Começo a ter profundas
saudades de um tempo em que as mulheres podiam ser mulheres e
gostar de tudo o que entendessem. Ficar em casa a tomar conta da família ou
trabalhar fora a ajudar o marido. Fazer carreira ou simplesmente não fazer
absolutamente nada. De querer ter uma família patriarcal, monoparental ou não
ter família nenhuma. Sem pressões. Sem rótulos. Em total liberdade de
escolha e não por imposição.
Tenho saudades do tal
piropo que fazia parte do engate e a quantidade de piropos que
conseguíamos arrancar dizia-nos tudo sobre o nosso “sex apeal”. E ninguém via
“assédio sexual” nisso.
Da nostalgia dos tempos
de elegância da mulher e do homem. Do glamour. E não da valorização
do maltrapilho e desleixo. Do Festival da canção que era mesmo da canção e não
da aberração com letras parvas. Dos Globos de Ouro que eram do cinema e não da
imposição da agenda política “progressista”. Dos sexos definidos pela natureza
e não por uma ideologia que criou uma miscelânea de mais 71 gêneros de coisa
nenhuma.
Saudades das escolas
ordeiras, sem violência, sem sinais de vandalismo, sem armas brancas,
sem tráfico nem consumo de drogas. Onde o ensino era rigoroso e só se passava
por mérito. Onde a escola era para aprender – a 4ª classe valia mais do que
hoje o 10º ano – porque a educação, da boa, já vinha de casa, e se algum aluno
se esquecesse de respeitar um colega, um funcionário ou a professora, levava
uma valente sova ao chegar a casa.
Do respeito pelos mais
velhos, da cultura do cuidar dos mais fracos e da solidariedade pelo
próximo que era ensinada desde cedo com o exemplo dos próprios pais a cuidarem
dos seus entes e a darem esmola a quem precisava sem pedirem nada em troca.
Da transmissão de
valores que vinha do berço. Da valorização do trabalho como forma de
independência. Da não vitimização por não ter, mas antes aprender a aceitar as
adversidades lutando para conquistar. Frustrar e privar para dar valor ao que
se tem. Das palmadas de amor em criança birrenta. Das boas maneiras que se não
as respeitássemos levávamos um carolo logo ali sem que os pais fossem presos.
Onde não se retiravam crianças aos pais por serem pobres menos ainda por
corrigir com um tabefe. Da noção dos nossos deveres muito antes dos direitos.
De um tempo em que as sociedades
eram mais sustentáveis porque nos era ensinado a valorizar tudo o que
tínhamos. Onde nos negavam quase tudo para termos apenas o essencial que era
preciso estimar para durar muito. Porque o consumismo era desperdício e poupar
era a palavra de ordem que levávamos muito a sério a vida toda.
De um tempo em que havia
ordem pública e segurança. Onde não se batia em policiais, médicos,
enfermeiros, professores ou juízes. Onde os criminosos não eram
desresponsabilizados, nem vitimizados e muito menos tratados como hospedes em
cadeias.
De um tempo em que as pessoas
viviam mais remediadas, mas mais livres. O que tinham era delas e não dos
bancos. Havia menos depressões, menos ilusões, menos bancarrota pessoal. Eram
genuinamente mais felizes. Não ambicionavam o que não podiam alcançar e eram
gratas por tudo o que tinham. Sabiam que era com trabalho que conquistavam os
sonhos, que ninguém lhes daria nada sem esforço por isso trabalhava-se desde
cedo para alcançar objetivos. Ninguém vivia à sombra de ninguém.
Era assim no tempo dos meus
bisavós, avós, pais e depois no meu, mas em poucas décadas transformou-se nesta
ditadura de desconstrução social por uma falsa liberdade onde
só podemos ser o que eles consideram ser correto e o correto não é ser-se
defensor de valores.
Se não estivermos de acordo,
ofendem-se, ostracizam. Porque hoje tudo é ofensa. Tudo é racismo. Tudo é
extremismo de direita. Tudo é homofobia. Tudo é xenofobismo. Tudo é violação ou
assédio sexual. Tudo é crime. A menos, claro, que se esteja do lado do
criminoso ou do ofendido ou da agenda progressista de desconstrução
social.
Tudo o que outrora era uma
sociedade de valores defendida por pessoas de bem, hoje é “fascismo” quando
é a própria sociedade destes intolerantes que não percebe o fascismo deste
comportamento doentio de imposição do pensamento único. Que não percebe que
há mais liberdade numa sociedade defensora de valores que numa ditadura
social de pensamento único.
Título, Imagem e Texto: Cristina
Miranda, Blasfémias,
13-6-2020
Pahahahahahahah
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