um cabra marcado para morrer
Coincidência macabra: no dia seguinte á morte do
Último Grande Baluarte da Literatura Regionalista Sertaneja, eis que cai em
minhas mãos durante uma faxina...
O Livro Mais Destrutivo Já Escrito (e Putamente Bem Escrito) a ponto de
ser um dos Melhores Livros de Todos os Tempos:
POLÍGONO DAS SECAS, de Diogo Mainardi, o
Anti-Ariano Suassuna
MATAR a Literatura Regionalista Sertaneja. DESTRUIR
toda a mitologia do sertão. DESCONSTRUIR todos os clichês arraigados em todos
os romances regionalistas e na literatura de cordel, que mitificam
figuras repugnantes e elementos que representam tudo o que o Brasil em
particular e o Terceiro Mundo em geral têm de PIOR:
a cultura de barbárie, o obscurantismo medieval, o
fanatismo religioso, as crendices estúpidas, a exploração do desespero de vidas
sem futuro pelo charlatanismo mais vigarista; o atraso em todos os níveis da
existência humana, a ignorância imperante, a miséria mais extrema, as epidemias
de inúmeras doenças contagiosas, a fome atrofiando os cérebros e gerando
crianças retardadas; o sofrimento cotidiano dos mais indefesos, a rotina de
humilhações, estupros, assassinatos e necrofilia; a semi-escravidão aceita
como vontade divina; a paisagem destruída com o meio ambiente devastado; a
indústria da seca, os políticos comprando votos com verbas roubadas do povo, a
corrupção absoluta, a criminalidade institucionalizada, a ausência de lei, de
progresso e de justiça, os piores criminosos impunes se perpetuando no poder; a
insanidade endêmica, a psicose coletiva, a violência generalizada, a
desumanidade geral, o horror perpétuo, o autoritarismo dos coronéis
latifundiários e o terror dos cangaceiros como a mais aceita expressão de
poder.
Enfim: o objetivo do autor é mostrar como o Sertão
nordestino é o INFERNO mais abominável possível, fundamentado por uma cultura
odiosa, imoral e estupidificante. ARRASAR todo o culto aos valores
obscurantistas do povo sertanejo e da Literatura Regionalista, mostrando que
não valem nada.
E ele consegue. Diogo Mainardi é o autor
perfeito, tanto em estilo e linguagem como em erudição e humor. Mainardi usa
todos os mesmos elementos e arquétipos que compõem o cânone do romance
sertanejo e os volta contra si mesmos, destruindo a literatura regionalista por
dentro. Sua narrativa é um Alien, que mata o hospedeiro.
Li o romance inteiro em uma hora. Leitura
deliciosa, divertidíssima, empolgante, reveladora, desmistificante. Até
aplaudi. Nunca um livro me arrebatou tanto. Fiquei com a alma lavada. E é uma
estória de HORROR. Com elementos do Surrealismo e do Sobrenatural e mortes em
massa. Tudo narrado em tom sóbrio e seríssimo, em capítulos curtos e velozes,
sem enrolação e encerrando com uma explicação didática e arrepiante.
Eis a realidade nordestina esfregada na cara do
leitor, tratando esse tema como ele merece, sem nenhuma concessão ou piedade,
reduzindo todos os mitos a pó. Ninguém escapa impune. Nem o santo Padre Cícero.
Afinal, o autor presta um serviço de
cidadania ao trazer o leitor á razão. Mesmo que seja a tapas e pontapés.
É o tratamento de choque humanístico: se
quisermos ser uma nação de cidadãos civilizados,
o primeiro passo é rejeitar a barbárie desumana que
é o Sertão nordestino.
E isso começa se rejeitando a mitificação
dessa realidade dantesca, há um século e meio sendo glamourizada e enaltecida
pelos romances da Literatura Regionalista.
Corajoso. Radical. Iconoclasta.
Extremo. Punk. Assombroso.
Título, Imagens e Texto: Ernesto Ribeiro, 15-08-2014
Definitivamente:
ResponderExcluirO Livro Mais Devastador Já Escrito.