George Reisman
Os pacotes de socorro ao
sistema financeiro mundial — o qual, após incorrer em práticas insensatas de
expansão de crédito estimuladas pelos seus respectivos governos e bancos
centrais, foi socorrido justamente por eles — em conjunto com um quadro de
recessão aguda que vai se prolongando ao redor do mundo — recessão essa causada
justamente por políticas governamentais — se combinaram para gerar um fenômeno
semelhante ao colapso de uma enorme represa, desencadeando uma torrente não de
água mas sim de ódio: ódio ao capitalismo e aos seus mais visíveis e valorosos
representantes — as grandes empresas e os grandes empreendedores.
Grandes empresas e sua
"ganância epidêmica" por lucros estão sendo responsabilizadas pela
causa do colapso. Uma turba ignara de jornalistas e manifestantes
doidivanas — que não sabem ao certo o que querem —, armados com câmeras,
microfones e toda uma infinidade de guarnições da mais moderna tecnologia, em
vez de se dedicarem ao tricô, estão salivando para ver grandes empresas e
grandes empreendedores sendo capturados e demolidos em público, exatamente como
faziam as multidões da Revolução Francesa que queriam ver os odiados
aristocratas sendo levados para a guilhotina.
O que está ocorrendo
atualmente ao redor do mundo não pode ser entendido sem se levar em conta a
profunda ignorância que domina os intelectuais da atualidade no que diz
respeito à natureza e ao funcionamento do capitalismo e da busca por lucros.
Não obstante o colapso mundial do socialismo e o inegável e visível sucesso do
capitalismo, grande parte do mundo intelectual apresenta uma predisposição ao
socialismo e uma oposição ao capitalismo como raramente já se viu.
A grande maioria dos intelectuais
de hoje — desde comentaristas de jornais e televisão até professores
universitários, incluindo-se aí a maioria dos professores de economia, para não
mencionar políticos e seus apologistas — considera o fracasso do socialismo e o
sucesso do capitalismo como meros "fatos brutos", isto é,
fatos sem bases inteligíveis, fatos que desafiam e contradizem toda a
compreensão. Se quisessem realmente pensar de maneira racional, tais
pessoas teriam de ler e estudar as obras de Ludwig von Mises e dos outros
proeminentes teóricos da Escola Austríaca de pensamento econômico, bem como
também da Escola Britânica clássica. Mas isso eles não irão fazer.
Como resultado dessa
fundamental incapacidade intelectual e moral da parte deles, e de acordo com
tudo em que eles ainda acreditam, o socialismo, com sua suposta preocupação
para com o bem-estar de todos e sua suposta racionalidade de planejamento,
deveria ter prosperado e prevalecido, ao passo que o capitalismo, com sua
preocupação exclusiva com o lucro individual e sua suposta 'anarquia no sistema
de produção', é quem deveria ter fracassado. Na mente dos intelectuais da
atualidade, o fato de ter ocorrido o resultado oposto no mundo real é algo que
deve colocar em dúvida a confiabilidade da própria razão em si — postura essa
que, creio eu, ajuda enormemente a explicar a ascensão de um ostensivamente
declarado irracionalismo nas últimas décadas, cujo melhor exemplo são os
ataques à ciência e à tecnologia oriundos do movimento ambientalista.
Os intelectuais se agarram aos
eventos da atualidade porque tais eventos parecem oferecer um alento para o
desmoronamento do seu universo intelectual. Eles acreditam, pelo menos
por enquanto, estarem mais uma vez na posição de professar ao mundo que seus
conceitos sobre o capitalismo foram confirmados pela realidade.
