terça-feira, 19 de maio de 2020

O indígena não paga!

Helena Matos

Para o caso de os leitores deste blogue estarem interessados, aviso que vai decorrer um certame designado V FESTIVAL DE POESIA DE LISBOA.


Enfim, literariamente o caso anuncia-se medonho e parece uma reciclagem daqueles textinhos barrocos sem talento, mas com muito alento.

Mas o que me interessa mesmo são os critérios de isenção da taxa de 50 euros para participar no evento.  

No ponto 3.7.1   do Regulamento lê-se esta coisa extraordinária: « Cientes dos desafios históricos para que certos grupos tenham acesso igualitário a bens e serviços culturais, o V Festival de Poesia de Lisboa oferecerá 10 inscrições gratuitas para autores que se declararem negros, indígenas e/ou transexuais, e que não tenham condições de pagar o valor solicitado. Os solicitantes devem incluir o pedido de isenção no corpo do e-mail, junto com uma justificativa, ao enviar sua inscrição. Caso haja mais solicitações do que vagas, caberá à equipe da Helvetia Éditions decidir quem serão os solicitantes agraciados com a isenção da taxa.»

Para lá do óbvio disparate de alguém pagar 50 euros para participar numa coisa destas – recomenda-se vivamente que os interessados se declarem simultaneamente “negros, indígenas e/ou transexuais” para que tenham a certeza de conseguir a isenção da taxa – tenho duas questões

a) quem são os indígenas de Lisboa? Sim, não me vêm dizer que um concorrente de não sei onde no Brasil declara-se indígena e não paga taxa e um residente de toda a vida mais os respectivos tetravôs no bairro de Alfama tem de pagar taxa?! E se for da Estrela já paga? Ser do Alentejo ou de Trás-os-Montes também serve para se ser indígena?

b) Aquelas comissões do racismo e das discriminações não veem nada de estranho nisto?
Título e Texto: Helena Matos, Blasfémias, 19-5-2020

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