
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