O sistema imobilizou a
sociedade humana e assumiu os controles do pensamento de cada um
“Privatizaram a sua
vida, o seu trabalho, a sua hora de amar e o seu direito de pensar. É da
empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não
contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à
humanidade pertence”.
Bertold Brecht, pensador e
teatrólogo alemão (1898-1956)

(O que vou dizer a
seguir atropela sua capacidade de tolerância aos escritos. Dificilmente, você
irá até o fim desta leitura. Sei disso. Sei disso há muito, muito tempo mesmo).
Não pense que estou falando isso para lhe ofender. Acho até que você pode pegar a carapuça, sendo um inocente útil, e se voltar contra mim. Aliás, confesso, nem sei hoje quantos dão atenção aos meus papeluchos escritos a sangue, suor e lágrimas, e quantos acham que eu só digo isso e aquilo porque quero vender meu peixe e ficar bem na fita.
Antes das minhas cismas chegarem até você, milhares de feéricas imposturas já se espargiram ao vivo e a cores sobre seu cérebro volátil e formataram seu recipiente mental: no fundo, no fundo, você se rendeu ao mau hábito de só considerar aquilo que lhe agrada, que se enquadra no seu juízo atávico e empedernido.
Pior. A alquimia do sistema não apenas lhe jogou contra o raciocínio crítico. Foi mais além no seu logro vitorioso: reduziu a pó ou confinou as fontes da inteligência e da cultura, a ponto de ser corriqueiro um médico brilhante desconhecer qualquer informação além da sua clínica, aliando-se a quase totalidade dos seres vivos nos braços do besteirol.
Pode ser até que a esta altura você já esteja mudando de página, trocando-me pelo faceboock ou o twiter, os preferidos da rede, onde apraz qualquer besteirinha postada em meias palavras.
Provavelmente, você deve me negar qualquer autoridade para observações tão contundentes e repetitivas. Mas pode ser que alguém me credite um tempo e dê continuidade a essa leitura. Porque, como aprendi desde menino buchudo, que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Digo isso porque deploro sua convivência leniente com os mesmos dolos que se repetem sazonalmente diante de seus olhos, sem que você rompa com essa mesmice soturna, por uma única razão: pimenta dos olhos dos outros é refresco.
Até o dia que o ciclone bata em sua porta, sua indiferença tácita funciona como um consolo. Você até lamenta um monte de coisas, mas da boca pra fora, nos limites do seu convívio restrito.
Há tantos atrativos interessantes a seu alcance, pelo menos hoje, que você opta pelo que lhe toca diretamente. Qualquer malefício na vizinhança você põe na conta de quem não gosta e vai tratando de galgar os degraus reservados a alguns, provavelmente a você, - quem sabe?
O sistema falou mais alto quando lhe fez endossar sua seleção de bons e maus. Estão lhe depenando no condomínio, nos aluguéis, nos transportes, nos preços dos serviços, no custo da comida, nos pedágios, nos impostos duplicados, nos balcões das escolas, nas despesas paralelas com a saúde e a segurança, nas contas de telefone, luz, gás e água, na gasolina, nos estacionamentos, mas você acha que tudo isso é parte de uma civilização moderna e dinâmica, debitando toda essa penca criminosa exclusivamente aos políticos que você não gosta, como se estes chegassem lá sozinhos, sorrateiramente, sem os milhares de sufrágios que lhes garantem o fausto e o poder eterno, ao serviço de quem realmente se locupleta em alta escala e pode se transformar da noite para o dia no rei da cocada preta, no freguês assíduo dos paraísos fiscais e no herói da revista Forbes, aquela que glorifica os donos do mundo, entre os quais, aliás, sobe vertiginosamente um brasileiro de 54 anos, 16 anos mais moço do que o mexicano do pódio.
Você provavelmente nunca parou para esmiuçar fortunas meteóricas, achando que elas são frutos de talentos e abnegação. Nunca ouviu falar e nem quer saber da exploração do homem pelo homem, na mais-valia.
