Luís Rosa
Só por puro preconceito
ideológico pode afirmar-se que um privado não conseguirá prestar um serviço
público de televisão
Qualquer discussão sobre
viabilidade da privatização da RTP tem sempre duas questões a montante: o que é
o serviço público de televisão, razão da existência daquela empresa na esfera
do Estado? Pode ser prestado por uma empresa privada?
Se lermos o contrato de
concessão assinado entre o Estado e a RTP, constatamos que a empresa tem de
assegurar, entre outros exemplos, “uma programação de referência”, “que procure
a valorização cultural e educacional dos cidadãos”, nomeadamente do público jovem
e infantil, a “promoção da cultura e da língua portuguesa, através da emissão
de programas de carácter cultural” ou ainda de apoios à produção de filmes em
regime de co-produção. A RTP tem também de emitir programas destinados aos
portugueses residentes fora de Portugal e aos nacionais de países de língua
portuguesa.
Se falarmos apenas nos
programas transmitidos pela RTP 1 e 2, o “Cuidado com a Língua”, dedicada à
língua portuguesa, a série de ficção “Conta-me como foi” ou os documentários
“Portugueses no Mundo” e os de José Hermano Saraiva são bons exemplos do que
deve ser um serviço público de qualidade. Não há nenhuma razão lógica para
dizer que um concessionário privado não possa produzir programas semelhantes a
estes. Todos aqueles programas, e muitos outros, são produzidos por empresas
privadas por encomenda da RTP.
Outra questão passa pela
impossibilidade legal de uma das hipóteses em cima da mesa do governo: a
concessão. Na realidade, a RTP é uma concessionária do serviço público de
televisão, sendo ela mesma uma empresa de direito privado. O contrato foi
assinado em 2003 pelo governo de Durão Barroso, tendo sido renovado em 2008
pelo governo de José Sócrates. Nada nos seus estatutos ou na lei, impedem que o
seu objecto social seja assegurado por privados.
Os defensores da tese da
empresa pública alegam ainda que a RTP é um exemplo de gestão empresarial, pois
deu lucro nos dois últimos exercícios. Este, definitivamente, é um dos mitos
que marcam este debate. É bom referir que a RTP não é o melhor exemplo
histórico de controlo de despesa, razão pela qual tinha uma dívida de 1,1 mil
milhões de euros em 2003. Os resultados positivos da empresa só foram possíveis
depois do Estado reduzir de forma muito significativa a dívida bancária da
empresa para cerca de 171 milhões de euros. Isto é, só a eliminação dos custos
relacionados com o serviço da dívida permitiu apresentar resultados líquidos
positivos
Dito isto, a RTP não pode ser
concessionada porquê? Se outros serviços públicos, como a distribuição da água
ou os transportes públicos e vias de comunicação, podem ser assegurados por
privados, porque razão o serviço público de televisão não pode? Pode e deve. Só
por puro preconceito ideológico pode afirmar-se o contrário, sendo certo que os
detractores da hipótese da concessão caiem numa contradição insanável: defendem
que a televisão tem de ser pública, mas esquecem-se que, na hipótese da
concessão, a propriedade mantém-se sempre no Estado.
Título e Texto: Luíz Rosa, jornal “i”,
03-9-2012
O Estado Social é uma coisa
bonita
Há mais lobbies a lutar por
uma televisão pública que garanta o ‘status quo‘ na comunicação social e o
controle estatal de um meio de propaganda, que houve contra o fecho da
Maternidade Alfredo da Costa e das escolas públicas no interior do país.
Estado social? A hipocrisia
tem limites e o primeiro devia ser o nosso sentido crítico.
Texto: André
Abrantes Amaral, O Insurgente, 03-9-2012
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