Não será o objetivo deste
artigo explicar as reais causas do atual cenário econômico, como a criação de
dinheiro fiduciário, a expansão artificial do crédito e a manipulação dos
juros, tudo isso realizado integralmente pelos bancos centrais mundiais, que
nada mais são do que órgãos estatais. Tal tarefa já foi proficuamente
apresentada em outros artigos deste site. O objetivo aqui será o de apresentar uma
contra-argumentação aos aspectos relevantes dessa ignorância anticapitalista
dos intelectuais da atualidade, demonstrando como toda a população se beneficia
justamente daquilo que os intelectuais mais atacam: o interesse próprio e a
busca pelo lucro dos capitalistas.
A busca pelo lucro é a base
de todas as melhorias econômicas
O que os intelectuais e sua
hostilidade ao lucro ignoram é que a busca pelo lucro em um livre mercado é
exatamente a fonte de virtualmente todas as melhorias econômicas de uma
sociedade.
Em um livre mercado, todo e
qualquer indivíduo tem a liberdade de empreender e consumir sem ser tolhido por
decretos, regulamentações e burocracias. Sua liberdade deve ser plena,
desde que, em suas atividades, ele não agrida a propriedade, a vida e a
liberdade de terceiros. Ele é livre para não sofrer coerção e força física,
mas também é proibido de adquirir a propriedade de terceiros por meios
desonestos, inclusive por meio da fraude. Tudo que um indivíduo receber de
outros deve ser por meio da escolha voluntária destes.
Se tais condições não são
respeitadas, e alguns indivíduos conseguem ganhar à custa de todos os outros
por meio de força, fraude, coerção, tributação ou regulamentações, então tal
situação representa uma falha de governo, não do livre mercado. O
fracasso do governo está precisamente no fato de ter feito com que os indivíduos
que participam do mercado fossem submetidos a tais tipos de agressão.
Em um livre mercado, a maneira
de um indivíduo obter dinheiro de terceiros é ofertando algo que eles julgam
ser valioso e que desejam possuir. Esses são os tipos de bens e serviços
que um indivíduo busca produzir e vender em um livre mercado: bens e serviços
valiosos para os consumidores. Desta maneira, a busca pelo lucro é a base
de um contínuo processo de inovação, no qual são constantemente introduzidos
novos e melhores produtos e novos e menos custosos métodos de produção. O
desenvolvimento de novos e melhores produtos que as pessoas desejam comprar, e
o aprimoramento de mais eficientes e menos custosos métodos de produção
daqueles produtos que já existem e que as pessoas continuam querendo comprar,
são as principais formas de um empreendedor obter lucros em um livre mercado.
Tão ignorado quanto isso pelos
intelectuais de hoje é o fato de que a esmagadora maioria dos lucros obtidos em
uma economia livre é poupada e reinvestida, e que a acumulação de qualquer
fortuna em uma economia livre é o resultado da introdução de toda uma série de
aprimoramentos nos bens e serviços adquiridos voluntariamente pelos
consumidores. E a maneira de se criar os meios para produzir esses aprimoramentos
é reinvestindo justamente a quase totalidade dos lucros obtidos. É por
meio desse processo que o público geral se beneficia da riqueza dos
capitalistas.
Assim, para utilizar um
exemplo clássico, Henry Ford, que começou com um capital de aproximadamente US$
25.000 em 1903 e terminou com um capital de aproximadamente US$ 1 bilhão à
época de sua morte em 1946, foi responsável pela maior parte do tremendo
progresso ocorrido nos automóveis produzidos ao longo desse período, bem como
na eficiência com que eles passaram a ser produzidos. Foi amplamente
graças a ele que os automóveis de 1946 eram incrivelmente superiores àqueles
produzidos em 1903. Mais ainda: foi graças a ele — que reinvestiu quase
todo o seu lucro para aprimorar o processo de produção — que os automóveis
apresentaram uma espetacular redução real de custo, indo de um preço hoje
comparável ao de um iate para um preço que praticamente qualquer pessoa podia
bancar. Ou seja, à medida que sua fortuna ia crescendo, Ford ia
reinvestido-a exatamente na expansão da produção destes automóveis
aprimorados. Em outras palavras, o outro lado da moeda da crescente
fortuna de Ford foi o crescente beneficiamento do público em geral.