Você, ao contrário, pode até não ser o seu caso, (o você que falo é qualquer um, pode não ser o distinto) gostaria mais era de ser aquele do topo da pirâmide, percorrendo as filas das lotéricas ou perdendo o recato e pegando o seu por fora, convencido de que de grão em grão a galinha enche o papo.
Esse tipo de aspiração onde o céu é o limite acaba desfigurando a alma de ricos, pobres e remediados. A razão de viver perde a sua essência humana e, em seu lugar, passam a nos mover os instintos do capitalismo selvagem, do é belo quem tem, passam a nos ofuscar as estrelas do falso brilhante, exacerbando ao extremo inconscientemente o individualismo, a inveja e os símbolos da aparência como elemento motor.
Sem perceber, você se deixa envolver pelas referências fortuitas dos grandes sucessos. Pilotos de automóveis, jogadores de futebol, artistas, personagens da televisão, boçais do BBB, políticos matreiros, novos-ricos exibicionistas, enfim a glorificação desses fenômenos raros povoa o imaginário social e reforça em seu ego toda a mesquinhez que o gênero humano pode assimilar.
Não pense que estou falando isso para lhe ofender. Acho até que você pode pegar a carapuça, sendo um inocente útil, e se voltar contra mim. Aliás, confesso, nem sei hoje quantos dão atenção aos meus papeluchos escritos a sangue, suor e lágrimas, e quantos acham que eu só digo isso e aquilo porque quero vender meu peixe e ficar bem na fita.
Antes das minhas cismas chegarem até você, milhares de feéricas imposturas já se espargiram ao vivo e a cores sobre seu cérebro volátil e formataram seu recipiente mental: no fundo, no fundo, você se rendeu ao mau hábito de só considerar aquilo que lhe agrada, que se enquadra no seu juízo atávico e empedernido.
Pior. A alquimia do sistema não apenas lhe jogou contra o raciocínio crítico. Foi mais além no seu logro vitorioso: reduziu a pó ou confinou as fontes da inteligência e da cultura, a ponto de ser corriqueiro um médico brilhante desconhecer qualquer informação além da sua clínica, aliando-se a quase totalidade dos seres vivos nos braços do besteirol.
Pode ser até que a esta altura você já esteja mudando de página, trocando-me pelo faceboock ou o twiter, os preferidos da rede, onde apraz qualquer besteirinha postada em meias palavras.
Provavelmente, você deve me negar qualquer autoridade para observações tão contundentes e repetitivas. Mas pode ser que alguém me credite um tempo e dê continuidade a essa leitura. Porque, como aprendi desde menino buchudo, que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Digo isso porque deploro sua convivência leniente com os mesmos dolos que se repetem sazonalmente diante de seus olhos, sem que você rompa com essa mesmice soturna, por uma única razão: pimenta dos olhos dos outros é refresco.
Até o dia que o ciclone bata em sua porta, sua indiferença tácita funciona como um consolo. Você até lamenta um monte de coisas, mas da boca pra fora, nos limites do seu convívio restrito.
Há tantos atrativos interessantes a seu alcance, pelo menos hoje, que você opta pelo que lhe toca diretamente. Qualquer malefício na vizinhança você põe na conta de quem não gosta e vai tratando de galgar os degraus reservados a alguns, provavelmente a você, - quem sabe?
O sistema falou mais alto quando lhe fez endossar sua seleção de bons e maus. Estão lhe depenando no condomínio, nos aluguéis, nos transportes, nos preços dos serviços, no custo da comida, nos pedágios, nos impostos duplicados, nos balcões das escolas, nas despesas paralelas com a saúde e a segurança, nas contas de telefone, luz, gás e água, na gasolina, nos estacionamentos, mas você acha que tudo isso é parte de uma civilização moderna e dinâmica, debitando toda essa penca criminosa exclusivamente aos políticos que você não gosta, como se estes chegassem lá sozinhos, sorrateiramente, sem os milhares de sufrágios que lhes garantem o fausto e o poder eterno, ao serviço de quem realmente se locupleta em alta escala e pode se transformar da noite para o dia no rei da cocada preta, no freguês assíduo dos paraísos fiscais e no herói da revista Forbes, aquela que glorifica os donos do mundo, entre os quais, aliás, sobe vertiginosamente um brasileiro de 54 anos, 16 anos mais moço do que o mexicano do pódio.
