Prof. Ramiro Marques
Como é possível aparecerem nos
centros de formação profissional pessoas com o 9º ano que não sabem ler? A
partir daqui pouco há a fazer. Por um lado o período em que os neurónios estão
'tenros' já foi. Por outro são pessoas que nunca provaram o gozo de saber algo
para além de futebol, mulheres, smartphones, roupa desportiva de marca, etc. A
vida deles orbita esse mundo.
Eu percebo que há gente muito
pobre cujas perspectivas são baixíssimas. Mas porque carga de água há-de a
escola pactuar com esse estado de coisas? Entra-se na escola, entra-se noutro
mundo. Pode haver algum sururu mas os primeiros dois anos de escola são
fundamentais e é nesse período que se 'explica' aos pimpolhos que o mundo lá de
fora ficou lá fora. Meter o lá fora na sala de aula é mortal para a escola,
para a aula e para todos os alunos inclusive para aqueles que são a semente do
problema.
Depois há o caso dos que são
pouco inteligentes ou pouco esforçados. A natureza é tramada: há crianças com
neurónios fraquinhos. Ou porque (não) herdaram dos pais, dos avós, da pinga, da
droga, dos maus tratos, desleixo, o que quisermos. Mas, infelizmente pouco se
pode fazer por essas crianças para além de as tentar equipar com competências
que lhes permitam aprender um ofício, colocando-as numa via de ensino que
esteja ao alcance delas.
Se um aluno não sabe tem que
chumbar. Seja no 1º ano, seja no 2º, tem que chumbar. Não é com sociologias que
ele passa a saber. As sociologias são um rastilho que se propaga aos outros
alunos. A melhor coisa que se pode fazer com eles é não os colocar em turmas
com os alunos que aprendem com rapidez e gostam do desafio de estudar.
Por um lado não se quer
"traumatizar" a criança mas por outro pespega-se-lhe à frente dos
olhos, diariamente, que os restantes são melhores que ele. Se um aluno não
'dá', não 'dá'. Tem que ser encaminhado para uma alternativa ao nível dele,
onde possa ser útil em primeiro lugar a si próprio, se sobrar para a sociedade
pois tanto melhor. Mas, atenção, o que quer que ele venha a conseguir em termos
de grau académico não se poderá nunca confundir com o caminho regular. Que haja
'pontes' para que ele, se posteriormente atinar, seja sujeito a provas e
reentre no caminho regular. Mas não se pode deixar que haja confusão entre vias
académicas, sejam curtas ou compridas. Quem mais beneficia com a existência de
várias vias são os alunos mais fracos. De outra forma não faltarão espertalhões
(alunos, pais, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais), a
"encaminhar" vítimas para o caminho errado.
O ensino profissional não pode
ser o caixote de lixo dos desvios sociológicos do próprio sistema. O ensino
profissional deve ser percorrido por aqueles que estão à altura de cada um dos
muitos ramos do ensino profissional. Nalguns casos o ensino profissional terá
que começar algures no 5º ou 6º ano de escolaridade. Outras vezes, depois do 7º
ano de escolaridade. O aluno não consegue aprender a ler? Não gosta de estudar?
É incapaz de aprender matemática? Terá que ter uma saída. Mas que sirva para
ele. Arrastá-lo anos e anos em aulas que nunca percebe, 'obrigando' professores
a 'despachá-lo para cima' porque não podem remetê-lo para trás não vale a pena.
Não serve a ninguém muito menos ao próprio aluno.
Texto: Professor Ramiro
Marques, no blogue "ProfBlog"
Colaboração: Ari
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-