Um exemplo mais recente e
igualmente óbvio destes mesmos princípios é o caso da Intel. No início da
década de 1980, a Intel estava na vanguarda da produção daquilo que, à época,
era o mais avançado chip para uso em computadores pessoais: o 8086. No entanto, a
concorrência entrou no mercado e não permitiu que os altos lucros obtidos pela
Intel com a comercialização deste chip durassem muito tempo. Para
continuar à frente da concorrência e obtendo uma alta taxa de lucro na
indústria de computadores, foi necessário que a Intel introduzisse o amplamente
aprimorado chip 80286.
E então a mesma história se repetiu. Para continuar obtendo uma alta taxa
de lucro frente à concorrência, que estava sempre em seus calcanhares, a Intel
teve de desenvolver e introduzir o 80386, e depois o 80486 e então
sucessivas gerações do chamado chip Pentium.

A Intel foi capaz de fazer uma
fortuna durante todo este processo. Sua fortuna foi investida exatamente
na produção dos radicalmente aprimorados chips que atualmente são produzidos a
uma fração do custo dos chips de uma década ou duas atrás. (Obviamente,
os lucros obtidos com qualquer tipo de aprimoramento podem ser também investidos
na expansão da produção de outros produtos completamente diferentes).
Tais exemplos não são
isolados. O princípio que eles ilustram funcionam universalmente, e
mostram a importância de se ter um livre mercado, sem regulamentações e sem a
tributação do lucro.
As fortunas empresariais, em
um livre mercado, são acumuladas por meio dos altos lucros gerados pela
introdução de novos e aperfeiçoados produtos e também pela introdução de
métodos de produção mais eficientes e menos custosos. Estes altos lucros
são seguidamente poupados e reinvestidos justamente para ampliar e melhorar a
produção destes mesmos produtos ou até mesmo de produtos distintos. Por
exemplo, a fortuna de $6 bilhões do falecido Steve Jobs foi construída em
decorrência de Jobs ter feito com que fosse possível que a Apple Computer
introduzisse novos e aperfeiçoados produtos, como o iPod, o iPhone e o iPad, e
então poupasse e reinvestisse uma expressiva fatia dos lucros que vieram pra
ele.
Isso é algo que vale a pena
ser repetido e enfatizado: as fortunas que são acumuladas desta forma são
normalmente direcionadas à produção em larga escala justamente dos produtos que
forneceram os lucros utilizados para acumular esta fortuna. Assim, por exemplo,
os bilhões de dólares de Jobs serviram em grande parte para aprimorar a
invenção e a produção de produtos da Apple. Similarmente, a grande
fortuna pessoal do velho Henry Ford — adquirida em decorrência da introdução de
grandes aprimoramentos na eficiência da produção automotiva, o que fez com que
o preço de um automóvel novo caísse de US$ 10.000 no início do século XX para
US$ 300 em meados da década de 1920 — foi utilizada para tornar possível a
produção em larga escala de milhões de automóveis Ford.
Adicionalmente, as altas taxas
de lucro adquiridas com produtos novos e aprimorados e com métodos de produção
mais eficientes são meramente temporárias. Assim que a produção de um
novo produto ou o uso de um novo método de produção mais eficiente se torna
padrão em uma indústria, ele deixa de gerar lucros excepcionais. Com
efeito, novos e contínuos aprimoramentos fazem com que os aprimoramentos
anteriores tornem-se completamente não-rentáveis. Por exemplo, a primeira
geração do iPhone, que era altamente lucrativa há apenas alguns anos, já deixou
de ser ou rapidamente deixará de ser lucrativa, pois novos avanços a deixaram
obsoleta.
