Helder Caldeira
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O tombo mais emblemático para
o PSDB vem se desenhando em São Paulo, reduto defendido com unhas e bicos pelo
tucanato. A se confirmarem as projeções das atuais pesquisas de opinião, a
prefeitura da capital paulista deve passar às mãos do jornalista Celso
Russomanno, candidato pelo pesqueiro Partido Republicano Brasileiro (PRB).
Faltando apenas um mês para as eleições, Russomanno já está isolado na
liderança em todas as pesquisas e com vasto espaço de crescimento, seguido pelo
ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, cujo apadrinhamento lulo-petista lhe
garante a soma expressiva de pontos percentuais.
Enquanto isso, o
autoproclamado franco-favorito José Serra vê seu passaporte político ser
carimbado com a alcunha de “Ex”: ex-deputado federal, ex-senador, ex-ministro,
ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato “biderrotado” à Presidência da
República. Ao que tudo indica, somará ao currículo o título de ex-candidato a
Prefeitura de São Paulo. Nessa toada, não lhe restará nem a vereança em 2016.
Triste fim para um tucano que teve seus anos de relevância nacional, mas errou
a mão nos tons de prepotência, arrogância e imposições quase pueris em termos
políticos.
A ingerência de José Serra
sobre o colegiado socialdemocrata nas últimas eleições que participou foi o
principal responsável pelo degredo do partido nas urnas, bem como das
agremiações coligadas. Talvez seja o ato final de uma “cacicagem” que não tem
mais espaço no cenário político contemporâneo. A única exceção ainda vigente (mas
com seus dias contados!) vem do ex-presidente Lula da Silva, que impõe à cúpula
partidária petista os nomes que ele quer, sedimentado em anacrônico e residual
populismo esquizoide e pseudopoderismo classista-sindical, remontando suas
origens políticas. Em plena era digital e de explosão da informação horizontal,
essas vertentes tendem à morte.
Serra, em sua pior faceta, faz
lembrar “O Frangote Vaidoso”, uma fábula do escritor russo Leon Tolstói: “Dois
frangotes brigavam num monte de esterco. Um era mais forte, venceu e arrastou o
outro pra fora dali. As galinhas se reuniram em volta do frangote vencedor e
começaram a aplaudir. Ele, vaidoso, quis que o quintal vizinho soubesse da sua
força e da sua glória. Voou até o topo do celeiro, bateu asas e cacarejou bem
alto: ‘Olhem pra mim, todos vocês! Sou um frangote vitorioso! Não há no mundo
um frangote mais forte do que eu!’ O frangote ainda não havia terminado o
discurso de vaidade quando uma águia veio e o matou com as garras, arrastando-o
para o ninho.”
O ocaso do tucanato não é uma
exclusividade paulistana. Está se repetindo, em maior ou menor escala, nas
principais cidades brasileiras no processo eleitoral de 2012. O PSDB ainda não
conseguiu entrar no século 21 e, por isso, derrete. Desconsiderou a urgência de
um reposicionamento estratégico, de um novo foco de ideias, do investimento
programático e morre paulatinamente. Como um suicida, continua apostando em
nomes e não em projetos. Por cacicagem, esses nomes são sempre os mesmos. Caras
iguais, discursos iguais. Essa matemática não cola mais, nem mesmo nos redutos
peessedebistas reconhecidamente consolidados.
O PSDB foi tolo em 2002 ao
supor que venceria fácil Lula da Silva; tapou buraco em 2006; repetiu a tolice
em 2010 ao subestimar Dilma Rousseff e o poder de transferência de votos
lulistas; e agora consegue repetir a proeza de cair no mesmo buraco e entrar
numa campanha com o carão de “já ganhou!”, desconsiderando as possibilidades de
crescimento dos demais candidatos e seu próprio e gigantesco índice de rejeição
em solo paulistano. Vale reiterar: se realmente perder as eleições em São
Paulo, José Serra pode desistir, se aposentar. Ou tentar a vereança em 2016.
Talvez consiga. Talvez! Um triste ocaso para um ex-experiente tucano.
Título e Texto: Helder Caldeira, escritor, jornalista e
apresentador de TV.
Colaboração: Plínio Sgarbi
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