sexta-feira, 30 de outubro de 2020

[Diário de uma caminhada] Divinos boçais: revolte-se contra a violência mental esquerdista. CHEGA!


Gabriel Mithá Ribeiro 

Ser socialista, comunista, bloquista ou, em geral, esquerdista é pertencer à raça divina à qual os restantes humanos vivem forçados a reconhecer-lhe o direito inquestionável de criarem o mundo, os deuses que dão nomes a lugares, pessoas, fenómenos. O nome é a essência da coisa. 

Um primeiro detalhe é o de esses deuses não darem nomes ao que eles mesmos criam. São divindades-ladras. Mudam apenas levianamente os nomes de criações antecedentes. Tal usurpação de espaços ou edificações tem a particularidade de atropelar as identidades das pessoas que, na substância, estão filiadas ao nome da terra ou lugares onde nasceram, estudaram, passaram férias, fizeram amizades e ódios, circularam, associam a romances que leram, músicas que ouviram, filmes que viram, por aí adiante. 

Em Portugal, caminhamos para gerações que acreditarão que a Ponte 25 de Abril foi construída na sequência da revolução de 1974, passará a ser a grande obra dos ditos revolucionários. Os exemplos são infindáveis do imperialismo toponímico do 25 de Abril & Associados, uma mega manipulação contra a mais elementar lógica do tempo histórico. 

O fenómeno é necessariamente um atentado contra a condição humana, contra a memória social. Na menos ofensiva das possibilidades, ao menos que se substitua a toponímia odiada ou desprezada pelos novos deuses por designações neutras da mesma época da original ou de épocas antecedentes. Pelo menos a lógica racional do tempo histórico ficaria salvaguardada, precondição fundamental para a saúde mental das sociedades que, desse modo, serão mais resistentes a fenómenos de alienação mental. 

Apenas diferente no grau de radicalismo, não na substância, atente-se ao exemplo de Lourenço Marques, engenharia que não será alheia à anomia mental em que os moçambicanos se foram progressivamente afundando no período pós-colonial: 
– Amanhã vai trabalhar? 
– Sim. Vou a Lourenço Marques. 
– Pode passar pelo bairro Silva Cunha? Preciso de ir à avenida Pinheiro Chagas logo pela manhã. 
– Sim. Vou passar primeiro pela avenida General Rosado, para tratar de um assunto rápido. Antes de ir para a Andrade Corvo, onde trabalho, deixo-lhe onde quiser. Ó amigo, não me custa nada dar-lhe boleia. 

Um par de anos depois, com a revolução de 1974-1975 pelo meio, a mesma conversa:
– Amanhã vai trabalhar? 
– Sim. Vou a Maputo. 
– Pode passar pelo Bairro da Liberdade? Preciso de ir à avenida Eduardo Mondlane logo pela manhã.
– Sim. Vou passar primeiro pela avenida Kim Il-sung, para tratar de um assunto rápido. Antes de ir para a Ho Chi Minh, onde trabalho, deixo-lhe onde quiser. Ó camarada, não me custa nada dar-lhe uma boleia. 

As mesmas pessoas. As mesmas conversas. Porém muito distintas no pormenor. O diabo está no detalhe. Ainda há quem duvide da violência mental progressista. 

Mudar o nome dos lugares – como das coisas e dos fenómenos – é, muitas vezes, arruinar a complexidade da memória fazendo com que as sociedades acreditarem que a lógica do tempo não é a lógica do tempo, que o presente não é filho de um passado diferente, mas de um imutável lugar eterno decidido pelos deuses: afinal, o 25 de Abril sempre esteve no calendário. Trata-se de uma violência lobotomizadora da mente coletiva para que nela só reste o que interessa à causa esquerdista, suprimindo o que não interessa. 

A essência do espaço (fixo), equiparável ao nosso nome ou cor da pele, associada à essência do tempo (móvel), a reinvenção permanente da relação do sujeito com o mundo em que se insere ao longo da vida, é o compromisso que garante a sanidade mental da nossa espécie. Esta é como uma tenda maleável que necessita de um mastro central fixo para não se desmoronar, a metáfora de Roger Scruton. Destruir o fixo e fixar o móvel é uma adulteração da mente semelhante ao branqueamento da pele por Michael Jackson, um conflito identitário revelador de um desequilíbrio mental irresolúvel cuja solução encontrada deixa sequelas ainda mais irresolúveis. Michael Jackson estava, sem dúvida, no extremo oposto do conservadorismo, era um suprassumo do progressismo. Apenas baralhou a cor da pele. Se fosse de branco para negro estava tudo bem. É, aliás, o que mais se vê. 

