terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Com este Estado ninguém resiste

António Ribeiro Ferreira
A austeridade é inimiga do crescimento? Olha que novidade. É por isso que é inadiável a redução da despesa pública
Imagem retirada daqui
A conversa da esquerda e de uma certa direita conservadora, alguma genuína outra manifestamente preocupada com o fim de privilégios e do secular encosto ao Estado, já cansa. É um disco riscado que não leva a lado nenhum – pior, leva muita gente a criar a ilusão de que há alternativas credíveis ao actual caminho de austeridade e principalmente de cortes brutais na despesa pública. É óbvio que esta promessa de reduzir o Estado, que passa por reformas profundas e muita coragem política para diminuir o número de funcionários públicos, está a demorar tempo de mais e, à medida que os meses passam, é muito natural que vão surgindo sérias dúvidas de que vá mesmo para a frente. Basta ver o que está a acontecer na concertação social com as leis do trabalho para se perceber o pandemónio que se instalará em Portugal quando um dia, de forma mais ou menos solene e dramática, o primeiro-ministro anunciar essa medida histórica. Aí sim, se verá a cepa do governo e dos ministros, a que ponto a coligação PSD/CDS é sólida, e certamente será a altura certa para se perceber quem é quem neste labirinto de lóbis, interesses mais ou menos escondidos e convicções ideológicas que andam por aí dissimuladas em discursos contraditórios e erráticos. Voltando ao discurso da austeridade, inimiga confessa do crescimento económico e do emprego, importa dizer desde já que não é preciso ser um Nobel da Economia ou da Retórica para perceber que uma economia em recessão fica pior quando é sujeita a programas de austeridade violentos, em que uma das componentes é o aumento brutal de impostos sobre as famílias e as empresas. O problema está precisamente nesta componente da austeridade. O Estado gigante, o monstro criado por muitos governos e responsáveis políticos com a bênção democrática da maioria dos portugueses, não sobrevive com menos impostos e não consegue reduzir os défices crónicos apenas com cortes na despesa. Precisa, hoje como ontem, de cargas fiscais obscenas, que atingem em cheio o bolso e os cofres de cidadãos e empresas. É por isso que é fundamental reduzir drasticamente o Estado para se poder acabar com a austeridade. É por isso que é fundamental reduzir a carga fiscal para a economia ser competitiva, criar riqueza e emprego e permitir níveis aceitáveis de consumo privado.
Como se sabe há séculos, não é possível ter sol na eira e chuva no nabal. Mas é precisamente isso que a esquerda e uma certa direita pretendem com o seu discurso sobre a austeridade e o crescimento económico. Não percebem, ou não querem perceber, que sem uma redução brutal do Estado e das despesas públicas não há economia que resista. Sem uma redução brutal dos impostos sobre as empresas e as famílias não há crescimento e emprego. Não percebem que o tempo do investimento público, do endividamento pornográfico do Estado e da despesa pública acabou e não volta mais. A esquerda e uma certa direita conservadora, com medo de perder privilégios e deixar de ter um Estado omnipresente que lhe sirva de encosto e conforto, são as grandes responsáveis pela pobreza, pelo desemprego e pela bancarrota. Foram e continuam a ser os grandes coveiros de Portugal.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 17-01-2012
Edição: JP

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