[O cão tabagista conversou com…] Cleia Carvalho: “prefiro me agregar a todas as lutas do que ser uma pessoa omissa”

Nome completo: Cleia Lucindo de Carvalho

Nome de guerra: Cleia Carvalho

Quando começou a trabalhar? Aos 18 anos em 1974, só em 1978 que comecei a trabalhar na aviação.

Onde? A primeira empresa foi a DF Vasconcelos, depois na Votec Linhas Aéreas, TAM e Transbrasil.

Onde nasceu? Guaçuí - Espírito Santo

Quando parou de trabalhar?

Em setembro de 1989, último emprego na Transbrasil com carteira registrada.

Foram 15 anos…

Um ano na Votec, dois anos na Tam e doze anos na Transbrasil. Total de quinze anos de aviação.

Saudades?

Muitas, sou uma saudosista constante, lembrar da minha infância em uma cidade pequena onde pude ter contato com a natureza e viver na simplicidade foi muito marcante para o meu crescimento. Em 1972 me mudei para São Paulo, cheia de sonhos e conquistei muitas coisas, tenho saudades desse tempo em que comecei minha vida artística e ao mesmo tempo trabalhando meio período na aviação, outra paixão. Aqui sim, passei os melhores anos da minha vida. Sempre vou aos aeroportos e passo horas admirando e relembrando um passado que marcou muito a minha vida.

Depois de ter parado de trabalhar na Transbrasil abraçou alguma atividade?

Sim, foram várias atividades. Trabalhei como representante comercial em uma empresa como autônoma por uns 10 anos, e paralelamente com outras atividades que me davam muito prazer como: bolos artísticos, artesanatos diversos, e mais tarde, também escrevi dois livros que foi fundamental em minha vida.

Por que foram fundamentais?

Foram fundamentais porque na época eu estava passando por um momento muito exaustivo devido à minha separação, então surgiu a ideia de escrever alguma coisa sobre humor já que isso é peculiar à minha pessoa, foi ótimo, da tristeza eu passei a sorrir novamente, assim eu dei a volta por cima o que me serviu também como terapia. Eu mesma dei muitas gargalhadas com que estava escrevendo. "1001 CANTADAS DE UMA MULHER" graças a Deus foi muito bem recebido pela mídia e e pelos leitores, apesar de algumas críticas por parte da família.

Nunca havia pensado em ser realmente uma escritora. O mundo fascinante, a paixão, as experiências de ter trabalhado em companhias aéreas foram os maiores motivos que me levaram a escrever os casos e "causos" cômicos dos bastidores da aviação. Assim surgiu o meu segundo livro: "BASTIDORES CÔMICOS DA AVIAÇÃO - DO PASSAGEIRO AO PILOTO" que está disponível gratuitamente aqui na internet.

Entendo…

E por que a família criticou esses livros?

Uns falaram que era um tema arcaico. Como? Cantadas faz parte do cotidiano das pessoas, isso vem desde os tempos primórdios, outros acharam que é um livro leviano (pornográfico), por causa disso houve inimizade. Jorginho Guinle que fez a introdução do livro achou o máximo a minha ideia e ele disse: "Vai ser um sucesso, ainda mais escrito por uma mulher". Fui a pioneira no assunto e também fui muito bem recebida pela mídia em geral. Se meu livro não fosse bom ele não teria sido plagiado pela Editora Scala.

Como assim, plagiado?!

Eu deixei o meu texto nesta editora para uma avaliação, eles gostaram muito, mas me ofereceram muito pouco, eu não aceitei e resolvi fazer uma produção independente. A editora viu que seria um bom negócio, copiaram na íntegra e até mesmo parcial as minhas cantadas e fizeram um livro muito parecido com o meu. Consegui através de uma ação judicial retirar os livros de circulação, mas perdi o processo.

Bom, depois de ter escrito esses livros em que se ocupou?

Passei a me ocupar como ativista, sou muito solidária, não gosto de ver injustiça, sofro muito com isso, mas não tem jeito, está no meu sangue, prefiro me agregar a todas as lutas do que ser uma pessoa omissa. Já me perguntaram se sou viciada em manifestações, eu apenas digo que sou uma pessoa que luto pelos direitos como cidadã que paga os impostos, e exijo das autoridades que façam o melhor para o povo brasileiro. Sinto que Deus me me deu esta missão, jamais vou deixar de calar diante das atrocidades que vejo todos os dias, o meu grito de guerra será constante. Todos deveriam se empenhar na construção de uma sociedade mais justa, igual e solidária. 

Como tem sobrevivido?

Com uma pequena pensão que eu recebo através do meu ex-marido que foi piloto da Varig por muitos anos, pensão esta que vem direto do AERUS para a minha conta. Sou uma pensionista de ex-marido, porém vivo, ainda bem. (rsrsrs)

Quando começou o seu envolvimento com o caso Varig/Aerus?

O meu envolvimento começou logo após a falência da VARIG, na época entrei em pânico e em seguida fiquei com depressão, e para sair dessa eu passei a participar ativamente das manifestações do AERUS/VARIG já que eu era uma ativista. Foi uma forma de ajudar a todos os aeronautas, não só ao meu ex-marido como também minha filha que trabalhou na Varig. Me senti na obrigação de lutar por todos.

Algumas vezes você fez manifestação sozinha…

Muitas vezes, porque percebi que eu não era muito bem-vinda ao grupo, mas fiz conscientemente e com a aprovação de alguns políticos que me disseram que o caminho era este, estar sempre manifestando.