Se adulterar a toponímia já vinha do passado, socialistas, comunistas, bloquistas e demais esquerdistas ultrapassaram as marcas históricas antecedentes ao atingirem diretamente as pessoas, traço dos que são desumanos, mesmo que os métodos sejam menos óbvios do que os do passado inquisitorial, estalinista, nazi ou maoísta puros. A aparência limpa dos métodos atuais, aliada à sua longa persistência no tempo e propagação por todo o mundo, conduziram à dissolução da sanidade mental coletiva bem mais profunda com forte impacto no mundo ocidental. 

Esse é o segundo detalhe na interferência nas vidas da gente comum pelos novos deuses que tomaram em mãos a missão sagrada de reinventarem o mundo. Não vale a pena admitir que existem deuses moderados e radicais nos céus esquerdistas. No que é substantivo, são todos o mesmo. 

A identidade deles, esquerdistas, é apenas definida pelos próprios, os outros não contam. A identidade dos outros também é só definida por eles, esquerdistas, os próprios visados não contam. Para isso tomaram de assalto as fábricas do pensamento social: universidades, comunicação social, meios intelectuais e artísticos. 

– Tu és o Manel!
– Não, sou o António…
– Não senhor! És Manel! E se não és passas a ser! É isso que o «povo» acha! Assume!
– Pronto, pronto. Peço desculpa. Não se fala mais nisso… 

Desgraçados ficamos nós que chamamos socialistas, comunistas, bloquistas ou esquerdistas aos que se definem a si mesmos como tal. Todavia, esses deuses do tempo presente possuem o direito sagrado, e amplamente reconhecido incluindo pelos que ocupam cargos nos órgãos de soberania, de chamarem fascistas, racistas, xenófobos, antidemocráticos, populistas, nazis, extrema-direita mesmo a quem jamais se reveja em tais designações. 

Para ganhar o anátema do discurso do ódio, isto é, discurso profano basta o sujeito manifestar insubmissão aos dogmas da nova religião progressista. Nem é preciso tanto. Basta o sujeito esboçar uma dúvida, por levíssima que seja, sobre os ditames de tão sagradas figuras sobre o género enquanto construção social, a nação enquanto fonte de violência, a família que pode ser tudo, a pertença racial em a dignidade de uns é o opróbrio de outros, a pobreza boa é riqueza má, os conteúdos e currículos escolares progressistas, as terras sagradas da Palestina, Cuba ou Venezuela, a autoridade da polícia que é sempre violenta, por aí adiante. 

A esquerda conseguiu impor paranoias mentais coletivas sem paralelo. Mesmo aquele que sabe que vive oprimido, e de forma violenta por não encontrar espaços públicos para pensar e falar em liberdade, praticamente metade das sociedades ocidentais atuais, sente que tem de pedir autorização à esquerda para ver se esta autoriza que o próprio possa conceder a si mesmo o direito de admitir que sente aquilo que sente. Isso não acontecia desde o início do Cristianismo, pois os oprimidos sempre tiveram o direito de se sentirem enquanto tais. 

Hoje, até os espaços de clandestinidade rebelde foram suprimidos. Nenhuma ditadura do passado alcançou tamanha proeza e em tal dimensão global. A magia da atual ditadura mental é a de ela mesma assumir o rosto de rebelde, fingir que é a oprimida e reprimida. Basta vermos a fonte exímia de paranoias coletivas, a nossa imprensa de todos os dias. 

Como a realidade está de tal maneira subvertida pelo controlo das palavras que adulteram o sentido mais elementar do tempo e da relação com o espaço, para comuns não sobra sequer a vontade, ainda menos a possibilidade, de lutarem pela própria dignidade, pela própria libertação. Resta-lhes apenas o silêncio, a abstenção, a fuga para dentro. Vivemos tempos da mais abjeta loucura politicamente induzida. Talvez nem Orwell acreditasse que ela fosse realizada na dimensão em que hoje a vivemos em pleno Ocidente. 

A realidade atual ensina-nos todos os dias que essa coisa da identidade dos indivíduos ser um compromisso entre a autodefinição do sujeito e a definição atribuída pelos outros é para gente civilizada. Os tempos são outros. São tempos das divindades progressistas-esquerdistas. A nossa espécie já viveu mais distante do reino animal. 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, 29-10-2020 

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Karl Marx, o Vigarista
O conto do vigário chinês
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José Pacheco Pereira – A cabeça apodrecida do regime
Hitler e Mussolini amordaçados pela Ditadura Mental dos Grandes Manipuladores. O regresso do nacionalismo (II)

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