Você provavelmente nunca parou para esmiuçar fortunas meteóricas, achando que elas são frutos de talentos e abnegação. Nunca ouviu falar e nem quer saber da exploração do homem pelo homem, na mais-valia.
Você, ao contrário, pode até não ser o seu caso, (o você que falo é qualquer um, pode não ser o distinto) gostaria mais era de ser aquele do topo da pirâmide, percorrendo as filas das lotéricas ou perdendo o recato e pegando o seu por fora, convencido de que de grão em grão a galinha enche o papo.
Esse tipo de aspiração onde o céu é o limite acaba desfigurando a alma de ricos, pobres e remediados. A razão de viver perde a sua essência humana e, em seu lugar, passam a nos mover os instintos do capitalismo selvagem, do é belo quem tem, passam a nos ofuscar as estrelas do falso brilhante, exacerbando ao extremo inconscientemente o individualismo, a inveja e os símbolos da aparência como elemento motor.
Sem perceber, você se deixa envolver pelas referências fortuitas dos grandes sucessos. Pilotos de automóveis, jogadores de futebol, artistas, personagens da televisão, boçais do BBB, políticos matreiros, novos-ricos exibicionistas, enfim a glorificação desses fenômenos raros povoa o imaginário social e reforça em seu ego toda a mesquinhez que o gênero humano pode assimilar.
Dependendo do patamar em
que você esteja, a desfiguração da alma se dá de forma diversa. E uma bolha de
ilusões se dissemina sobre um todo como produto industrial de alto teor
corrosivo.
Os pobres, ah esses
pobres parecem presas de um conformismo em proporção inversa. Tornam-se
vulneráveis à mistificação de toda espécie, especialmente a de charlatões
inescrupulosos, que em nome de Jesus ocupam indevidamente horas de televisão,
prometendo céus e terras, valendo-se de curas ensaiadas e promessas
fantasmagóricas sem o menor escrúpulo.
Mas os pobres da terra
também se deixam acomodar pelos programas compensatórios de caridade oficiais, em
que a distribuição de migalhas tem efeito castrador. O lumpesinato
congregado torna-se referência e objeto de cobiça dos políticos maledicentes
que se aproveitam da mais controvertida virtude da democracia, já rejeitada por
Sócrates no seu nascedouro: na hora da grande decisão, tem o mesmo peso
o voto de um idiota, de um analfabeto político, de um desinformado assumido,
tanto quanto o voto de um inquieto avaliador dos possíveis mandatários.
Todos esses ingredientes
movem uma roda-viva abismal. A sociedade humana está se consumindo no desleixo
do pensamento, submetendo-se candidamente à gerência intelectual de um sistema
que desenvolveu a fórmula da espoliação indolor com as picadas de suas moscas
azuis sobre os ambiciosos e o veneno de suas abelhas anestésicas sobre a turba
propensa à vida de gado, para quem qualquer prazer diverte.
Nesse contexto, não há o
que esperar de diferente. O que está acontecendo é pouco em relação ao que pode
acontecer enquanto você se considerar comprometido unicamente com sua própria
vidinha que, reconheçamos, já é um fardo, principalmente porque você acha que
terá de resolvê-la enquanto indivíduo, no paralelo com outros tantos que têm os
mesmos infortúnios, mas que também perderam o hábito de se somarem aos seus
iguais.
Título e Texto (formatação original): Pedro
Porfírio, 16-01-2012
Edição (e grifo em vermelho): JP
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