Como resultado, a acumulação
de grandes fortunas empreendedoriais requer a introdução de uma série de
aprimoramentos nos produtos criados ou nos métodos de produção
utilizados. Isto é um pré-requisito para se manter uma alta taxa de lucro
frente à concorrência em um livre mercado. A capacidade da Intel de
manter sua alta taxa de lucro ao longo de vários anos dependia completamente de
sua capacidade de introduzir melhorias sequenciais em seus chips de
computador. O efeito líquido desse processo foi o de fazer com que os
usuários de computadores se beneficiassem de contínuas melhorias e avanços
tecnológicos; e não apenas não houve nenhum custo adicional, como na verdade
ocorreu um drástico declínio nos preços destes chips. Enquanto os altos
lucros se basearem na redução dos custos de produção, a concorrência fará com
que os preços dos produtos sejam reduzidos correspondentemente à redução dos
custos de produção, o que obrigará as empresas a descobrirem novos métodos de
reduzir ainda mais seus custos para manter seus altos lucros.
O mesmo resultado, é claro, é
válido não somente para a Intel e seus microprocessadores, mas também para o
resto da indústria da computação, na qual gigabytes de memória e terabytes de
capacidade de armazenamento de disco rígido hoje são vendidos a preços menores
que os preços de megabytes de memória e de disco rígido há algumas décadas
atrás. Como efeito, se olharmos cuidadosamente, este princípio de
produtos cada vez melhores e mais baratos a custos cada vez menores se aplica a
todo o sistema econômico. Está presente tanto na produção de comida, de
roupas e de abrigos quanto nas indústrias de alta tecnologia, e em praticamente
todas as indústrias entre estes dois extremos.
Está presente em todas estas
indústrias não obstante a inflação da oferta monetária — totalmente gerenciada
pelo governo — ter feito com que os preços dos produtos aumentassem acentuadamente
ao longo dos anos. Apesar disso, quando calculados em termos da quantidade
de trabalho que o cidadão comum deve despender a fim de adquirir o
salário necessário para comprar tais produtos, os preços de tais bens caíram
fortemente.
A melhor ilustração deste
raciocínio pode ser vista no aumento do padrão de vida que ocorreu ao longo dos
últimos 100 anos. Em 1911, o cidadão comum trabalhava 60 horas por
semana. O que ele recebia em troca da sua mão-de-obra era exatamente o
padrão de vida de 1911 — um padrão de vida que não incluía bens como
automóveis, ar condicionado, viagens aéreas, antibióticos, geladeiras,
congeladores, filmes, televisão, videocassetes, aparelhos de DVD, Blu-ray,
rádios, toca-discos, CD players, computadores, notebooks, celulares, moradias
confortáveis, comidas e roupas abundantes e de qualidade, medicina e
odontologia modernas, máquina de lavar e secar, forno de microondas e por aí
vai. Em 1911, telefones e energia elétrica eram raros. Aparelhos
elétricos eram praticamente desconhecidos. Telefones celulares não eram
nem objetos de ficção.
Os bens que podiam ser
produzidos à época, como vários tipos de comida, roupas e moradias, eram de
menor qualidade e muito mais caros em termos reais do que são hoje — isto é, em
termos do tempo necessário para ganhar o dinheiro necessário para
adquiri-los. A alimentação, o vestuário e a moradia do cidadão comum eram
muito mais modestos do que são hoje. Todos esses bens só se tornaram mais
acessíveis e aumentaram em qualidade e variedade porque a busca por lucros
levou ao necessário processo de corte de custos e a outros aprimoramentos no
processo de produção. E todos aqueles bens que não existiam em 1911 só
passaram a existir por causa da busca por lucros.
Em outras palavras, o que
aumentou tão radicalmente o padrão de vida de todos foi nada mais do que a
busca por lucros e a liberdade de agir de acordo com esse objetivo. A
busca por lucros foi a força-motriz da produção e da atividade econômica.
