Para simularem uma espécie de
ideologia de esquerda e protegerem seu “pobre operário”, Lula da Silva, que há
muito não é pobre nem operário, ardilosamente os donos do poder inventaram que
elite é aquela entidade suja e rancorosa composta por ricos impiedosos, que
aliados a uma imprensa a serviço de monstruosos interesses têm como objetivo
destruir o magnânimo pai da pátria e seu partido. Enfim, uma atraente versão
tropical e populista da luta de classes, algo que deve ter feito Karl Marx
tremer na tumba.
Nos estudos clássicos de
Sociologia o termo elite ou escol tem sentido bem diferente como os vistos nas
primeiras abordagens elaboradas pelos chamados “maquiavelistas”, Vilfredo
Pareto, Gaetano Mosca, Robert Michels e Georges Sorel. Em vez da luta de classes
eles consideravam que a história das sociedades é a luta das elites pelo poder.
Pareto (1848-1923) entendia
elite de modo positivo, pois fariam parte do escol pessoas de qualidades
excepcionais tanto pelo seu trabalho quanto por seus dotes naturais e, de forma
realista afirmou: “Todo escol que não se dispõe a travar batalha para defender
suas posições está em plena decadência; só lhe resta deixar o lugar a outra
elite que tenha as qualidades viris que lhe faltam”.
Gaetano Mosca (1858-1941)
preferiu o termo classe dirigente ou dominante em vez de elite para designar a
distinção entre dirigentes e dirigidos.
Sem aprofundar a discussão
sobre tais teorias lancemos um olhar sobre o quadro das eleições municipais
lembrando que, pelo fato do PT se manter na presidência da República há quase
10 anos se pode dizer que é a classe dirigente, dominante ou elite sem, é
claro, as boas qualidades de que falou Pareto.
Posto isso, recorde-se que na
sua longa trajetória para lograr Lula lá os petistas desenvolveram certas táticas
que continuam usando, tais como: Jamais aceitar críticas por menores que sejam
e reagir às mesmas com maior agressividade possível; encarar o adversário como
inimigo; invés de argumentar desqualificar quem não reza por sua cartilha como
incompetente, rancoroso, invejoso, membro da famigerada e suja elite; usar a
sedutora e comovente imagem de vítima transformando suas vítimas em seus
algozes; distorcer ao máximo os fatos; usar de meios baixos para atacar
adversários como, por exemplo, falsos dossiês ou compra de apoios.
Essas táticas foram usadas à
exaustão para resguardar a figura de Lula tornada excelsa. Para ele só o
elogio, qualquer crítica é considerada como grave preconceito. Então, amparado
pelos companheiros e pelo marketing o guardião do poder petista exerceu
plenamente o paternalismo pedagógico e a alienação das massas. Ele foi o
“líder-preceptor que precede ao nascimento do Estado-Nação”. Por isso sempre
dizia com prazer: “nunca antes nesse país”.
Antes de chegar ao cargo mais
alto da República o PT soube ser oposição. Durante os oito anos de mandato de
FHC petistas gritaram: “fora Fernando Henrique”. Ao mesmo tempo, tudo que FHC
fazia era estridentemente criticado.
Apesar disso, quando Lula
finalmente alcançou a presidência da República, Fernando Henrique inventou a
“transição”, ou seja, colocou a disposição de Lula seus melhores técnicos para
que ensinassem aos neófitos do PT como se governa.
Então, o PT copiou as políticas
econômicas e sociais de FHC, mas sempre as criticando como herança maldita.
Mesmo assim o PSDB foi o grande auxiliar de Lula, muito mais do que parte do PT
que cindiu e formou o PSOL e mais ainda do que a base aliada. E quando Lula
poderia ter sofrido o impeachment à época da CPI dos Correios, FHC sustentou o
amigo no poder. Aliás, com raras exceções, os tucanos sempre demonstraram um
imenso encantamento por Lula e nunca souberam ser oposição enquanto o PT, de
modo implacável, atacava como ainda ataca Fernando Henrique e sua herança
maldita.
O resultado é o que se vê no
momento em São Paulo: José Serra em queda e Celso Russomanno subindo nas
pesquisas de intenção de voto.
Na verdade, o PSDB não soube
ocupar seu lugar como oposição. Deixou um vácuo que vai sendo ocupado por outro
ator político. O PT, que nunca brilhou muito na capital paulista entrou em rota
de desgaste com o julgamento do mensalão no STF, a doença de Lula, a emergência
de outras lideranças políticas, a insatisfação do funcionalismo público e dos
ditos movimentos sociais com a presidente Rousseff.
Ascenção e queda são ciclos
inevitáveis na vida pessoal e na dinâmica das sociedades. No Brasil algumas
mudanças estão acontecendo. Uma coisa boa e que trás um raio de esperança é o
julgamento do mensalão a demonstrar a independência do Poder Judiciário e,
portanto, o resguardo da democracia.
No mais, como disse Pareto,
perdem os que não se dispõe a travar batalha para defender suas posições. Isto
é bem mais importante do que apresentar renovação de candidatos. Que o PSDB
aprenda a lição se quiser chegar de novo à presidência da República.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga,
09-9-2012
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