Vitor Cunha
Uma sociedade liberal tem por
base o princípio basilar do direito de expressão. Com o direito de expressão
vem o direito individual de pessoas se sentirem ofendidas com o que foi dito e,
com ele, o direito a expressarem ideias contrárias. O que não vem nunca é o
direito a proibir ideias ou simples aglutinações de palavras, por muito
aberrantes que possam ser as interpretações para a vasta maioria da população.
O nome deste blogue diz isso
mesmo. A blasfêmia é um direito basilar de uma sociedade liberal. A defesa de
ideias consideradas heréticas, seja por quem for, em forma de cartaz ou outra,
é um bem essencial que, apenas secundado pelo direito à subsistência do corpo,
deve ser defendido por todos que defendem a democracia liberal.
Houve uma certa polêmica nos
meios do costume pelas afirmações de Ricardo Araújo Pereira sobre o cartaz
“polícia bom é polícia morto”. Todavia, indignações à parte, o humorista não
afirmou mais que uma lapalissada: independentemente das considerações que se
possam fazer sobre quem ergue um cartaz com esse tipo de mensagem, o cartaz é
perfeitamente admissível numa sociedade liberal.
A polêmica em que JK Rowling
se viu metida, ao expressar espanto pelo uso da expressão “pessoas que
menstruam” para designar o que mais de 99% do planeta designa por “mulheres”,
não tem qualquer razão de ser, tal como não tem qualquer razão de ser que
alguém seja impedido de usar a expressão “pessoas que menstruam” ou “humanos
desprovidos de pênis”.
Algumas pessoas poderão
considerar – e estão no seu direito – que esta é uma reflexão fofinha, daquelas
a que normalmente se atribuem termos derrogatórios como “direita Haddad”, mas
estão enganadas – e tenho o direito de o dizer: defender a liberdade de
expressão nesta era de um perigoso neo-puritanismo induzido por moralidade de
estado é a coisa mais subversiva que se pode fazer.
Nenhum partido das diferentes
facções da democracia liberal deveria perder tempo com algo acessório enquanto
a liberdade de expressão está sob ataque cerrado, nomeadamente por empresas
como o Twitter ou, no caso acima citado, pela Hachette, a editora que
imbecilmente rejeitou a autobiografia de Woody Allen para ficar bem aos olhos
de milleniais estúpidos e Gen Y amargas em luta contra a sua sexualidade.
Por muito problemático que seja
manter escolas fechadas (apesar do ano letivo estar a terminar, coisa que até
já deveria ter acontecido em algumas escolas), isso é meramente tropical
perante a aceitação generalizada de que há coisas que não devem ser ditas.
Estamos num péssimo caminho, que pese em boa hora encaminhar para o colapso
econômico, nos levará a uma crise bem mais difícil de superar: a do colapso da
liberdade como valor fundamental.
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