Em todos os lugares, em cada indústria, em cada cidade, havia homens ávidos
para lucrar aprimorando produtos e métodos de produção. Eles tiveram a
liberdade de fazer isso e foram bem sucedidos. Essa "ganância",
"epidêmica" a ponto de se tornar generalizada, foi o que aprimorou
tão radicalmente o padrão de vida do cidadão comum. É algo pelo qual
todos nós devemos ser profundamente agradecidos. Caso tal
"ganância" fosse menos "epidêmica" e menos generalizada, o
aprimoramento do nosso padrão de vida teria sido, sem a menor sombra de dúvida,
muito menos intenso.
O grau de aprimoramento do
padrão de vida do cidadão médio pode ser mensurado utilizando-se o fato de que
seu padrão de vida é hoje pelo menos 10 vezes maior do que era em 1911 (e essa
é uma estimativa conservadora), e tal padrão é obtido trabalhando-se em média
apenas dois terços do que se trabalhava em 1911 — 40 horas de trabalho por
semana ao invés de 60. Assim, dois terços do trabalho realizado em 1911
hoje consegue adquirir dinheiro suficiente para comprar 10 vezes a quantidade
de bens. Ou, colocando de outra forma, um simples décimo daqueles dois
terços — ou 6,66% — é hoje suficiente para comprar bens equivalentes ao padrão
de vida médio de 1911. Isso significa que, na média, graças à ganância de
empreendedores e capitalistas, houve, desde 1911, uma queda nos preços reais da
ordem de 93,33%!
Apenas este fato já deveria
servir para demonstrar que o capitalismo de livre mercado — o capitalismo
laissez-faire — é o sistema econômico mais ético e moral que existe. Ele
é a materialização das liberdades individuais e da busca pelo interesse
próprio. Ele resulta no progressivo aumento no bem-estar material de
todos, algo que se manifesta no aumento das expectativas de vida e no contínuo
aprimoramento do padrão de vida das pessoas.
O papel dos ricos
capitalistas na melhora do nosso bem-estar
Os atuais protestos contra os
ricos, contra os lucros das grandes empresas e contra a ganância partem do
velho princípio marxista de que uma pequena fatia de abastados vive à custa da
exploração da esmagadora maioria da população mundial. Tal raciocínio
seria verdadeiro caso a revolta se direcionasse especificamente para aqueles
indivíduos cuja riqueza foi adquirida por meios que atentam justamente contra o
capitalismo, como subsídios governamentais, protecionismo e outras formas de
governo que obstruem a livre concorrência. Nesse caso, os protestos
mereceriam o apoio de todos os pró-capitalistas. No entanto, a gritaria tem
sido generalizada e o alvo comum tem sido os ricos, os lucros e a ganância de
forma geral.
A óbvia solução apresentada é
que a população explorada — a esmagadora maioria da população mundial —
confisque a riqueza da ínfima minoria abastada e a utilize para seu beneficio
próprio ao invés de permitir que ela continue sendo utilizada para o benefício
dessa ínfima minoria, que é supostamente formada por indignos e gananciosos
capitalistas exploradores. Em outras palavras, o programa implícito por
trás das atuais manifestações é o socialismo e a redistribuição de riqueza.
Deixando de lado as hipérboles
utilizadas nos protestos, é verdade que uma relativamente pequena minoria da
população de fato detém uma excepcionalmente grande fatia da riqueza da
economia. Mas o que os manifestantes não percebem é que a riqueza
dessa ínfima minoria é exatamente o que fornece o padrão de vida da esmagadora
maioria.
Os manifestantes não se dão
conta disso porque veem o mundo através de uma lente intelectual totalmente
inapropriada para a vida sob o capitalismo e sua economia de mercado.
Eles veem um mundo — que ainda existe em alguns lugares atrasados, e que era
prevalecente há alguns séculos — povoado de famílias autossuficientes que vivem
da agricultura de subsistência, cada uma produzindo para consumo próprio, sem
nenhuma ligação com um mercado de compra e venda de bens e serviços.
