sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A mitologia do sertão virou farinha

moída por Ernesto Ribeiro 
um cabra marcado para morrer

Coincidência macabra: no dia seguinte á morte do Último Grande Baluarte da Literatura Regionalista Sertaneja, eis que cai em minhas mãos durante uma faxina...

O Livro Mais Destrutivo Já Escrito (e Putamente Bem Escrito) a ponto de ser um dos Melhores Livros de Todos os Tempos:
POLÍGONO DAS SECAS, de Diogo Mainardi, o Anti-Ariano Suassuna


Eis a proposta do livro:

MATAR a Literatura Regionalista Sertaneja. DESTRUIR toda a mitologia do sertão. DESCONSTRUIR todos os clichês arraigados em todos os romances regionalistas e na literatura de cordel, que mitificam figuras repugnantes e elementos que representam tudo o que o Brasil em particular e o Terceiro Mundo em geral têm de PIOR:

a cultura de barbárie, o obscurantismo medieval, o fanatismo religioso, as crendices estúpidas, a exploração do desespero de vidas sem futuro pelo charlatanismo mais vigarista; o atraso em todos os níveis da existência humana, a ignorância imperante, a miséria mais extrema, as epidemias de inúmeras doenças contagiosas, a fome atrofiando os cérebros e gerando crianças retardadas; o sofrimento cotidiano dos mais indefesos, a rotina de humilhações, estupros, assassinatos e necrofilia; a semi-escravidão aceita como vontade divina; a paisagem destruída com o meio ambiente devastado; a indústria da seca, os políticos comprando votos com verbas roubadas do povo, a corrupção absoluta, a criminalidade institucionalizada, a ausência de lei, de progresso e de justiça, os piores criminosos impunes se perpetuando no poder; a insanidade endêmica, a psicose coletiva, a violência generalizada, a desumanidade geral, o horror perpétuo, o autoritarismo dos coronéis latifundiários e o terror dos cangaceiros como a mais aceita expressão de poder.  

Enfim: o objetivo do autor é mostrar como o Sertão nordestino é o INFERNO mais abominável possível, fundamentado por uma cultura odiosa, imoral e estupidificante. ARRASAR todo o culto aos valores obscurantistas do povo sertanejo e da Literatura Regionalista, mostrando que não valem nada.

E ele consegue. Diogo Mainardi é o autor perfeito, tanto em estilo e linguagem como em erudição e humor. Mainardi usa todos os mesmos elementos e arquétipos que compõem o cânone do romance sertanejo e os volta contra si mesmos, destruindo a literatura regionalista por dentro. Sua narrativa é um Alien, que mata o hospedeiro.

Li o romance inteiro em uma hora. Leitura deliciosa, divertidíssima, empolgante, reveladora, desmistificante. Até aplaudi. Nunca um livro me arrebatou tanto. Fiquei com a alma lavada. E é uma estória de HORROR. Com elementos do Surrealismo e do Sobrenatural e mortes em massa. Tudo narrado em tom sóbrio e seríssimo, em capítulos curtos e velozes, sem enrolação e encerrando com uma explicação didática e arrepiante.

Eis a realidade nordestina esfregada na cara do leitor, tratando esse tema como ele merece, sem nenhuma concessão ou piedade, reduzindo todos os mitos a pó. Ninguém escapa impune. Nem o santo Padre Cícero.
Afinal, o autor presta um serviço de cidadania ao trazer o leitor á razão. Mesmo que seja a tapas e pontapés.

É o tratamento de choque humanístico: se quisermos ser uma nação de cidadãos civilizados,
o primeiro passo é rejeitar a barbárie desumana que é o Sertão nordestino.

E isso começa se rejeitando a mitificação dessa realidade dantesca, há um século e meio sendo glamourizada e enaltecida pelos romances da Literatura Regionalista.

Corajoso.  Radical.  Iconoclasta.  Extremo.  Punk.  Assombroso.

POLÍGONO DAS SECAS, de Diogo Mainardi, o Johnny Rotten das Letras


Título, Imagens e Texto: Ernesto Ribeiro, 15-08-2014

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