Maria João Marques
Liberdade é assim: os opositores
políticos do Bloco podem ser insultados, mas, se as meninas frágeis do BE são
gozadas, há que usar meios governamentais e judiciais para punir quem teve a
ousadia.
Ainda bem que vivemos na livre
Europa, carregadinhos de liberdades individuais suportadas pelo capítulo dos
direitos, liberdades e garantias da nossa constituição e das suas primas
europeias. Um conjunto de liberdades tão arreigadas que resistem ainda e sempre
ao invasor, não é?
Pois: não é. A liberdade de
expressão, por exemplo, anda pelo menos engripada. Na versão de gripe
masculina, em que a falta de estrogénio leva os valorosos membros do clube
masculino, no mínimo, à experiência de morte clínica e de atracão pela famosa
luz branca. Vejamos exemplos.
Um veio de Inglaterra, terra
de gente temporariamente desorientada com o Brexit, onde um pobre homem foi
preso – mesmo: polícia, grades, tudo o que a experiência dá direito – por tuitar que pediu satisfações (tanto quanto se sabe, pacificamente) a uma mulher muçulmana, que encontrou nas ruas britânicas, pelos atentados de Bruxelas. Perante isto, houve quem se portasse com juízo: a
senhora muçulmana mandou o pobre homem passear e o twitter ridicularizou o
tuite e o autor. Mas a justiça de sua majestade – aquela que preferiu ignorar
durante anos que incontáveis raparigas eram sexualmente abusadas por um grupo
de paquistaneses a afrontar os ditos rebentos do antigo Raj – esteve felizmente
à altura do desafio colocado por tão virulento tuite. O autor foi preso e
acusado de incitar ao ódio racial nas redes sociais.
Presumo, com toda a boa-fé,
que não vai haver dualidade de critérios no que toca à liberdade de expressão
de jovenzinhos excitáveis muçulmanos que morem na Grã-Bretanha quando se
regozijarem por atentados ou defenderem que uma mulher que não se tape e que se
maquilhe merece sopapos ou o que for necessário para defender a ‘honra’ da
família assim tão ofendida. Dada a gravidade relativa dos vários incitamentos,
fico a aguardar pelo menos espancamentos públicos para estes últimos casos.
Já em Espanha as luminárias do
Podemos exigem o fim das procissões da semana santa, que regridem a
sociedade e ofendem (havia lá de faltar) os muçulmanos (que não têm culpa
nenhuma do Podemos, diga-se). Donde: para a agremiação de lunáticos financiados
pela Venezuela, nas ruas espanholas os gays podem (e bem, digo eu) expressar o
seu orgulho, as mulheres podem (outra vez bem) expressar o repúdio pela
violência doméstica, mas os católicos não podem expressar nada, que fiquem em
casa a aprender a dar a outra face.
Outro exemplo é caseiro, com
as deputadas do BE a pactuarem com a Comissão de Cidadania e Igualdade de
Género na queixa que fez ao DIAP do Porto por Pedro Arroja ter chamado‘esganiçadas’ às políticas do BE, desconfiando-se de um ato ignóbil de
‘discriminação sexual’.
Temos, então, um instituto
governamental – a CCIG – a gastar o dinheiro dos contribuintes patrulhando os
comentadores televisivos e apresentando queixas a propósito de comentários
(serem imbecis ou não é aqui indiferente) que escarneçam as senhoras que mandam
num dos partidos que apoiam o atual governo. Se isto não é abuso de meios
governamentais para proteção dos amigos políticos, não sei o que é.
E temos as senhoras do BE
alegremente a apoiarem este abuso da CCIG e a calarem uma voz crítica. É certo
que o BE nunca se apoquentou com o domínio exercido por Sócrates na comunicação
social. Mas quando um cidadão foi condenado por ter efetivamente insultado o
Presidente da República Cavaco Silva, o site do BE esquerda.net noticiou a condenação escandalizado pelo evidente excesso. Percebe-se: os opositores políticos do BE podem ser
insultados, mas, se as meninas frágeis do BE são gozadas, há que usar meios
governamentais e judiciais para punir quem teve a ousadia.
Se as senhoras do BE são
esganiçadas ou não, cada um decide. É matéria de consciência e de gosto. E o
comentador cobriu-se de ridículo ao supor que é uma bitola política relevante
para alguém (com neurónios) uma mulher ser ou não apelativa para uma relação
afetiva ou sexual com Pedro Arroja. Mas sei que as meninas frágeis do Bloco são
umas tiranetes que usam os recursos públicos para perseguir vozes politicamente
críticas. E isso é pior que ser esganiçada.
Bom, se calhar sou injusta
para as meninas do BE. Afinal é bem possível que estejam a exercer a
autocensura e a contenção da liberdade de expressão própria que perseguem nos
que as criticam. Não as vislumbrei gargalhando com a ridícula cerimónia a que a
restituição dos feriados teve direito, como se uma libertação de séculos de
obscurantismo se tratasse, e que desconfio ter comovido com lágrimas grossas e
grandiloquentes o magnífico PM. E, de facto, também não dei por exigências
tonitruantes ao governo PS e ao ministro Santos Silva – que afirma confiar na
justiça angolana – à volta da condenação de Luaty Beirão e dos restantes
ativistas por ‘atos de rebelião’. É comparar o tom reivindicativo para com o
governo PSD-CDS, mais a sua reação ‘vergonhosa’, da petição subscrita por Catarina Martins com o da notícia da condenação no esquerda.net.
Há alguma coerência. Em boa
verdade o BE não pode apoiar um governo cujo primeiro-ministro age como agente
de negócios de Isabel dos Santos junto da banca portuguesa, preferindo o
dinheiro angolano ao espanhol, e depois vir pedir que esse governo reclame, sem ser em falsete, das falhas do regime do papá da parceira de negócios.
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