Fui muito criticada por alguns por estar participando das manifestações, uma vez me expulsaram de uma passeata, achei um absurdo, eu estava ali para somar e não dividir. Depois disso é que começaram a convidar amigos, parentes e simpatizantes para aumentar o número de pessoas, já que os próprios interessados não compareciam em massa como deveriam.

Quando e como percebeu que “não era muito bem-vinda ao grupo”?

Foi logo no início das manifestações em que a Vasp também se manifestava junto com a Varig,  AERUS e AEROS. Percebi de cara que havia uma competição muito grande entre as duas. INVEJA sim, mas da Vasp, o grupo deles era quase zero. Depois que me expulsaram, eu e Amaury Guedes formamos uma dupla que deu certo. Graças a Deus somos dois loucos em harmonia total e o resultado foi muito positivo.

E por que a expulsaram?

Me disseram que eu não era bem-vinda ao grupo por não ter nenhum vínculo com companhias aéreas, e também por estar fantasiada de bruxa naquele dia, que isso era ridículo e estava denegrindo a imagem da manifestação.

Vi em manifestações, no Santos Dumont, um companheiro fantasiado de morto-vivo e não passou pela cabeça de ninguém expulsá-lo, pelo contrário…

Eu acho que o problema sou eu porque fazia muito barulho, e isso incomodava os queriam tudo certinho e silencioso. Não adianta querer ficar na posição de "papai e mamãe" sempre que não vai dar certo. (kkkkk) Temos que agir como furacão e de forma consciente para atingirmos nossos objetivos, é assim a vida.

Você experimentou outras posições?

Foram várias posições e todas registradas em fotos pra ninguém dizer que eu não fiz. Fantasias faz parte da evolução! Rsrsrsr

Voltando… o que a VASP (lamentavelmente falida em janeiro de 2005) e o seu Fundo (AEROS) tinham a ver com as manifestações Varig/Aerus?

Taí uma pergunta que eu também queria entender. Me lembro muito bem que na época me falaram que eu não poderia ir para a avenida sozinha sem levar o nome dos dois (AEROS E AERUS) fiquei revoltada e não acatei as ordens.

Quem deu as ordens?

Alguém da Vasp que trabalha no Sindicato dos Aeronautas. Não sei se trabalha ainda. 

Tem continuado a participar de manifestações e protestos?

Sim, estou sempre na ativa em tudo que for para o bem do povo brasileiro.

Participou da última convocada pelo SNA/São Paulo?

Não participei, lugar onde não sou bem vinda estou fora. Gostando ou não gostando eu faço a minha parte de outra forma, dou o meu recado e sempre saio muito bem.

 

Qual a sua opinião sobre a sentença do STF (Defasagem Tarifária), no passado dia 12 de março?

Fiquei muito contente com esta vitória histórica, reacendeu a esperança de todos. O que me preocupa principalmente é a morosidade no judiciário. Acredito que levará alguns anos ainda para que todos recebam o que têm direito. Vamos deixar nas mãos de Deus porque ainda tem muita coisa para ser definida, basta ter fé.

Será que basta? Já lá vão oito anos!...

Apesar da vitória, ainda cabem recursos para questionar a decisão e o processo para calcular o montante a ser pago ao Aerus deve se arrastar por mais alguns anos, isso eu não tenho dúvidas. Tomara que eu esteja enganada.

Não sei se ainda cabem recursos, creio que não.

Mas de uma coisa estou certo: muita água ainda vai rolar e o grupo precisará de continuar lutando… você vai acompanhar?

Claro que estarei presente, não vai ser agora que vou deixar meus companheiros de luta. Se chegamos até aqui temos que seguir em frente. A luta continua.

Imagem a Luta continua

Tem viajado para o Exterior?

Sim, tenho, ainda mais agora com minhas filhas morando fora, uma em Paris e a outra em Budapeste. Em maio, se Deus quiser, estarei com elas.

Segue alguma religião?

Católica. Não era tão praticante, mas com este novo Papa FRANCISCO eu revi os meus conceitos, ele é maravilhoso, está renovando a Igreja católica. Viva o PAPA FRANCISCO, o Papa dos Pobres e o Papa Pop!

O que entende por “renovar” a Igreja?

Com esta nova postura o Papa está trazendo de volta muitos fiéis que estavam afastados assim como eu. Ele enriqueceu nossa alma com suas palavras simples e objetivas, nos incentivando a modificar nossas ATITUDES perante nós mesmos, nossos semelhantes e a vida! Isso pra mim é uma renovação para a igreja católica.

 

Politicamente, você se considera de Esquerda, de Direita…?

Politicamente sou de esquerda.

Eleitora do Partido dos Trabalhadores, PSOL, PSTU…

Não sou eleitora de partido nenhum, não voto em ninguém.

E o Brasil, tem jeito?

Com certeza. Porém, falta vontade política e participação mais efetiva da população no processo de conduzir os rumos da nação. Nós temos tudo para sermos um país de sucesso se não fosse a corrupção.

Temos muitas pessoas como eu, que não se conformam apenas em “levar a vida” e investem o seu tempo lendo, escrevendo, participando de entidades, associações e trabalhos voluntários e com doações e boa vontade.

O Brasil tem jeito, sim. Desde que nós paremos de buscar soluções nas formas erradas e deixemos a nossa omissão de opinar e exigir mudanças junto à classe política.

Votar não em quem faz mais promessas, mas em quem, de fato, age com ética, transparência e respeito.

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