Em tal mundo, quando alguém vê
uma plantação, ou um celeiro, ou um arado, ou animais de carga, e pergunta a
quem tais meios de produção servem, a resposta é "ao agricultor e sua
família, e a ninguém mais". Neste mundo, à exceção de algum
ocasional gesto de caridade dos proprietários, aqueles que não possuem meios de
produção não podem se beneficiar dos meios de produção existentes, a menos que
eles próprios de alguma maneira também se tornem proprietários de meios de
produção. Eles não podem se beneficiar dos meios de produção de
terceiros, a menos que herdem-nos ou confisquem-nos.
No mundo dos manifestantes, os
meios de produção possuem essencialmente a mesma característica de bens de
consumo, os quais, em regra, beneficiam apenas os seus proprietários.
Justamente por seguirem esta mesma visão de mundo, aqueles que compartilham da
mesma mentalidade dos manifestantes tipicamente imaginam os capitalistas como
homens obesos, cujos pratos estão repletos de comida enquanto as massas de
assalariados têm de viver à beira da fome. De acordo com essa
mentalidade, a redistribuição de riqueza é simplesmente uma questão retirar a
comida do prato transbordante dos capitalistas e redistribuí-la para os
trabalhadores esfomeados.
Porém, ao contrário de tais
crenças, no mundo moderno em que realmente vivemos, a riqueza dos capitalistas
simplesmente não está na forma de bens de consumos, pelo menos não de maneira
significativa. Não apenas ela está predominantemente na forma de meios de
produção, como também esses meios de produção estão empregados na produção de
bens e serviços que são vendidos no mercado. Em total
antagonismo às condições das famílias agrárias autossuficientes, os
beneficiários dos meios de produção dos capitalistas são todos os membros do
público consumidor em geral, que compram os produtos dos capitalistas.
Por exemplo, sem ser dono de uma única ação de alguma grande montadora (GM, Daimler, Ford, BMW, Scania, VW, Toyota, Volvo) ou de alguma petrolífera (Exxon Mobil, BP, Shell, Chevron), qualquer pessoa em uma economia capitalista que compre os produtos destas empresas se beneficia de seus meios de produção: o comprador de um automóvel Volvo se beneficia da fábrica da Volvo que produziu aquele automóvel; o comprador da gasolina da Shell se beneficia de seus poços petrolíferos, oleodutos e caminhões-tanque. Adicionalmente, também se beneficiam destes meios de produção todas aquelas pessoas que compram produtos de clientes da Volvo ou da Shell, desde que tais meios de produção indiretamente contribuam para os produtos destes seus clientes. Por exemplo, os clientes dos supermercados cujos produtos foram entregues em caminhões feitos pela Volvo ou abastecidos com diesel produzido nas refinarias da Shell se beneficiam da existência da fábrica de caminhões da Volvo e das refinarias da Shell. Mesmo aqueles que compram produtos dos concorrentes da Volvo e da Shell, ou dos clientes destes concorrentes, também se beneficiam da existência dos meios de produção da Volvo e da Shell. Isso porque os meios de produção da Volvo e da Shell resultam em uma oferta mais abundante — e, logo, mais barata — dos bens que os concorrentes vendem.
