Helena Matos
Para o caso de os leitores
deste blogue estarem interessados, aviso que vai decorrer um certame designado V
FESTIVAL DE POESIA DE LISBOA.
A coisa, poeticamente falando
pelo texto de apresentação parece a bula de um medicamento dito
alternativo: “Em um mundo de desigualdades, afirmarmos a própria existência é tarefa difícil para muitos. Negros, indígenas, mulheres, imigrantes, pobres, crianças, idosos, pessoas com habilidades especiais, entre outros, precisam lutar para dizer: “estou aqui, eu existo”. A natureza, cada vez mais devastada, também grita à sua forma: “sou parte legítima deste mundo”. E mesmo quem se sente bem ajustado à sociedade, por vezes se debate para ajustar-se a si mesmo, tamanhas são as tribulações que carregamos em nosso coração.”
Enfim, literariamente o caso anuncia-se
medonho e parece uma reciclagem daqueles textinhos barrocos sem talento, mas
com muito alento.
Mas o que me interessa mesmo
são os critérios de isenção da taxa de 50 euros para participar no
evento.
No ponto 3.7.1 do
Regulamento lê-se esta coisa extraordinária: « Cientes dos
desafios históricos para que certos grupos tenham acesso igualitário a bens e
serviços culturais, o V Festival de Poesia de Lisboa oferecerá 10 inscrições
gratuitas para autores que se declararem negros, indígenas e/ou transexuais, e
que não tenham condições de pagar o valor solicitado. Os solicitantes devem
incluir o pedido de isenção no corpo do e-mail, junto com uma justificativa, ao
enviar sua inscrição. Caso haja mais solicitações do que vagas, caberá à equipe
da Helvetia Éditions decidir quem serão os solicitantes agraciados com a
isenção da taxa.»
Para lá do óbvio disparate de
alguém pagar 50 euros para participar numa coisa destas – recomenda-se
vivamente que os interessados se declarem simultaneamente “negros,
indígenas e/ou transexuais” para que tenham a certeza de conseguir
a isenção da taxa – tenho duas questões
a) quem são os
indígenas de Lisboa? Sim, não me vêm dizer que um concorrente de não sei onde
no Brasil declara-se indígena e não paga taxa e um residente de toda a
vida mais os respectivos tetravôs no bairro de Alfama tem de pagar taxa?! E se
for da Estrela já paga? Ser do Alentejo ou de Trás-os-Montes também serve para
se ser indígena?
b) Aquelas comissões do
racismo e das discriminações não veem nada de estranho nisto?
Título e Texto: Helena
Matos, Blasfémias,
19-5-2020
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