Nuno Rogeiro
Um amigo americano disse-me há pouco (jurando-me
não exagerar) que Portugal era desconhecido nos EUA.
Isto, apesar de termos tido heróis na Revolução de
1786 (Pedro Francisco), de havermos reconhecido, antes de quase todos, o novo
Estado pós-colonial (mais relevante, dado que éramos o aliado tradicional do
Reino Unido), das raízes de John dos Passos e John Philip de Sousa, das grandes
comunidades imigrantes em Newark, Nova Bedford e San Diego, das Lajes e, já
agora, da paixão de Bill Clinton pelo “Porto de Santa Maria” (passe a
publicidade).
Não se conhecia, entre as massas e os decisores, o
potencial turístico de Portugal. Não havia uma imagem coerente e sedimentada da
nossa história, cultura e patrimônio. Sabia-se vagamente, no cento de Nova
Iorque, que éramos privilegiados pela natureza e pelo clima, à beira-mar
plantados, mas quantos conheciam o pioneirismo lusitano nos ATM, no pagamento
por Via Verde, nos serviços bancários e de supermercado, nas energias
renováveis (se descontarmos a desacreditada solução eólica), nas tecnologias de
informação e comunicação?
Quantos, continuava o meu amigo (um antigo
diplomata), sabiam do desempenho exemplar dos militares, guardas e polícias nacionais
em missões (muitas vezes com riscos pouco públicos) de apoio à paz, do Timor ao
Iraque, dos Balcãs às Áfricas, onde ganharam sempre mais amigos do que
adversários, e onde mostraram a aliança da rusticidade, da técnica e do
conhecimento, da adaptação e da determinação (para já não dizer da coragem)?
E quem conhecia a flor frágil, mas ambiciosa, da
CPLP, com os tesouros da música do mundo, das riquezas naturais, das
possibilidades de expansão, do multiculturalismo e da língua comum, bens tanto
mais essenciais quando se sabe que se partiu de guerras cruentas e de uma descolonização
desastrosa?
Quem teria ouvido falar das empresas de rigor e
sucesso, como a Autoeuropa, modelo para toda a União e para os falidos
construtores de Detroit ou da Escandinávia, ou da PT, que nasceu num solo
conturbado? E, apesar das fraquezas estruturais e das contradições, quem se
lembraria dos prémios internacionais de reconhecimento da TAP?
No desporto, as coisas são mais fáceis, por causa
da bola. Mesmo nos momentos mais negros, o Brasil encantava o universo com o
futebol. Mas a subida mundial de jogadores de classe (e não só o Eusébio, ou
uma geração de ouro que já só cabe nas nossas queridas recordações) e de oito
treinadores que conquistaram a Europa diz algo ao Novo Mundo?
Não temos guerra civil há 177 anos, não somos
invadidos há 197, não arcamos com campanhas anti-insurreccionais desde 1975,
não temos terrorismo nos genes nem na frequência. Quantos americanos sabem que
Portugal e paz são sinónimos? – perguntava-me o persistente amigo. E o sucesso
escolar e profissional dos portugueses que buscam vidas melhores noutras
paragens? – continuava.
Ouvi, tomei nota, transmiti. Ao abrir a janela, vi
a crise europeia. Outro amigo chama-lhe “um acidente em câmara lenta””. Onde
está o condutor?
Título e Texto: Nuno Rogeiro, revista “Sábado”, nº
399, 22 a 28-12-2011
Digitação e Edição: JP
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