Por exemplo, sem ser dono de uma única ação de alguma grande montadora (GM, Daimler, Ford, BMW, Scania, VW, Toyota, Volvo) ou de alguma petrolífera (Exxon Mobil, BP, Shell, Chevron), qualquer pessoa em uma economia capitalista que compre os produtos destas empresas se beneficia de seus meios de produção: o comprador de um automóvel Volvo se beneficia da fábrica da Volvo que produziu aquele automóvel; o comprador da gasolina da Shell se beneficia de seus poços petrolíferos, oleodutos e caminhões-tanque. Adicionalmente, também se beneficiam destes meios de produção todas aquelas pessoas que compram produtos de clientes da Volvo ou da Shell, desde que tais meios de produção indiretamente contribuam para os produtos destes seus clientes. Por exemplo, os clientes dos supermercados cujos produtos foram entregues em caminhões feitos pela Volvo ou abastecidos com diesel produzido nas refinarias da Shell se beneficiam da existência da fábrica de caminhões da Volvo e das refinarias da Shell. Mesmo aqueles que compram produtos dos concorrentes da Volvo e da Shell, ou dos clientes destes concorrentes, também se beneficiam da existência dos meios de produção da Volvo e da Shell. Isso porque os meios de produção da Volvo e da Shell resultam em uma oferta mais abundante — e, logo, mais barata — dos bens que os concorrentes vendem.
Em outras palavras, todos nós, 100%
de nós, nos beneficiamos da riqueza dos odiados capitalistas. Nós nos
beneficiamos sem que nós mesmos tenhamos de ser capitalistas. Os críticos
do capitalismo são literalmente mantidos vivos em decorrência da riqueza dos
capitalistas que eles odeiam. Como demonstrado, os campos de petróleo e
os oleodutos das odiadas corporações petrolíferas fornecem o combustível que
movimentam os tratores e os caminhões que são essenciais para a produção e a
distribuição de comida que os críticos comem. Os manifestantes atuais e
todos os outros que têm ódio dos capitalistas simplesmente odeiam os alicerces
de sua própria existência.
O benefício que os meios de
produção dos capitalistas trazem aos não-proprietários dos meios de produção se
estendem não apenas aos compradores dos produtos fabricados por esses meios de
produção, mas também aos vendedores da mão-de-obra que é empregada para
trabalhar com esses meios de produção. A riqueza dos capitalistas, em
outras palavras, é a fonte tanto da oferta de produtos que os não-proprietários
dos meios de produção compram, como também da demanda pela mão-de-obra que os
não-proprietários dos meios de produção vendem. Donde se conclui que,
quanto maior o número e quanto maior a riqueza dos capitalistas, maior será
tanto a oferta de produtos quanto a demanda por mão-de-obra.
Consequentemente, menores serão os preços e maiores serão os salários — logo,
maior será o padrão de vida de todos. Nada pode ser mais benéfico para o
interesse próprio do cidadão comum do que viver em uma sociedade repleta de
capitalistas multibilionários e suas grandes empresas, todos ocupados
utilizando sua vasta riqueza para produzir bens que este cidadão irá comprar e
para disputar a mão-de-obra que ele irá vender.
Não obstante tudo isso, o
críticos do capitalismo desejam um mundo no qual os capitalistas bilionários e
suas grandes empresas foram completamente banidos e substituídos por pequenos e
pobres produtores, que não seriam significativamente mais ricos do que eles
próprios, os críticos — o que significa que todos seriam pobres. Eles
creem que em um mundo com tais produtores, produtores que não possuem o capital
necessário para produzir quase nada, muito menos para conduzir a produção em
massa dos produtos tecnologicamente avançados do capitalismo moderno, eles irão
de alguma forma estar economicamente em melhor situação do que estão
hoje. Obviamente, tais críticos e manifestantes não poderiam estar mais
iludidos.
Além de não perceberem que a
riqueza dessa ínfima minoria é o pilar do padrão de vida da esmagadora maioria,
o que os críticos e manifestantes também não percebem é que a
"ganância" daqueles que se esforçam para fazer parte da ínfima
minoria — ou que se esforçam para ampliar sua posição dentro dela — é o que faz
com que o padrão de vida da esmagadora maioria seja progressivamente aumentado.
A ironia fatal que está destruindo
os EUA
A estagnação e o declínio
econômico, os problemas do desemprego em massa e a crescente pobreza observada
nos EUA nos últimos anos são o resultado de violações da liberdade individual e
da busca pelo interesse próprio. O governo emaranhou o sistema econômico
em uma crescente teia de regras e regulamentações paralisantes que proíbem a
produção de bens e serviços que as pessoas querem consumir, e ao mesmo tempo
obrigam a produção de bens e serviços que as pessoas não querem, fazendo com
que a produção de praticamente tudo seja muito mais cara do que deveria
ser. Por exemplo, proibições na produção de energia atômica, petróleo,
carvão e gás natural encarecem o custo da energia; e com menos energia
disponível para ser empregada na produção, a mão-de-obra humana tem de ser
utilizada mais intensamente para produzir uma dada quantidade de bens.
Isso resulta em menos bens disponíveis na economia, o que afeta a remuneração
de todos os assalariados.
Gastos governamentais
descontrolados e seus concomitantes déficits orçamentários, em conjunto com
altos impostos sobre a renda, sobre a propriedade e sobre ganhos de capital,
todos incidentes sobre fundos que caso contrário teriam sido amplamente
poupados e investidos, destroem o capital do sistema econômico. Desta
forma, eles impedem o aumento tanto na oferta de bens quanto na demanda por
mão-de-obra, algo que mais capital nas mãos das empresas teria gerado.
E há as inúmeras e crescentes
regulamentações que aumentam o custo da produção, reduzem sua eficiência e
impedem novas acumulações da capital. E houve também a formação e o
estouro de duas bolhas, a do mercado de ações e a imobiliária, ambas geradas
pela expansão de crédito orquestrada pelo Banco Central americano e que
amplificaram o consumo de capital da economia. Trilhões de dólares em
capital foram destruídos.
Toda essa destruição de
capital afeta a capacidade das empresas de produzir e empregar
mão-de-obra. É essa perda de capital que é responsável pelo atual
problema do desemprego em massa.
No entanto, não obstante toda
essa maciça destruição de capital, o problema do desemprego pode ser
eliminado. Porém, devido a essa perda de capital, para que tal problema
seja resolvido seria necessária uma redução nos salários. Essa redução,
entretanto, foi praticamente tornada ilegal em decorrência da existência de
leis de salário mínimo e legislações sindicais. Tais leis impedem que os
empregadores ofereçam salários menores, aos quais os desempregados estariam
reempregados.
Consequentemente, por mais irônico
que seja, o fato é que praticamente todos os problemas dos quais os
intelectuais, os críticos do capitalismo e os manifestantes reclamam são
resultado justamente da implementação de políticas que eles apóiam e nas quais
eles fervorosamente acreditam. É essa mentalidade, o marxismo incrustado
nela, e as políticas governamentais resultantes, que são responsáveis por tudo
aquilo de que estão reclamando. Os críticos e os manifestantes estão, com
efeito, na posição de autoflagelantes involuntários. Eles estão se
chicoteando e, como bálsamo para suas feridas, exigem ainda mais chicotadas e
algemas. Eles não veem isso porque não aprenderam a fazer a correlação
entre fenômenos básicos. Eles não entendem que, ao violarem a liberdade
de empreendedores e capitalistas, e ao confiscarem e consumirem suas riquezas —
isto é, ao utilizarem armas de constrangimento físico e mental contra esse
pequeno e odiado grupo —, eles estão destruindo as bases de seu próprio
bem-estar.
Por mais que os críticos do
capitalismo mereçam sofrer em decorrência dos danos causados pela aplicação de
suas próprias ideias, seria muito melhor se eles acordassem para o mundo
moderno e passassem finalmente a entender a verdadeira natureza do capitalismo,
e então direcionassem sua ira aos alvos que realmente merecem recebê-la.
Caso fizessem isso, eles poderiam, aí sim, trazer alguma contribuição real para
o bem-estar econômico, inclusive o deles próprios.
George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser
baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do
livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine
University. Seu website: http://www.capitalism.net/.
Seu blog www.georgereisman.com/blog/.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
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